Na manhã desta segunda-feira (4), pacientes que aguardavam na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Estadual de Feira de Santana buscaram a reportagem do Acorda Cidade, para reclamarem sobre a demora no atendimento.
Rodinei Cerqueira Ferreira, juntamente com a esposa, Maria Edileuza Freitas de Oliveira, informaram que estão acompanhando o filho, Gabriel Oliveira Ferreira, 16 anos, para um atendimento clínico.
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Segundo Rodinei, a espera pela consulta médica começou na última sexta-feira (1º), quando chegou à UPA às 3h da manhã.
“Estou desde sexta-feira aqui, à procura de atendimento para passar pelo clínico e ser avaliado pelo cirurgião. Já procurei todas as policlínicas e especialistas, mas só tem aqui. Porém, desde sexta-feira, que nem pelo clínico eu fui atendido ainda. Meu filho precisa ser avaliado pelo cirurgião para ver se necessita fazer uma cirurgia ou não. Mas, segundo eles, na sexta-feira, a cirurgiã estava aqui, mas não atendeu, porque o clínico não podia atender meu filho. Vim no sábado, não atendeu, vim ontem, ele estava, mas não atendeu. Estou aqui hoje, nessa mesma penitência, até agora nada”, disse.
Gabriel sofre com dores intensas nos testículos e precisa de uma avaliação cirúrgica, mas até o momento, não conseguiu atendimento. “Nem pelo clínico eu fui atendido ainda”, desabafou Rodinei, explicando que os profissionais de saúde presentes se recusaram a atendê-los, alegando que apenas casos de emergência estão sendo priorizados.
A busca por unidades de saúde tornou-se uma rotina frustrante. “Já fui ao Hospital Geral Clériston do Andrade, à Policlínica do Parque Ipê e nada”, afirmou. Rodinei ainda enfatizou a dificuldade de estar sem trabalhar, já que exerce a profissão de segurança e teme pela saúde do filho, que aguarda na sala de espera da unidade. “Eu saio daqui quando meu filho for atendido. Não posso permitir que algo pior aconteça com ele”, afirmou.
Maria Edileuza, mãe de Gabriel, também desabafou sobre a situação: “Precisamos de saúde pública, mas não temos. Eu só saio daqui quando meu filho for atendido, porque ele não pode ficar sem ser atendido. Se for um caso de cirurgia, e aí? E acontecer o pior com meu filho? Eu não posso permitir isso”, declarou.
Segundo a família, eles já passaram pela UPA da Queimadinha, do Parque Ipê, mas foram direcionados para a UPA estadual.
Os relatos não se restringiram apenas à família de Rodinei. Marcelo Falcão, chefe de cozinha, também procurou a UPA com um quadro crítico. Após um corte no dedo, contraiu uma infecção por conta de uma bactéria que comprometeu as veias do braço direito, o que o levou a 13 dias de internação. Ao retornar à UPA devido a fortes dores, foi informado da falta de médico.
“Cheguei aqui agora na UPA porque estou sentindo muita dor, inclusive, estou aqui dopado de medicamento para conseguir me locomover, acabei de chegar e não tem médico disponível”, relatou Marcelo, que foi orientado a procurar outras unidades, como Feira X, Mangabeira e Queimadinha, para conseguir ser regulado. “Quer dizer, estou com um problema que pode ser letal e a gente vem em busca de atendimento, chega aqui e não consegue. É complicado”, desabafou.
Ana Rita dos Santos também procurou a reportagem do Acorda Cidade para relatar o sofrimento que ela e seu marido, Valtemir da Conceição, de 40 anos, têm passado na tentativa de conseguir atendimento.
Ana Rita, que chegou à UPA no domingo (3) às 11h da manhã, afirmou que o marido, que faz hemodiálise e sofre de problemas renais graves, vem apresentando fortes dores nas pernas e nas costas; mesmo assim, está com dificuldade para ser atendido.
“Eles falam que quem faz hemodiálise é atendido no Clériston Andrade, ninguém sabe o que ele está sentindo nas pernas, ninguém sabe o que ele está sentindo nas costas e foi uns três dias para poder [atender], quando foi ontem, que ainda um senhor reclamou que veio atender”, relatou.
Segundo ela, após muita insistência, o esposo foi atendido, mas as dores não cessaram e ele permanece em uma maca sem receber diagnóstico ou solução para o problema. “Ele tomou medicação, mas a dor continua e ninguém fala o que é”, acrescentou.
A esposa também explicou que, além da luta pelo atendimento, enfrenta problemas para conseguir medicamentos para o tratamento do marido.
Ana Rita ainda criticou a falta de estrutura e apoio tanto por parte do estado quanto do município. “A gente paga nossos impostos, falam tão bem dos médicos e da estrutura do estado, mas quando a gente precisa, não sabe nem o que ele tem”, completou.
Em resposta às denúncias de pacientes e familiares sobre a falta de atendimento e demora nos processos na UPA, situada ao lado do Hospital Geral Clériston Andrade, o superintendente de Atenção Integral à Saúde do Estado, Karlos Figueiredo, fez alguns esclarecimentos ao Acorda Cidade.
Em entrevista, Figueiredo desmentiu as reclamações de falta de médicos, afirmando que todos os profissionais, tanto médicos quanto de outras áreas, estavam presentes e cumprindo seus horários.
