O Brasil ocupa uma posição alarmante no cenário mundial: é o país com o maior número de casos de ansiedade, superando a marca de 18 milhões de pessoas afetadas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Esse dado reflete a urgência de reconhecer e lidar com sintomas de ansiedade, incentivando os brasileiros a buscarem ajuda profissional antes que os sintomas comprometam suas vidas. Além disso, o Brasil também ocupa o quarto lugar entre os países mais estressados do mundo, o que aumenta a pressão sobre a saúde mental da população.
📲 😎SEJA VIP: Siga o canal do Acorda Cidade no WhatsApp e receba as principais notícias do dia.
A ansiedade é um transtorno global, sendo uma das condições mais prevalentes da atualidade. Estima-se que 284 milhões de pessoas em todo o mundo sofram com essa condição, segundo a OMS, tornando-a um dos maiores desafios de saúde mental deste século.
A ansiedade pode surgir como uma resposta normal a estímulos cotidianos, mas torna-se patológica quando interfere nas atividades diárias, caracterizando o transtorno de ansiedade.
Em entrevista ao Programa Acorda Cidade, a psiquiatra Luísa Lessa, com atuação em Psiquiatria Infantil, Juvenil e Adulto, deu explicações importantes sobre o transtorno. Em sua análise, ela descreve a ansiedade como uma sensação natural e evolutiva, relacionada ao estado de alerta, que está muito associada ao “sofrer por antecipação”.
“Ansiedade é uma sensação de alerta, uma ameaça interna e desconhecida que é diferente do medo, que é uma reação a uma ameaça externa e muitas vezes conhecida,” explica.
A psiquiatra também diferenciou entre ansiedade, medo e angústia, ajudando a desmistificar a confusão que muitas pessoas fazem sobre esses sentimentos. Segundo ela, o medo é a sensação de alerta diante de uma ameaça externa, como encontrar uma cobra na floresta. Já a angústia é uma sensação de aperto no peito e é muitas vezes confundida com ansiedade. As três sensações são normais, mas se tornam patológicas quando interferem na vida cotidiana.
“Precisamos entender que as três sensações são normais, desde que elas não sejam patológicas, ou seja, que elas não causem em você uma disfunção, uma alteração da sua capacidade social, da sua adaptabilidade ao trabalho, à vida social, ao estudo. E aí que vem o transtorno de ansiedade,” explicou.
Segundo a doutora, a cronicidade é um critério importante para diagnosticar o transtorno. “O transtorno de ansiedade ocorre quando a pessoa tem esse estado de alerta na maior parte do dia, por mais de seis meses.” De acordo a psiquiatra, o diagnóstico requer um entendimento profundo das reações do paciente, que, muitas vezes, precisa apenas de terapia para aprender a lidar com os gatilhos e controlar as respostas emocionais.
Sintomas e causas da ansiedade
Dra. Luísa aponta que os sintomas do transtorno de ansiedade podem ser divididos em físicos, comportamentais e cognitivos. Entre os sintomas físicos estão palpitações, sudorese, insônia, queda de cabelo e agitação psicomotora. No aspecto comportamental, a ansiedade pode causar irritabilidade e impulsividade, enquanto, no âmbito cognitivo, há desatenção e desmemória.
“A ansiedade, por si só, ela causa isso. Um déficit da capacidade de se concentrar, porque a pessoa fica hipervigilante. Ela fica o tempo inteiro atenta a tudo que acontece ao redor dela. Então, a vigilância e a atenção fazem parte do contexto de atenção. Então, se você está hipervigilante, olhando tudo ao seu redor, você não vai conseguir se manter concentrado no que você precisa,” explicou.
Ela ainda mencionou casos onde a ansiedade leva a sintomas severos, como ataques de pânico. As pessoas que sofrem de ansiedade também podem ter ataques de pânico, que são episódios mais intensos e paralisantes. É importante entender que ataques de pânico e ansiedade são coisas distintas.
Sobre as causas, Dra. Luísa destacou a complexidade da questão, indicando que fatores como traumas na infância, estilo de criação parental, trabalho excessivo, violência doméstica, pobreza e genética influenciam no desenvolvimento da ansiedade, principalmente nas grandes cidades, onde os tipos de violência e a falta de apoio são mais exacerbados.
Enfrentamento e tratamento
Ainda em entrevista ao Acorda Cidade, a Dra. Luísa compartilhou orientações para lidar com a ansiedade sem recorrer imediatamente a medicamentos. Segundo ela, práticas de autocontrole e treinamento mental, como os realizados na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), podem ser extremamente eficazes.
“Porque é o saber identificar os gatilhos dali para você conseguir controlar a sua resposta emocional. Porque eu falo muito assim com os pacientes, a gente é capaz, sim, de controlar a nossa mente com treinamento. É isso, a terapia com o TCC trabalha em cima disso. Treinar, racionalizar uma emoção. Racionalizar o sentimento,” pontuou.
Segundo a psiquiatra, quando diagnosticada precocemente, a ansiedade pode ser controlada sem a necessidade de medicamentos. No entanto, destaca um desafio: “A aceitação e a busca por tratamento muitas vezes demoram cerca de uma década. Por quê? Porque as pessoas acham que ‘isso é normal, eu sou assim mesmo’ ou por causa do preconceito. Por mais que isso tenha melhorado, ainda existe um tabu em torno da saúde mental. Muitos ainda associam o psiquiatra ou tratamentos psiquiátricos a ideias preconceituosas, como se fossem apenas para ‘doidos’, uma palavra em tom pejorativo,” explica a doutora.
Esse medo do julgamento social e até profissional ainda impede muitas pessoas de buscar ajuda, especialmente em ambientes de trabalho. Ela comenta que algumas empresas investem em saúde mental, mas a realidade, segundo ela, é que muitos funcionários enfrentam receio de perder posições de confiança ao se afastarem por questões mentais.
Questionada sobre os pacientes que recorrem a álcool ou drogas como fuga da ansiedade, Dra. Luísa revela que é uma situação frequente.
“A ansiedade, a impossibilidade, a irritabilidade, as sensações mentais que são mais frequentes. Um estudo feito em São Paulo mostrou que o primeiro lugar está em sensações mentais inespecíficas, com 44%, o segundo lugar com 28,8% ansiedade. E é fato que o transtorno de ansiedade, ele está muitas vezes comórbido com outros transtornos mentais clínicos como epilepsia, cefaleia, enxaqueca, asma, DPOC e transtornos mentais, fobias específicas, sociais, agorafobia, gastrofobia, todas as fobias em si, transtorno depressivo e transtornos por substâncias, porque a substância é a possibilidade, o paciente procurar ‘outras formas’ de como compensar aquilo”.
A doutora ainda falou sobre o uso de medicações, a influência das redes sociais e da vida “perfeita” dos influenciadores. Além disso, ressaltou a necessidade de se discutir saúde mental desde a infância, principalmente com o aumento de tecnologias que causam o distanciamento social entre as pessoas. Outros assuntos relacionados, como a saúde mental no trabalho, também foram discutidos.
Vale ressaltar: você não está sozinha (o), não é frescura! Procure ajuda, disque 188 e converse com alguém.
Para acompanhar a entrevista completa, ouça agora:
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram