O bruxismo, caracterizado pelo ranger ou apertar involuntário dos dentes, é um transtorno que afeta uma parte significativa da população infantil. Segundo estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil, aproximadamente 40% das pessoas sofrem desse distúrbio e estima-se que entre 14% e 20% das crianças sejam impactadas. A Associação Brasileira de Odontologia indica que na infância, a patologia costuma ser mais recorrente em três períodos: dos dois aos quatro anos, dos 10 aos 12, e aos 18.
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Amanda Higa, especialista em disfunção temporomandibular e dor orofacial da Clínica Omint Odonto e Estética, descreve que “o bruxismo infantil pode ser desencadeado por uma combinação de fatores, incluindo genética, refluxo, uso de certos medicamentos, ansiedade, estresse, problemas respiratórios, qualidade do sono e até mesmo alterações neurológicas e comportamentais”.
A especialista explica que na infância o bruxismo tende a ser mais intenso nas crianças na fase pré-escolar, por conta das particularidades estruturais e funcionais dos dentes de leite, um comportamento considerado normal nessa idade e que geralmente desaparece. Mas pode persistir e desenvolver-se em crianças mais velhas, já com dentição permanente.
“Esse transtorno pode ocorrer tanto durante o sono, sendo uma atividade inconsciente e com produção de sons, quanto no estado de vigília, ou seja, acordado, qualificado como um movimento semivoluntário da mandíbula, podendo ser um hábito ou tique”, esclarece.
Diagnóstico e tratamento
Identificar o bruxismo nas crianças pode ser desafiador, especialmente porque muitas vezes ocorre durante o sono. Os pais devem ficar atentos a sinais como ranger de dentes, dor de cabeça, zumbido nos ouvidos, dores musculares no rosto e estalos na mandíbula. “O diagnóstico é realizado a partir de uma anamnese cuidadosa e avaliação clínica para identificar desgastes dentários, linha alba (uma elevação esbranquiçada e linear que se forma nas bochechas) e dores na face,” explica Higa.
O uso em excesso de smartphones, tablets e videogames também pode desencadear o bruxismo. A luz emitida por esses dispositivos, conhecida como “luz azul”, é um estimulante cerebral, o que tende a afetar a produção do hormônio do sono.
Ter um horário regular para dormir e evitar atividades estimulantes antes de repousar são hábitos simples que ajudam. “A má qualidade do sono contribui para o surgimento de problemas, como cognição prejudicada, redução do desempenho acadêmico, maior risco de desenvolver obesidade, e dificuldades comportamentais e de controle da emoção”, destaca Higa.
O tratamento do bruxismo em crianças pode variar, dependendo da causa e da gravidade. Entre as opções estão o uso de protetores bucais feitos sob medida para prevenir o desgaste dos dentes, intervenções comportamentais e psicológicas, como técnicas de relaxamento e, em alguns casos, a correção de problemas de oclusão dentária.
Em determinadas situações, o bruxismo pode estar associado a problemas respiratórios, gastroesofágicos e distúrbios do sono, o que reforça a importância de uma avaliação por diferentes profissionais. “Hoje, o tratamento é multidisciplinar e, às vezes, além do dentista é necessário envolver um otorrinolaringologista, psicólogo, gastroenterologista e até mesmo um especialista em sono”, acrescenta a especialista.
Se não tratado adequadamente, o bruxismo infantil pode levar a problemas mais sérios, como desgaste significativo da arcada dentária, dores orofaciais e até mesmo danos às articulações temporomandibulares (ATM). Por isso, é recomendado que os pais acompanhem a saúde oral da criança com visitas regulares ao dentista, para que, caso necessário, se inicie o tratamento precocemente, evitando maiores complicações.
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