Podem ser considerados animais peçonhentos aqueles que possuem glândulas, que injetam veneno através de dentes ocos, ferrões, aguilhões, entre outras especificidades. São aranhas, escorpiões, cobras, lacraias entre outros, como explicou a coordenadora do Laboratório de Animais Peçonhentos da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Ilka Biondi. Na última semana, a morte de um turista após ficar cinco dias internado depois de ser picado por uma aranha em Morro de São Paulo, repercutiu nas redes sociais e trouxe um alerta para a população.
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Ao portal Acorda Cidade, a professora explicou diversas curiosidades sobre as características desse tipo de animais que ajudam as pessoas a se protegerem, principalmente neste período de inverno em que alguns deles costumam aparecer com frequência, como o escorpião.
Começando pelas aranhas, Ilka contou que todas as aranhas têm veneno, apesar de poucas possuírem a capacidade de intoxicar o ser humano. Na região de Feira de Santana, são catalogadas cerca de 100, para cinco mil delas, que ainda precisam ser identificadas.
“O ministério elencou quatro grupos que causam acidentes graves que são as chamadas de aranha armadeira, elas ficam nas bananeiras, as loxosceles que ficam dentro de casa, as aranhas marrons e as de jardim”, disse Ilka ao Acorda Cidade.
No caso do turista morto, após a picada, a professora explicou que pode ter sido uma aranha marrom ou uma parente da espécie.
“Ela tem como característica destruir a pele. Ela destrói a camada da pele, fazendo um buraco. Começa com uma bolhinha, ela vai esquentando, vai aumentando, vai ficando roxa, vai necrosando. Então, tem que ir para o hospital rápido. Não pode ficar, seja criança, adulto, que vê que um bicho lhe picou, que está tendo uma bolhinha, que está ardendo, está com aquela parte toda ficando vermelha, com ardor, a pele quente e ficar em casa”, alertou.
Para retirar o veneno de aranhas, Ilka explica que são antídotos, soros específicos que após a picada só podem ser administrados após 72h. “Depois disso o veneno já tomou todos os seus órgãos. Então, a pessoa pode ter insuficiência renal que já é um evento secundário”.
Aquela aranha maior, a caranguejeira, não é nociva às pessoas. Segundo a coordenadora, ela tem veneno como todas, também chamado de peçonha, mas não é perigosa, porque não possui presas. Na verdade, ela limpa o ambiente.
“Você tem um local que tem muito rato, que causa leptospirose, então as caranguejeiras comem o rato. Inclusive, as que ficam no cativeiro da Uefs são alimentadas com ratos. Ela limpa o ambiente. Então as pessoas não têm esse conhecimento, bate, bota fogo, mata. Ela não tem veneno nenhum que cause acidente em humano, ela só tem letalidade para comer animais. Ela segura e mastiga o animal. Não é um animal que dá aquela picada e sai, é diferente”, explicou a coordenadora em entrevista ao Acorda Cidade.
Além das aranhas, a professora contou ao Acorda Cidade outro tipo que é bastante comum nas residências, o escorpião. Segundo ela, estudos realizados por alunos na Uefs, revelam que acidentes com o animal acometem os adultos. Apesar do alerta geral sempre estar ligado às crianças e idosos, a maioria dos óbitos no estado foram entre pessoas de 20 a 58 anos.
“Essa faixa etária ou eles não tomaram soro ou tomaram tardiamente. Então vocês estão vendo que o escorpião não está separando ninguém. Caiu na rede é peixe”, relatou.
Onde há barata, pode haver escorpião, você sabia?
A professora explicou alguns cuidados necessários para evitar os escorpiões, como manter o ambiente limpo, não acumular bagunças, colocar vedações em ralos de pias e banheiros e dedetização contra o surgimento de insetos como baratas, um dos alimentos preferidos deles. Entretanto, é considerado um animal generalista, porque come de tudo, grilo, mosca, tudo que for vivo.
“Já teve casos de ter escorpião dentro de máquina de lavar, eles escalam, vão atrás de barata. Onde tiver barata tem escorpião”, disse.
As galinhas também são amigas para proteger os quintais da proliferação de escorpiões.
