As mãos das mais velhas, assim como as mais novas, estavam na massa para a preparação do tradicional Caruru de Cosme e Damião no terreiro Ilê Axé Omin Olokun, localizado em Feira de Santana.
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Nesta sexta-feira, 27 de setembro, celebra-se o Dia de Cosme e Damião. Nas religiões de matriz africana, como a Umbanda e o Candomblé, os Ibejis e os Erês, entidades que simbolizam a proteção das crianças, são reverenciados através da alegria, da fartura e da solidariedade.
A reportagem do Acorda Cidade esteve no lugar sagrado para acompanhar o preparo dessa tradição, que nesta sexta foi oficializada como Patrimônio Imaterial do estado pelo Conselho de Cultura da Bahia, uma conquista importante para preservar a cultura e identidade afro-brasileira.
A mistura de fé vem do sincretismo religioso do período escravocrata, quando pessoas negras escravizadas, proibidas de cultuar sua fé, disfarçavam suas crenças em santos aceitos pelos colonizadores. Neste caso, Cosme e Damião, que, assim como as entidades, eram figuras gêmeas que protegiam as crianças.
“A gente de candomblé cultua os Ibejis, mas ainda dentro do sincretismo religioso a gente cultua Cosme e Damião”, explicou Pai Neto do Ilê Axé Omin Olokun.
As celebrações da data iniciam um dia antes com a preparação do “Caruru de Sete Meninos” e os rituais da religião. Pai Neto explicou o significado do prato, que simboliza a união e cooperação entre os filhos da casa.
“Entramos em consenso com a comunidade, fazemos as comidas e, à noite, tem o caruru de sete meninos, a distribuição do caruru. Não pode faltar caruru, doces, muito bolo, refrigerante, muita alegria”.
No momento da festa, não podem faltar as crianças para apreciar o caruru, as brincadeiras, aquela algazarra boa de casa cheia, fartura e união.
“Primeiro, se sentam os sete meninos, são sete crianças que comem na mesa, tem toda a ritualística. Depois, as demais crianças vão sendo servidas ao longo da noite. Dividimos o grupo entre meninas e meninos. O momento dos Sete Meninos é especial”.
Este ano, aproximadamente 200 pessoas vão apreciar o Caruru do terreiro, entre membros da comunidade e filhos da casa.
“São pessoas do Aviário, Limoeiro, pessoas daqui, da roça de candomblé, clientes, filhos de santo e amigos. Servimos em torno de 250 pratos”.
Na tradição, depois das crianças, vêm os adultos. Quem encontrar um quiabo inteiro em seu prato tem a missão e responsabilidade de oferecer o caruru no ano seguinte. A ancestralidade no Ilê Axé Omin Olokun tem sido preservada de geração em geração, sempre com muita fé.
“Com muita fé, todo ano a comunidade se reúne para oferecer esse caruru. São muitos desafios, mas sempre superamos”, disse Pai Neto.
Uma das filhas da casa, Manu Black, participou dos preparativos da festa. Ao Acorda Cidade, ela falou sobre a responsabilidade de estar envolvida nesse momento de fé e celebração.
“A gente vem sempre um dia antes, os filhos se reúnem, trazem o material, começamos a limpar o camarão, o amendoim, tudo o que precisa ser feito. Hoje pela manhã, começamos o corte do quiabo para tudo estar pronto quando as crianças chegarem no final da tarde”.
Foram utilizados pelo menos 300 quiabos para preparar o caruru, e cerca de 20 pessoas participaram dos preparativos. Quem conhece a tradição sabe que o prato vai além do caruru; inclui vatapá, frango, milho amarelo, milho branco, feijão-fradinho, entre outros.
O Caruru do Ilê Axé Omin Olokun será servido a partir das 19h.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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