Neste sábado (23), um seminário organizado pelo Fórum Popular de Saúde, em parceria com o Coletivo de Terapeutas de Práticas Integrativas, reuniu cerca de 50 pessoas em Feira de Santana para debater a implementação das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Pics) no município. O encontro, realizado no Centro Social Urbano, contou com terapeutas, professores, representantes do Conselho Estadual de Saúde e demais interessados no tema. O objetivo principal foi discutir a criação de políticas públicas que integrem as terapias ao Sistema Único de Saúde (Sus).
“A gente precisa lutar para que isso seja inserido para a população, mas também pensar na saúde dos trabalhadores. As Pics realmente faz uma diferença para os trabalhadores, que a gente sabe que têm adoecido muito. Durante a pandemia, a grande maioria dos trabalhadores adoeceram, e as Pics fazem uma diferença sem o uso das medicações, com essas práticas que realmente fazem com que as pessoas se acalmem, não usem a medicação. Eu mesma tenho enxaqueca e já utilizei a auriculoterapia como um tratamento, e isso fez uma diferença enorme na minha vida”, disse a enfermeira Dart Clair.
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Ao Acorda Cidade, a terapeuta holística e psicóloga Catiane Costa defendeu a relevância das terapias integrativas para a saúde da população e destacou a importância de reconhecer a atividade como profissão.
“A terapia holística, integrada com qualquer profissão que você tenha, é válida. Se você quiser ser somente terapeuta, tem como viver disso também. É muita mística achar que não se consegue viver de terapias ou que isso deve ser sempre caridade. Não tem como viver de caridade, porque as coisas precisam ser pagas”, afirmou.
Catiane também destacou que, enquanto políticas públicas e concursos para terapeutas não se concretizam, é fundamental que os profissionais façam sua parte para disseminar e valorizar as práticas integrativas. Ela citou a contribuição das terapias no tratamento de doenças, especialmente no equilíbrio entre corpo físico, emocional e espiritual.
“O Reiki, por exemplo, ajuda em processos pós e pré-operatórios. Ele acalma a alma, e se a alma está calma, o corpo físico responde melhor, você respira melhor, você consegue ver que existem outras possibilidades na sua vida. Nós somos corpo, mente e espírito, e não tem como mais estar trabalhando essas coisas separadas”, explicou.
Implementação
Adroaldo Santos, coordenador do Fórum Popular de Saúde, explicou que a discussão está em fase inicial no município, mas que avanços têm ocorrido.
“O Fórum e o coletivo de terapeutas vêm se reunindo para discutir a implementação da política municipal de práticas integrativas, conforme preconiza o Sus. O Sistema Único de Saúde já possui uma política nacional com cerca de 29 modalidades de práticas, como Reiki, cromoterapia, reflexologia e tantas outras”, disse.
Ele apontou a necessidade de se discutir uma estrutura para que, de fato, a política pública possa chegar aos trabalhadores. Para isso, diversos setores da sociedade precisam dialogar para conseguir a implementação.
“Estrutura pressupõe concurso público, um financiamento próprio. Estrutura pressupõe que, a nível da atenção primária, onde tem a estratégia de saúde da família, as unidades de saúde, média e alta complexidade, essas práticas estejam disponíveis para o conjunto da população usuária, incluindo algumas instituições hospitalares de Feira de Santana.”
Práticas milenares
A professora Suzy Barboni, da Uefs, destacou que as Pics não devem competir com outras áreas da saúde, mas integrá-las.
“Nós não estamos competindo com médicos, psicólogos ou dentistas. O sistema que defendemos, a racionalidade médica, se baseia nas bioenergias, na escuta acolhedora, no contato humanizado e, sobretudo, na percepção de que nós não somos só corpo físico. Existem práticas integrativas, você bem sabe disso, que são milenares, como a Ayurveda. As próprias práticas africanas, as práticas de povos originário. A gente se perde se for contar quanto tempo têm. A colonização da América tem 12 mil anos, então a gente nem sabe quando os nossos ancestrais indígenas começaram com suas práticas”, explicou.
Suzy também criticou a falta de acesso às Pics por parte das populações de baixa renda, destacando a importância de trazer essas práticas para o setor público.
“Hoje, quem acessa as Pics são, majoritariamente, pessoas da classe média e alta. As Pics estão em espaços privados. Quem é que pode pagar 3 mil reais numa constelação familiar? Aqui na Bahia você ainda faz uma constelação por 600, 800. Quem é que pode, numa cidade onde a renda mensal per capita é de um salário mínimo? Precisamos tirar essas práticas dos espaços privados e ofertá-las para a população, mas com dignidade, com estruturas adequadas e profissionais capacitados”, defendeu.
O presidente do Conselho Estadual de Saúde, Marcos Gêmeos, reforçou que o principal obstáculo é a falta de vontade política para implementar as Pics.
“Já temos leis estaduais e portarias nacionais, mas falta muita vontade política e também vontade de acreditar que as práticas integrativas podem integrar não só a assistência à saúde da população, mas discutir muito mais o que é saúde. Promover a saúde da população, saindo desse modelo que só cuida da doença, que é mais hospitalocêntrico, é algo que de fato funciona. Está comprovado, tem ciência e é um ganho e também economia na saúde”, afirmou.
Segundo Marcos, algumas cidades baianas já estão se destacando na implementação das terapias integrativas, como Amargosa, Ichú, Rio de Contas, entre outras.
“Acredito que vai ser a tendência. Não dá para gastar só com a doença. A gente precisa de fato promover saúde. A sociedade pós-pandemia tem sofrido com ansiedade, depressão, doenças ligadas à saúde mental, e as práticas integrativas podem ser a grande saída para promover a saúde dessa população”, destacou.
Países como China, Japão e Índia são exemplos onde as terapias integrativas já são amplamente utilizadas, sem competir com a medicina tradicional, como explicou o presidente.
“Se você for olhar para a China e o Japão, que são potências mundiais, o modelo deles é muito centrado nessas práticas. Lá, essas práticas são utilizadas e não concorrem com o outro modelo. Pelo contrário, são complementares. Acredito que é essa ganância humana, onde as pessoas ainda insistem em ganhar com o sofrimento, com a doença e com a morte das pessoas”, afirmou.
Marcos também destacou a importância de promover a educação e o acesso às terapias integrativas para que as pessoas reconheçam seu valor. Para ele, se a população não tem acesso a determinadas práticas, o desconhecimento faz com que ela não acredite.
“Você não vai gostar daquilo que você não conhece. Então, é muito necessário, além de fazer educação permanente, promover o acesso para que a população veja o quanto é proveitoso e o quanto é rico esse cuidado”, acrescentou.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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