Perder alguém para a morte é um momento de luto delicado para muitas pessoas, mas quando esse processo acontece de forma repentina e violenta, a forma de processamento pode ser ainda mais dolorosa para quem precisa lidar com a situação.
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Recentemente, aconteceu o caso da delegada Patrícia Jackes, de 39 anos, assassinada, tendo o maior suspeito pelo crime, o companheiro. O caso da delegada é como o de muitas mulheres que perdem o direito de amar e ser amada, quando um lugar que deveria ser seguro se torna um pesadelo, a relação.
É com muito respeito às vítimas e aos seus familiares e amigos que neste momento de pesar, enfrentam a dor de perder um ente querido, que a psicóloga Fabiana Cardeal iniciou falando em entrevista ao Acorda Cidade. Ela trouxe um alerta para ajudar a compreender determinados comportamentos que podem ajudar a identificar uma pessoa agressiva.
Vale destacar que os diversos tipos de violência contra a mulher, sejam eles sexual, doméstica, patrimonial, psicológica, entre outras, são resultados de uma postura machista que afetam negativamente a vida das mulheres em todas as áreas.
Violência contra à mulher segue crescendo
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 revelou um aumento em todas as modalidades de violência contra mulheres. Um estupro é registrado a cada seis minutos contra meninas e mulheres. A taxa de feminicídios, os assassinatos em nome da violência de gênero também cresceu, fazendo 1.467 vítimas, desse quantitativo, 63,6% eram mulheres negras. Ainda conforme os dados, 90% dos assassinos são homens que geralmente tem ou já tiveram um vínculo íntimo ou familiar com a vítima.
Na Bahia são muitos os casos registrados de feminicídio, como recentemente foi mostrado no Acorda Cidade, a morte violenta de Eliane de Morais Oliveira, assassinada pelo marido que em seguida tirou a própria vida. Em 2023, o estado registrou 108 feminicídios. Isso representou um aumento de 0,9% em relação ao ano anterior, quando foram registrados 107 casos.
Saiba como identificar uma relação abusiva
Ao Acorda Cidade, a psicóloga disse que primeiro é preciso avaliar os traços que constitui um homem agressivo, observando as suas atitudes no dia a dia.
“A gente precisa primeiro olhar alguns traços, essa questão da falta de empatia, muitas vezes o homem tem baixa autoestima. Existe também uma restrição emocional, muitas vezes o homem racionaliza os sentimentos. A gente sabe que existe a questão do ciúme. Observar também se esse cara se relaciona bem com o outro, como acontece essa relação dele entre os familiares, como é a relação dele com a mãe. Se tiver irmãos, como ele se relaciona com as irmãs e com as pessoas mais próximas. Eu acredito que isso é muito importante para a gente observar”.
Para Fabiana, conhecer as pessoas que fazem parte da vida do companheiro também é importante para acompanhar sob outras versões como este homem é visto por amigos, colegas e familiares.
O respeito, a empatia, a consideração e principalmente o equilíbrio emocional de respeitar as diferenças e as críticas também são fundamentais neste processo de observação.
Falar alto, xingar, bater na mesa, quebrar objetos próximos à mulher como se fosse um ataque não são sinais de violência, é considerado como o próprio abuso dentro das relações.
“Sabe defender seu ponto de vista até o ponto de vista do outro? Tem habilidades sociais, sabe se relacionar, sabe a hora de falar, de se comportar. Como essa pessoa me trata? Me grita principalmente em momentos inadequados, fala palavrões? Existe um ponto super importante que é a oscilação de humor. Tem muitas pessoas que tem isso, está aqui agora e de repente, para você enquanto a mulher não aconteceu nada, mas na cabeça dessa pessoa você pode ter criado alguma situação ou conversado com alguém ou ter dito algo que foi desagradável, essa pessoa já muda o humor também. Importante pensar na baixa tolerância à frustração e entender principalmente que quem é bom, é bom com todo mundo. Eu não escolho com quem é que eu vou ser bom. Eu trato bem a minha esposa, a minha namorada, o meu amigo, uma pessoa que eu vejo na rua e dou bom dia”.
Fabiana aponta a famosa frase “no início tudo são flores”, afinal todos querem conquistar as pessoas, mas é preciso se atentar ao personagem criado para agradar.
“É muito difícil dessa pessoa conseguir sustentar esse personagem durante o relacionamento inteiro e existem pessoas que a gente fica perto dela e sente paz, a gente está tranquila, consegue ir para qualquer lugar com essa pessoa. Mas a partir do momento que eu fico angustiada, ansiosa, insegura ao lado dessa pessoa, eu preciso rever realmente as minhas escolhas. Se esse é o meu parceiro correto”, explicou.
Outro ponto destacado por ela, são as amarras emocionais, psicológicas e financeiras que muitas mulheres vítimas de feminicídio precisam lidar. No caso da delegada morta no último dia 11 (como todos os feminicídios), mesmo sendo uma pessoa com uma boa condição social, o fator de gênero expôs sua vida em risco, em vulnerabilidade.
“Existem muitos relacionamentos que o agressor representa a figura daquela mãe, daquele pai, a figura muitas vezes de alguém que nos fere, mas a gente acredita que amar é isso, é sofrer quando, na verdade, a gente precisa é trabalhar no sentido desse lugar mesmo do autoamor, do autocuidado, da autocompaixão. Eu percebo bastante muitas pessoas que estão levando em consideração o fato dela ser uma delegada. Mas aí é importante a gente perceber que antes de tudo isso, ela é uma mulher, uma mulher que foi adolescente, que foi uma criança, que tem uma história, e aí, a gente tem que ir para esse lugar mesmo do não julgamento”.
Para a psicóloga, as mulheres podem ser enganadas em um relacionamento estando em qualquer posição. Se relacionar com o outro é algo 50/50, que todos devem se doar, portando se de alguma forma há indícios de algum tipo de violência, de diminuir a sua autoestima, de interferir e invadir a privacidade do seu eu, da sua paz, da sua rotina enquanto um ser humano livre, é preciso se alertar e buscar se proteger.
“Quando se trata de relacionamento independente da profissão, a advogada, a psicóloga, a médica, a professora, todas elas podem ser enganadas, porque num relacionamento é 50% de cada. É um desafio mesmo você se relacionar com o outro que é uma caixinha de surpresa que muitas vezes nem esse outro se conhece. Por isso que não cabe julgamento de ter sido de tal profissão. Mas assim, eu levo em consideração que existem sinais e sintomas, que a gente pode sim, perceber e identificar se o nosso parceiro é um agressor, se ele tenta minar o nosso psicológico, se ele tenta de alguma forma nos agredir verbalmente ou fisicamente”.
Para quem pode estar enfrentando uma relação abusiva, Fabiana deixa uma mensagem de alerta. Ainda é preciso destacar que você não está sozinha, se precisar denunciar ou ser resgatada de um ambiente violento, ligue 180 ou procure uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). Atualmente, muitos órgãos possuem redes de proteção integrada que podem oferecer apoio para que você consiga sair dessa situação.
“Quando a gente se ama de verdade, a gente não permanece em qualquer lugar. É um recado assim que eu deixo. Então, onde não existe amor, uma frase até famosa, não se demore! E a gente percebe, quando esse outro não nos ama”.
Com informações da jornalista Iasmim Santos do Acorda Cidade
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