A morte de um jovem, em plena luz do dia, no centro de Feira de Santana, deixou as pessoas que estavam no local assustadas com a violência. Entretanto, o desespero maior foi de uma mãe que perdeu o filho para a violência.
Na tarde de terça-feira (29), Ezequiel Nascimento Carneiro, de 21 anos, teve seu corpo identificado por sua mãe em plena calçada da Avenida Getúlio Vargas. Imagens fortes que circularam nas redes sociais mostraram o desespero dela ao ver filho morto. Naquele momento de indescritível dor, ela foi amparada pela soldado PM Lorena Almeida de Brito, policial da 64ª Companhia Independente (CIPM).
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“Eu vi uma mãe. Eu, como mãe, como ser humano, como cidadã, vi uma mãe desesperada, em pânico, gritando, que queria a qualquer custo salvar o filho dela. Não posso julgar quem era o menino, não é da minha competência. Eu vi uma senhora, uma mãe, que naquele momento precisava de acolhimento, e foi isso que fiz”, declarou ao Acorda Cidade a policial que atua há nove anos como PM e é integrante da Base Comunitária da Rua Nova há três anos.
Comovida com a situação de desespero, a soldado Lorena contou que sua primeira reação foi também de emoção. Ela disse que chorou diante do sofrimento da mãe, um impacto emocional que todos que estavam presentes sentiram naquele momento.
“No primeiro momento, eu virei as costas e comecei a chorar. Não aguentei ver a situação dela naquele desespero. Quando consegui me acalmar, fui ao encontro dela para tentar confortá-la um pouquinho. Eu disse a ela que ela tinha feito o papel dela como mãe. Nenhuma mãe quer que o filho sucumba daquele jeito. A lei da vida é que os nossos filhos nos enterrem, não o contrário. Naquele momento, tentei confortar o coração dela, lembrando da importância dela na vida dele, o que ela ensinou a ele. Infelizmente, os jovens hoje não nos ouvem, ouvem mais o que vem de fora do que quem está dentro”.
Segundo Lorena, a mãe lamentava a decisão de ter incentivado o filho a ir trabalhar naquele dia, pois Ezequiel vendia limpadores de para-brisa para ajudar em casa.
“Ela tinha realmente dito a ele para ir trabalhar, para justamente tirar ele das amizadezinhas, e naquele momento ela se sentiu culpada por ter mandado ele trabalhar, porque, talvez, se ele estivesse em casa, não tivesse acontecido”.
A policial obteve autorização de seu superior para levar a mãe do jovem em casa, onde pediu que os vizinhos cuidassem dela.
“Eu não podia deixar aquela mulher, aquela mãe, aquele ser humano, sozinha na rua, perdida. Colocamos ela na viatura e a deixamos na porta de casa. Todo o caminho, ela chorava muito, se lamentava. Eu entreguei ela aos vizinhos e pedi que cuidassem dela, porque ela estava com a filha, e a filha também estava muito chorosa. Eram duas vítimas ali que perderam um ente querido”.
Essa não foi a primeira vez que a humanidade dessa profissional foi colocada à prova. A PM também recordou um caso recente, onde auxiliou uma vendedora que havia perdido todos os salgados que vendia após um incidente no Centro de Abastecimento.
“Na hora que a gente chega, eu vejo todo mundo preocupado em fazer algazarra, mas o pessoal estava muito pouco preocupado com a vítima, e naquele momento eu cheguei junto da vítima, acolhi, confortei um pouquinho para que ela se sentisse acolhida. Nosso trabalho é justamente servir e proteger. Se a gente não servir para fazer isso, o nosso trabalho é em vão”, afirmou a policial ao Acorda Cidade.
Para Lorena, gestos de humanidade e empatia deveriam ser a norma, independentemente da profissão.
“Peço a Deus todos os dias que Ele nunca tire a minha humanidade. Se for para ser policial e não ser humana, eu não quero ser. Eu quero ser policial, eu quero ser humana, eu quero ser empática. Eu quero olhar para o outro e sentir a dor que o outro está sentindo para que eu possa transformar um pouquinho a realidade onde estou. Se estou inserida na comunidade da Rua Nova, estou o tempo todo com essa comunidade, ajudando, tentando fazer com que as coisas na nossa comunidade melhorem. Então, não é a primeira vez, isso faz parte do meu cotidiano”.
PM Lorena também questionou a falta de reação das pessoas que estavam no momento e não buscaram acolher a mãe. Ela destacou o papel da Polícia Militar como uma instituição honrada e ressaltou que gestos como o dela são mais comuns entre seus colegas do que as pessoas imaginam.
“Eu fico feliz em saber, e não só eu, mas temos muita gente na nossa corporação que é humana, que é solidária. Existem outros casos isolados, mas não é o que define a PM. A Polícia Militar é uma instituição honrosa, honrada, bicentenária, pautada na legalidade. Então, nosso trabalho é sempre feito de acordo com a legalidade, e o gesto desse tipo, eu não digo que é só da Polícia Militar, mas deveria ser comum aos seres humanos, deveria ser comum a todo mundo, porque tinha muita gente lá e por que ninguém também fez? Por que ninguém abraçou aquela mãe? Por que ninguém acolheu aquela mãe? Hoje fui eu, mas poderia ser qualquer uma daquelas pessoas que estavam ali, um comerciante, um médico, um pastor, qualquer pessoa poderia ter um pouco mais de humanidade e acolher aquela mãe naquele momento que ela estava passando”, alertou.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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