O Dia do Sapateiro, celebrado nesta sexta-feira (25), traz uma mensagem de reflexão sobre o que é bom para si e para o outro. Entre pedidos de reforma e a paixão pelo trabalho, os sapateiros de Feira de Santana seguem firmes, renovando e consertando o que muitos considerariam descartável, mas que, em suas mãos, ganha vida nova.
O profissional, que também pode ser chamado de artesão, executa a arte de fabricar e renovar sapatos, uma das profissões mais antigas do mundo.
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Vale destacar que o sapateiro não trabalha apenas com sapatos. Ele é daqueles profissionais que aprendem a resolver problemas em diversos tipos de acessórios, como bolsas, sacolas, mochilas, e “quebra o galho” de muita gente.
Em Feira de Santana, a “Baixa dos Sapateiros”, local tradicional onde se encontram esses profissionais, está situada na Avenida Getúlio Vargas, próximo da prefeitura. Para celebrar a data, o Acorda Cidade acompanhou de perto as experiências de quatro profissionais que há anos prestam serviço ao povo feirense.
Representando as mulheres sapateiras, Dayane Santana, uma das pioneiras na profissão local, começou sua trajetória substituindo um colega na praça e já acumula 20 anos de experiência.
“Minha profissão de origem é costura, sou costureira. Então assim, eu vim aqui para a praça, já tem quase 20 anos, para substituir um outro sapateiro que estava saindo, que era costureiro também, então eu vim para substituir ele, acabou que nessa substituição, ao longo desses 20 anos eu aprendi a profissão que todos os demais sapateiros fazem e acabei ficando”.
Segundo Dayane, as dificuldades são grandes, especialmente com a infraestrutura da Baixa dos Sapateiros. Ela destacou que a localização sempre foi boa, no coração do centro da cidade, mas o espaço ainda deixa a desejar.
“Estamos precisando de uma reforma, que aliás o prefeito Zé Ronaldo já prometeu, acho que uns três mandatos atrás. Dessa vez fez uma reunião com a gente e nos garantiu que dessa vez a reforma sai, então quero aproveitar a oportunidade para pautar esse assunto, assim que ele puder marcar uma reunião com a gente, a gente vai apresentar nosso projeto, nossos planos e ele apresenta o dele”, declarou.
Desde que mudou de profissão, Dayane construiu uma conexão especial com seus clientes, especialmente pelo atendimento.
“Ao longo desses quase 20 anos, eu construo uma ligação de amizade com os meus clientes. Então, independentemente de ser cliente, eu procuro tratar com empatia, como seres humanos. Porque, na verdade, hoje em dia o que o pessoal mais cobra aqui é um bom atendimento. Tem pessoas que vêm fazer um orçamento e até procuram outro sapateiro, mas assim, só pelo atendimento fala: ‘vou ficar com você porque você me atendeu bem’”, revelou.
Chegando para trabalhar com costura de bolsa, aprendeu de tudo um pouco e hoje é uma das melhores profissionais da área.
“Tem clientes que vêm com uma ideia e, às vezes, a gente sugere outras opções, e eles acabam gostando. Pessoas trazem sapatos que achavam que não tinham jeito, e a gente apresenta outras propostas, e eles acabam se surpreendendo com o resultado”, contou.
Valkíria Moraes dos Santos, de 39 anos, trocou o telemarketing pela sapataria há quatro anos. Ela aprendeu o ofício com um amigo e conta que se encontrou na profissão. Hoje, a Baixa dos Sapateiros conta com ela e com Dayane entre as sapateiras.
“Eu peguei amor. Eu faço as minhas coisas aqui com amor. Todas as coisas que eu faço ninguém reclama, graças a Deus. É tudo bem feitinho, e lá [telemarketing] não. Lá a gente ficava abusando a mente do povo e era um estresse diário, todo dia era dor de cabeça; aqui, não. Aqui, fazendo essas coisas com amor, não tem dor de cabeça”, explicou enquanto costurava um tênis, serviço que deve custar aproximadamente R$ 30.
Com o tempo, Valkíria aprendeu a lidar com a clientela, que inclui os mais exigentes e os pechinchadores, todos tratados com carinho e responsabilidade.
“Eles chegam com o sapato aqui abençoado e sai mais abençoado ainda, sai novo. Eles falam assim: ‘rapaz, eu ia jogar esse sapato fora, mas realmente vale a pena consertar’”, disse.
Valkíria, que sustenta sozinha seus dois filhos, conta que a escolha deu tranquilidade para criar seus pequenos e seguir a vida com mais qualidade.
“Graças a Deus, eu não tenho marido, então eu sustento meus dois filhos com esse trabalho daqui. Hoje eu estou bem melhor do jeito que estou”, afirmou.
Outro profissional da praça, Gilberto Pires dos Santos, atua no ramo há cerca de 18 anos e lembra que o ofício surgiu como uma alternativa após perder o emprego em uma empresa. Visionário e determinado, ele decidiu investir na área.
“Eu saí de uma empresa, peguei os tempos. E aí, com o dinheiro na mão, eu digo: ‘meu Deus, o que é que eu vou fazer?’ Orei a Deus, pedi a Deus uma direção, que Deus me mostrasse algo para eu trabalhar, para eu aprender. E aí foi onde apareceu um sapateiro. Chamou para abrir uma sapataria na Rua Nova. Aprendi e, de lá para cá, estou sobrevivendo disso aqui e faço de tudo”, conta.
Gilberto explica que, apesar de a profissão às vezes ser subestimada, ele vê muito valor no que faz. São calçados, bolsas, sacolas, malas que poderiam não ter mais utilidade e são transformadas nas mãos de um sapateiro.
“O valor que faz é a pessoa. Você tem que valorizar o que você faz. A gente que trabalha na área sabe o valor que a gente tem para a nossa cidade. Porque você compra um calçado caro, ele descola; você traz para a gente colar e costurar. Você já vai economizar aquele dinheiro, vale a pena”, frisou. Ele dá “graças a Deus, que dá sim para sustentar a família”.
Para encerrar as homenagens, o Acorda Cidade ainda conversou com Ronivaldo de Jesus Santos, conhecido como Roni, profissional que atua há quase 30 anos na Baixa dos Sapateiros.
Ele começou na profissão após ficar desempregado. Deixando o ofício de pedreiro, decidiu investir na área e obteve sucesso por longos anos. Foi aprender com um amigo em Salvador e, ao retornar para Feira de Santana, não parou mais.
“Eu sou pedreiro também. E a minha esposa, ela me incentivou a entrar na área de sapateiro. Eu comecei, daí para lá não parei mais”.
Apesar de o movimento no comércio estar um pouco fraco, segundo Ronivaldo, “não deixa de chegar um serviço para se fazer”. Os preços variam conforme o pedido de cada cliente, com consertos entre R$ 25 e R$ 40, dependendo do estado e do desejo das pessoas.
Ele também destacou que os sapateiros precisam ser reconhecidos e valorizados; essa valorização poderia vir por meio da melhora na estrutura do espaço onde trabalham, prestam serviço e geram renda para a cidade.
“Essa praça precisa de uma melhoria, porque aqui é o cartão postal da cidade; isso aqui também é uma fonte de renda para o povo. Essas pessoas estão agregadas aqui, porque dependem do sistema daqui, então acho que o prefeito deveria olhar para os sapateiros, tem pai, mãe de família, então acho que deveria fazer isso. Não pretendemos sair daqui, porque aqui é o nosso local de trabalho. Isso aqui é uma cultura do sapateiro, então acho que deveria reformar aqui e deixar a gente aqui mesmo, é o que nós queremos”, afirmou.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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