Dia de Finados

Do altar aos cemitérios: Historiador explica mudanças nos rituais de despedida

O historiador lembra que no passado, principalmente no final do século 18 até o início do século 19, as pessoas eram enterradas nas igrejas.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Neste sábado, dia 2 de Novembro, é celebrado o Dia de Finados, uma data que tem como objetivo principal relembrar a memória dos entes queridos que já se foram. Neste dia, muitas pessoas vão até os cemitérios para visitar os túmulos, levar flores, acender velas e prestar homenagens em memória dos que se foram. Mas a data também carrega aspectos culturais e religiosos, inclusive relacionados ao surgimento dos cemitérios.

O professor e historiador Claudimir Matos lembra que no passado, principalmente no final do século 18 até o início do século 19, as pessoas eram enterradas nas igrejas por serem considerados locais sagrados. Além disso, simbolizava, ao mesmo tempo, uma posição de honra e de proximidade espiritual.

professor e historiador
Claudimir Matos | Foto: Arquivo Pessoal

“As igrejas eram locais onde eram enterradas pessoas de maior prestígio na sociedade, como benfeitores, pessoas da nobreza. Essas pessoas eram enterradas nas igrejas porque se acreditava que o último lugar de repouso, deveria ser perto dos santos, contudo, ser enterrado na igreja também era um sinônimo de status social, tanto que os podres, escravos, indigentes eram enterrados do lado de fora da igreja e não dentro delas. Eles eram enterrados em uma vala comum, muitas vezes sem caixão”.

De acordo com o historiador, essa tradição tinha raízes espirituais e sociais. Segundo contou, na idade média e no período colonial, acreditava-se que enterrar os mortos próximos ao altar ou dentro da igreja, poderia ajudar na salvação da alma, pois o local sagrado era visto como meio de proteção espiritual e até mesmo poderia servir como um caminho para o paraíso. Além disso, o sepultamento nas igrejas simbolizava status e poder.

“As famílias influentes e os religiosos viam essa prática como uma separação daqueles que tinham mais poder que os outros, e também um legado para a família, perpetuando sua memória num espaço religioso”.

Mudança da tradição

Essa prática começou a ser questionada a partir do século 19, principalmente por questão de saúde pública. De acordo com Claudimir Matos, após a idade média, com o surgimento das cidades, ocorre uma expansão comercial e as cidades passam a ter outra dinâmica, também com um crescimento populacional, o que levou a uma preocupação de que o acúmulo de corpos, tanto dentro das igrejas, mas também ao lado de fora, pudesse causar problemas sanitários.

“Na Europa passa a ter, principalmente após a revolução francesa, políticas sanitárias mais rígidas, que começaram a proibir os enterros nas igrejas, e leis que incentivavam o uso de cemitérios, principalmente afastados dos centros urbanos. Então essa prática começa a ser alterada. No Brasil essa mudança começa a ser implementada no início do século 19, com a criação dos primeiros cemitérios públicos. A partir de então os enterros nas igrejas começaram a se tornar cada vez mais raros, até serem completamente proibidos”, relatou.

O historiador destaca que as mudanças no Brasil foram inspiradas pelo modelo europeu e que a criação dos cemitérios foi parte de uma mudança cultural, assim como mudanças nas leis.

“Essa mudança tem um marco com a vinda da corte portuguesa para o Brasil, que em 1808 começa a implementar no país cemitérios públicos laicos. Essas práticas refletem uma transformação no modo como as sociedades ocidentais, incluindo o Brasil, lidam com a morte e o sepultado que até hoje é carregado de significados culturais e religiosos”, afirmou.

Com informações da jornalista Daniela Cardoso do Acorda Cidade

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