“Eu estou aqui na UPA, aproveitei que estava de saída para Salvador e passei para verificar a unidade. Nós temos acompanhado de perto, mais de perto ainda nesses dias, porque estamos em um processo de transição da organização social que fará a gestão nos próximos cinco anos. Saiu o resultado da licitação, e a nova organização social irá assumir este mês de novembro. Todo esse processo de transição gera um pouco de instabilidade e insegurança no meio da equipe profissional, mas estamos dialogando com eles. Semana passada, já sentei com a nova organização social, pois não podemos antecipar os trâmites burocráticos do certame. Acredito que essa semana já se inicie o processo de transição. Continuamos acompanhando de perto para tranquilizá-los e monitorando a questão do funcionamento, que é o mais importante para nós”.
Sobre o atendimento na manhã desta segunda-feira (4), ele também afirmou que segue normal na unidade.
“Hoje a nossa equipe aqui, às oito horas da manhã, está completamente preenchida, com todos os profissionais da área multiprofissional e médica. A nossa unidade está com um tempo de atendimento bom, ela não está tão cheia como tem ficado habitualmente”, destacou.
O superintendente também reconhece que, em dias específicos, como segundas, quartas e sextas-feiras, o fluxo de pacientes aumenta, mas afirma que grande parte dessa demanda ocorre porque a população não encontra assistência nas unidades de saúde do município, sendo orientada a procurar a UPA do estado.
“Infelizmente, o paciente desde sexta-feira aparentemente com problemas simples e circulando nas outras unidades e eles só pediam para procurar a UPA do estado. Em nenhum momento o orientavam de forma devida. Infelizmente a gente enfrenta esse cenário na saúde municipal de Feira de Santana. Mas a unidade que está aqui funcionando perfeitamente com todos os profissionais”, disse ao Acorda Cidade.
Sobre o caso específico de Gabriel Oliveira Ferreira, que aguardava uma avaliação médica desde sexta-feira, Figueiredo relatou que conversou pessoalmente com a família e garantiu o acompanhamento do caso.
“Já foi avaliado, o cirurgião já viu e já está aguardando para fazer exame, aparentemente um problema simples. De antemão, deixei meu telefone de contato, pedi ao pessoal que acompanhasse e me desse um retorno,” afirmou. O superintendente ainda destacou que casos considerados mais simples podem ser atendidos nos postos de saúde próximos, evitando a superlotação e reduzindo o desespero dos pacientes e familiares.
Ao Acorda Cidade, o prefeito de Feira de Santana, Colbert Martins, também falou sobre o atendimento nas UPAs do município, respondendo ao superintendente da UPA estadual.
“As nossas UPAs não fecham as portas, as UPAs do estado fecham e quando isso acontece, nós atendemos todas as pessoas. Temos 24 pessoas agora na regulação. Não é para atirar pedra que nós vamos resolver o assunto, isso precisa ser resolvido. 269 pessoas morreram por falta de regulação. É preciso que a regulação seja feita mais rápida e mais eficiente. Estamos com a UPA da Queimadinha superlotada agora, mas em nenhum momento a gente fecha a porta. Se não tem lugar, a gente cria um lugar para as pessoas ficarem. Temos alguns problemas de deficiência, todos têm, mas o importante é resolver o problema do paciente” rebateu o prefeito.
Recentemente o prefeito sentou à mesa com o governo do estado para discutir a segurança pública na cidade de Feira de Santana. Questionado sobre a possibilidade do diálogo acontecer na área da saúde, Colbert disse que são responsabilidades diferentes.
“É preciso que o estado regule os pacientes. Isso é uma questão médica que precisa ser definida. Eu não consigo fazer uma regulação. Eu não consigo transferir ninguém”, disse Colbert.
Colbert Martins destacou que a cidade conta com diversas policlínicas e UPAs que atendem tanto a população urbana quanto a zona rural.
“Os pacientes ficam e, quando há superlotação, as pessoas são referenciadas para outras unidades, seja da UPA do estado ou para as nossas unidades. Temos policlínicas em todas as áreas de Feira de Santana, inclusive na zona rural. A policlínica é diferente de uma UPA. Fazem a mesma coisa, mas não tem um centavo de recurso federal também. Quem banca é a prefeitura de Feira de Santana”, disse.
O prefeito ainda ressaltou a importância dessas estruturas para o atendimento de emergência na cidade. “Temos um grande atendimento de emergência e fazemos isso com muita tranquilidade, muito respeito. Aliás, se não tivesse policlínicas e nós temos as sete policlínicas e duas UPAs, aqui em Feira estaria um caos do ponto de vista da assistência médica de urgência”, acrescentou.
Sobre atrasos nos pagamentos dos médicos
Em resposta às alegações de que os médicos das UPAs estariam com os salários de setembro atrasados, o prefeito afirmou não ter conhecimento imediato do problema, mas se comprometeu a investigar.
“O interessante é que nessa hora que alguém liga exatamente para dizer isso. Outro dia teve gente atrasada no Clériston, na UPA estadual, duas vezes e ninguém ligou para poder falar. Eu vou saber o que é que está tendo agora, porque estamos pagando todo mundo”, declarou.
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade
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