“O pessoal fala que a galinha dorme de noite e o escorpião sai de noite. Mas a galinha cisca! O escorpião fica na segunda camada de terra escondido durante o dia, para a noite sair. Ele também fica debaixo da telha. A galinha d’Angola que cisca muito, suja, mas entre um acidente que pode ter uma gravidade sem retorno é melhor você ter galinha. Bota a tela na sua casa que não vai dar nem muriçoca, nem escorpião”, frisou.
Outra curiosidade é que as fêmeas se reproduzem sem precisar do macho. A cada três meses elas podem se reproduzir sozinhas, botando cerca de 30 filhotes no ambiente.
Peçonhentos e não peçonhentos
Animais peçonhentos são aqueles que têm o órgão inoculador, usado para deferir o veneno, como as presas da serpente.
“O grupo dos peçonhentos é grande, vão de vertebrados aos invertebrados. Então é abelha, vespa, cavalo-do-cão, aranha, escorpião, anêmona-do-mar. Então é um grupo e cada um tem seu pacotinho de veneno. Uma vai mexer no rim, a outra vai para o sistema sanguíneo”, afirmou Ilka Biondi.
E o sapo, pode causar acidentes?
Sim! Os sapos têm glândulas venenosas na parte de trás que podem causar acidentes. Mas assim como o rato, não são considerados animais peçonhentos. O sapo libera toxinas como mecanismo de defesa, já os ratos, podem causar a leptospirose através da urina infectada pela bactéria leptospira.
Entretanto, os sapos também são aliados na limpeza do ambiente. “Ele come escorpião, ele come inseto, ele limpa o território. São animais que ajudam a proteger”.
Tem gente que tem pavor dela, mas também são aliadas para limpar o ambiente de insetos, são as temidas lagartixas.
“As branquinhas que todo mundo mata dentro de casa. Faz aquele escândalo todo e elas comem aranha. Você deixa a lagartixa lá fazendo o papel dela, entendeu? Falta conhecimento básico e aí as pessoas ficam matando o bicho sem necessidade”, pontuou a coordenadora do Laboratório de Animais Peçonhentos.
Baratas
De acordo com a professora, as baratas surgem quando os bueiros das ruas estão entupidos. Em caso de chuvas, elas tendem a fugir para as residências. Para evitar, é preciso deixar o ambiente limpo e colocar telas nos ralos.
Uma dica valiosa dada por ela é dedetizar primeiramente o interior de casa para depois limpar a área externa, pois os animais peçonhentos e insetos tendem a fugir para as residências.
O desmatamento também atrai esses animais para as casas. A temperatura quente, sem árvores para ventilar, levam eles a procurar ambientes mais frescos.
Como saber o que me picou?
A coordenadora deixou outras indicações importantes para identificar o tipo de animal em caso de picadas. Lembrando que ao perceber os sinais procure o pronto-socorro o mais rápido possível.
“Serpente, se for jararaca vai inchar e começar a sangrar, se for cascavel, você vai ficar inchado, com cara de bêbado, porque ele é neurotóxico, mexe com o seu sistema nervoso central. Se for escorpião, você vê o local ardendo, doendo, mas não deixa marca, você precisa saber diferenciar e, a aranha, deixa cravado os dois pontinhos. Se sentir falta de ar, é um aranha de bananeira, as madeiras, e as de dentro de casa são as mais perigosas, porque elas têm uma toxina que faz uma bolha e começa a comer o tecido, tem casos que é preciso fazer enxerto de pele, raspar tudo para botar outra no lugar”, explicou.
Em casos de acidentes com esses animais, ela indica que leve para o Hospital Geral Clériston Andrade ou para o Hospital da Criança, porque eles possuem o soro e inclusive, eles podem realizar a intubação do paciente caso seja necessário, já que, um dos primeiros problemas é o fechamento da glote.
“Acidentes com animais peçonhentos são chamados de um agravo à saúde. São emergências, não é ter uma cólica, uma infecção urinária, é um agravo, um acidente, que você tem que levar a uma unidade de emergência rápida”, concluiu.
Ouça a entrevista na íntegra:
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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