Feira de Santana

Mães e pais de autistas vão ao MP contra plano de saúde por quebra de vínculo no atendimento

Eles relataram que o plano de saúde emitiu comunicado informando a mudança de clínica, quebrando um vínculo já existente.

Pais e mães com filhos autistas vão ao MP contra a Unimed por quebra de vínculo no atendimento (3)
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Um grupo de mães e pais de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) foram até o Ministério Público em Feira de Santana, nesta segunda-feira (9), onde realizaram um protesto contra a operadora de plano de saúde Unimed Nacional. Eles relataram que o plano de saúde emitiu um comunicado informando a mudança de clínica onde as crianças fazem atendimento. Segundo as mães, a mudança quebra um vínculo já existente e de grande importância no tratamento desses pacientes.

Elidian Souza
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Elidian Souza, mãe de uma criança autista, disse ao portal Acorda Cidade, que recebeu uma carta no final de agosto informando que em 30 dias o filho seria transferido para outra clínica, “ignorando o desenvolvimento e o vínculo terapêutico que ele tem com os profissionais da clínica onde já realizava o tratamento há algum tempo”.

“A criança com autismo tem muita rigidez cognitiva, então é necessário criar esse vínculo para ela se desenvolver. Meu filho faz tratamento nessa clínica tem três anos, ele tem evoluído bem e essa mudança pode ocasionar prejuízos irreparáveis e regressão no desenvolvimento dele”, destacou.

Pais e mães com filhos autistas vão ao MP contra a Unimed por quebra de vínculo no atendimento (1)
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
fernanda botto
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Fernanda Botto, que é advogada e mãe de uma criança autista, disse ao Acorda Cidade que o grupo foi ao MP pedir apoio para que o órgão comprove a capacitação dessas novas clínicas para atender as necessidades das crianças autistas.

“Estamos em busca das portas se abrirem, pois, a gente tem várias resoluções da Agência Nacional de Saúde (ANS), temos direitos, mas a gente só vê essas portas fechadas. A maioria das famílias paga esses planos com muito esforço e é incabível que essas coisas aconteçam”, afirmou.

Sandreane Oliveira
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Sandreane Oliveira, também tem um filho autista. Além da mudança da clínica, ela ainda relata a interrupção no tratamento do filho. Segundo ela, o atendimento do filho foi suspenso e não houve uma transferência imediata para outra clínica.

“O tratamento do meu filho já estava suspenso e tem cerca de dez dias que eles me mandaram um e-mail dizendo que meu filho poderia voltar para o tratamento na clínica que ele fazia antes. Ele estava sem assistência nenhuma, suspenderam e não encaminharam para nenhuma outra clínica. Eu estava com uma liminar e eles estavam descumprindo, meu filho já está há três meses sem tratamento. Ele iria retornar para o atendimento, mas recebi um e-mail novo da Unimed dizendo que eu deveria desconsiderar o e-mail anterior e que ele iria fazer o tratamento em outra clínica. Meu filho tem cinco anos em tratamento na mesma clínica, a evolução dele estava sendo maravilhosa e teve a quebra do tratamento. Não pode ter essa mudança repentina. Eles mudaram da noite para o dia”, afirmou.

advogado Gil Fernandes
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

O advogado Gil Fernandes, pai de uma criança autista, também estava presente no Ministério Público. Ele afirmou que esse comunicado da Unimed, informando a descontinuidade do serviço nas clínicas onde as crianças já faziam tratamento, demonstra uma forma de ignorar o direito das crianças autistas.

“A mais de duas semanas dezenas de famílias com crianças autistas vem sendo surpreendidas com a notificação unilateral da Unimed nacional para rescindir o tratamento que está sendo desenvolvido por essas crianças em uma clínica aqui na cidade e transferindo essas crianças de forma abrupta, desrespeitando o vínculo terapêutico que essas crianças vem construindo ao longo dos anos. Tem crianças que chegaram na terapia, sem falar, sem fazer contato visual nenhum e a partir das terapias as crianças vêm evoluindo, meu filho é um desses exemplos”, afirmou.

Pais e mães com filhos autistas vão ao MP contra a Unimed por quebra de vínculo no atendimento (2)
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Segundo ele, é preciso ser levado em consideração o histórico e o vínculo terapêutico que é desenvolvido com esses pacientes para que eles hoje tenham uma capacidade de se desenvolver.

“Essa ruptura sem um plano, sem um estudo se essas clínicas que estão sendo direcionadas têm capacidade técnica, qualificação estrutural para receber esses pacientes, é uma violência. As famílias se uniram, conversamos com o promotor Audo Rodrigues, que ouviu nossas reclamações e estamos protocolando uma denúncia aqui no MP para que possa ouvir nossa voz e possa nos representar diligenciando visitas a essas clínicas e verificar a capacidade técnica deles”.

Victor Santana, que é promotor substituto da 16ª Promotoria de Justiça de Feira de Santana
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Victor Santana, que é promotor substituto da 16ª Promotoria de Justiça de Feira de Santana, disse ao Acorda Cidade que a prioridade do Ministério Público é resolver essa questão de forma administrativa, firmando até mesmo algum acordo, mas caso isso não ocorra, a solução será buscar o judiciário.

“Essas mães já têm demandas individuais no judiciário em curso e buscaram o MP devido a essa mudança de clínica. Aqui, nossa atuação vai ser no aspecto do coletivo, atuando num procedimento administrativo para poder dialogar junto ao plano de saúde, junto às clínicas para verificar as condições de atendimento, se estão sendo preenchidos todos os requisitos técnicos e legais para que esse atendimento possa ser feito nessa clínica”, afirmou.

O que diz a Unimed Nacional

Em resposta ao Acorda Cidade, a Unimed Nacional informou que os pais e mães foram convidados para uma visita, onde tiveram a oportunidade de agendar as sessões necessárias para o tratamento de seus filhos, garantindo assim um processo mais facilitado e próximo. Confira a nota na íntegra:

Sobre o atendimento da Unimed Nacional às mães e representantes dos beneficiários com Transtorno do Espectro Autista (TEA) que se encontram em tratamento na rede credenciada desta Operadora, a Unimed Nacional informa que estes foram convidados para uma visita, onde tiveram a oportunidade de agendar as sessões necessárias para o tratamento de seus filhos, garantindo assim um processo mais facilitado e próximo. Além disso, a equipe da Unimed Nacional tem acompanhado o recebimento dos telegramas enviados a esses representantes e, de forma proativa, realizado contatos telefônicos para prestar acolhimento e esclarecer qualquer dúvida, oferecendo suporte contínuo.

É importante destacar que profissionais, como enfermeiras e assistentes sociais, desempenham o papel de intermediadoras entre as mães/representantes e as clínicas da rede credenciada, garantindo que a transição ocorra de forma tranquila e eficaz. Disponibilizamos também uma equipe que está pronta para acolhê-los, caso necessitem de atendimento presencial, reforçando o compromisso com a qualidade no atendimento. Essas melhorias evidenciam um comprometimento da Unimed Nacional com um atendimento de qualidade e eficiente, especialmente para as famílias que necessitam de suporte especializado para crianças com TEA. Vale reforçar que, para os casos direcionados para navegação, foi estabelecido um prazo de 30 dias para conclusão do processo, para que haja tempo hábil para a mudança. Por fim, a Unimed Nacional reforça que o respeito e cuidado com os beneficiários são a base de suas relações.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram

Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais recentes
mais antigos Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários