A Câmara Municipal de Feira de Santana realizou, na noite desta quinta-feira (21), uma sessão solene em celebração ao Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, agora oficialmente reconhecido como feriado nacional. Durante a cerimônia, a ativista cultural Lourdes Santana foi homenageada com duas honrarias. Lourdes é presidente do Núcleo Cultural Educacional e Social Quilombola – Odungê e uma das principais lideranças do movimento negro na cidade.
Ao Acorda Cidade, Lourdes destacou sua felicidade pelo reconhecido. Contudo, ela lamentou o fato de que muitas pessoas ainda sofrem com o racismo em Feira de Santana e em todo o mundo. A feirense iniciou nos movimentos sociais aos 16 anos, ações que se ampliaram ao longo de sua vida, especialmente nas áreas de cultura e educação.
A iniciativa foi do vereador José Carneiro (UB), que destacou a importância da trajetória de Lourdes.
“Lourdes é um símbolo da luta, da resistência contra o racismo em Feira de Santana. Ela tem demonstrado liderança nessa constante busca por igualdade racial e contra o preconceito. Entendo esta homenagem como um reconhecimento justo pela sua história e conduta cotidiana,” afirmou o vereador.
Palestras e participações especiais
A sessão, que também homenageou o escravo Lucas da Feira, contou com a presença de amigos, familiares de Lourdes, autoridades, e figuras importantes como a professora Sandra Nívea e o cantor e compositor Tonho Matéria, que ministraram palestras na noite.
Em entrevista ao Acorda Cidade, Tonho Matéria refletiu sobre a luta e a importância do Dia da Consciência Negra.
“O feriado nacional veio dessa luta do movimento negro unificado – capoeira, terreiros de candomblé, quilombolas, blocos afro, samba, e matrizes indígenas e africanas. Essas forças fizeram o Estado brasileiro reconhecer que a luta de Zumbi foi por igualdade, contra discriminação e escravidão. Rememorar Zumbi é lembrar que ele foi perseguido e morto em 1695 por bandeirantes, mas permanece vivo no coração da gente até hoje. Nossos heróis não morreram de overdose, morreram lutando bravamente. Esta data não é apenas sobre Zumbi, mas também sobre grandes guerreiros como Mário Gusmão, que educou muitos jovens, incluindo a mim, através da música no Olodum.”
O ex-vereador Marialvo Barreto também participou da sessão solene na Câmara Municipal. Ele disse ao Acorda Cidade que Lourdes Santana é referência quando se fala em movimento negro em Feira de Santana.
“Lourdes Santana tem essa capacidade de lutar para abrir espaços. Quando falamos em movimento negro em Feira de Santana, é indispensável falar de Lourdes Santana. É uma pessoa que batalha muito pelos quilombolas e é referência no movimento negro. Durante os oito anos em que fui vereador nesta Casa, vi Lourdes correndo atrás das pautas do movimento negro. Isso é muito importante, porque ela consegue abrir espaço em um ambiente que, historicamente, é muito fechado”, afirmou Barreto.
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Feriado nacional: avanço na luta contra o racismo
Sobre o reconhecimento do Dia da Consciência Negra como feriado nacional, oficializado em 2024, Marialvo destacou a relevância da medida. “Precisávamos de uma data comemorativa nacional para ampliar os espaços de luta contra o racismo, que ainda é muito forte na nossa sociedade. Essa data abre espaço para discussões e contribui para diminuir a força que o racismo ainda exerce.”
Homenagem e dívida histórica com Lucas da Feira
A sessão solene também homenageou Lucas da Feira, figura histórica e controversa de Feira de Santana. Marialvo lamentou que, no passado, um projeto de sua autoria para nomear uma rua na Pedra do Descanso em homenagem a Lucas da Feira foi rejeitado pela Câmara:
“A Câmara de Feira de Santana está devendo uma homenagem a Lucas da Feira. Quando fui vereador, a comunidade da Pedra do Descanso me pediu para apresentar um projeto para dar o nome de Lucas a uma rua, mas esta Casa negou. Hoje homenageamos Lucas, mas é importante lembrar que nem sempre o reconhecimento acontece facilmente, especialmente quando envolve questões raciais.”
Marialvo enfatizou a relevância de Lucas da Feira na história local. “Não estamos aqui para julgar se Lucas foi herói ou ladrão. Ele foi um escravo que reagiu à escravidão, fugiu e acabou no mundo do crime. Que outra opção ele teria naquele contexto? Lucas já foi julgado, enforcado, esquartejado. O que precisamos reconhecer é que ele faz parte da história de Feira de Santana. Talvez seja o feirense mais conhecido. Ele conquistou sua liberdade por caminhos difíceis e lutou pelos negros. Lucas da Feira é uma memória que não pode ser apagada.”
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.
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