“Estamos na Avenida Vasco da Gama esperando o carro-forte/ Igual a cobra para dar o bote / O blindado vai passar 11h30 da manhã/ Nossas armas é fuzil metralhadora alemã/ Quando o carro apontou nós fechamos a pista/ O primeiro detonado foi o motorista”. Nem precisa continuar os versos. O trecho não deixa dúvida de que Júnior do Gueto, autor da letra, tem o dom para a música. Para a música e para o crime. O rapper e cantor de pagode se tornou o maior traficante da atualidade em Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador.
A
batida relata um
assalto a um
carro-forte na Avenida Vasco da Gama e
foi postada em forma de
clipe no
Youtube com
título “5
Lokos,
fuga em Salvador”. “Um
grande talento para o mal.
Ele viu no
tráfico a chance de
financiar a
carreira de cantor,
mas acabou declinando para a
criminalidade”,
declarou o
delegado Adailton Adan, titular
da 22ª
Delegacia (
Simões Filho),
sobre Júlio Bonfim Santana de Jesus, 32
anos,
nome de
batismo de
Júnior do
Gueto.
Segundo o delegado, Júnior faz apologia ao crime. “A partir do momento em que os vídeos são publicados na internet, ele passa a ser um formador de opinião”, declara o delegado.
Mas exaltar e incentivar atividades criminosas estão longe de ser seus únicos delitos. Júnior do Gueto responde processo por porte ilegal de armas e é acusado de cometer vários homicídios, latrocínios, além de comandar o tráfico nos dois maiores bairros periféricos de Simões Filho – Cristo Rei e Renatão. Em fevereiro do ano passado, ele foi capturado em cumprimento a um mandado de prisão, mas ficou no xadrez até o dia 12 deste mês, quando oito presos fugiram da 22ª DP, após serrar as grades.
Ameaças
Segundo a polícia, Júnior do Gueto conseguiu se eleger presidente da associação de moradores do bairro de Cristo Rei, mantendo sob ameaça constante os moradores locais. As investigações apontaram que, em julho do ano passado, a quadrilha comandada por ele invadiu um sítio em Simões Filho, subtraindo bebidas, televisores e uma motocicleta, pertencente a João Maleck, assassinado durante o assalto.
Júnior do Gueto também é suspeito de roubos a estabelecimentos comerciais. É atribuída também a sua quadrilha a morte de Carlos André Viana Júnior, morto a tiros por se recusar a entregar uma corrente de prata. Ele é suspeito ainda de ordenar um incêndio em uma residência que vitimou duas crianças, uma de 4 e outra de 5 anos.
Ederaldo das Virgens, o Deraldo, e Márcio dos Santos da Paz, o Marsuca, comparsas de Júnior do Gueto, teriam sido executados pela quadrilha a mando do traficante como queima de arquivo. “Ele também é suspeito de mandar matar o radialista Laércio de Souza. A vítima estava fazendo denúncias do tráfico no bairro de Renatão”, declara o delegado. Laércio morreu atingido por tiros em janeiro de 2012. A reportagem é do Correio.