Entrevista

Doença de Alzheimer acomete mais de 1 milhão de pessoas no país por ano

A doença de Alzheimer é uma das principais que acometem os idosos e é a principal causa de demência.

Daniela Cardoso

O médico geriatra, Thiago Tapioca, esteve na manhã de segunda-feira (3) no programa Acorda Cidade, onde falou sobre a doença de Alzheimer. De acordo com ele, a doença ainda não tem cura, além de não ter definida as causas. Thiago ainda falou sobre o diagnóstico e o tratamento da doença.

Acorda CidadeQual é o trabalho que faz o médico geriatra?

Thiago Tapioca – A geriatria é uma especialidade que está surgindo cada vez mais, por conta de determinados problemas que acometem os idosos. A nossa população está envelhecendo e estima-se que daqui a algum tempo a doença de Alzheimer seja um problema público e seria necessária uma intervenção maior por parte dos governos em relação a essa patologia.

AC – As pessoas têm o costume de procurar o geriatra?

Thiago – Na verdade existem alguns problemas que estão acometendo os idosos e a procura está sendo muito maior nos últimos anos. A geriatria na verdade faz um acompanhamento de uma forma geral.

AC – O que é a doença de Alzheimer?

Thiago – A doença de Alzheimer é uma das principais que acometem os idosos e é a principal causa de demência. É uma doença neurodegenerativa de inicio crônico e que até hoje não se tem uma cura para o problema. Essa doença leva o indivíduo a perda do intelecto. A pessoa perde a capacidade de gerir sua vida.

AC – Existem dados em relação a essa doença no Brasil?

Thiago – São em média 1 milhão e duzentos mil pacientes no Brasil e no mundo cerca de 35 milhões. Estima-se que em 2030 esses dados venham a dobrar e em 2060 cerca de 115 milhões de pessoas sejam acometidas pela doença.

AC – O que causa a doença de Alzheimer?

Thiago – Até hoje não se tem ao certo qual a causa. Existem várias vertentes. Hoje a busca está em torno da causa e do tratamento.

AC – Qual a idade que o Alzheimer acomete as pessoas?

Thiago – Na verdade existem dois tipos. A forma familiar e a forma esporádica. A forma familiar é aquela que está mais relacionada ao quadro genético e acomete somente de 5 a 10% das pessoas. A maior parte das demências de Alzheimer está relacionada a forma esporádica.  Sabe-se que acima de 65 anos se torna muito mais frequente. A cada cinco anos, após os 65 anos dobra-se as possibilidades.

AC – Quais são os sintomas?

Thiago – Na verdade tudo começa dentro de casa. O paciente começa a apresentar alterações parecidas com a depressão. A pessoa vai se isolando, ficando triste, deixando de fazer as atividades que gostava de fazer e isso começa a ser percebido pelos familiares. A pessoa começa a perder a memória e algumas vezes isso é confundido pela família, pois com a idade é comum o esquecimento. A memória recente vai se apagando com a doença e quando vai se avançando, a pessoa perde a memória tardia. Mas não é apenas a memória. Existem vários sintomas cognitivos, nesse caso a atenção, a linguagem. O paciente com Alzheimer fica com o vocabulário pobre e começa a não construir frases. Eles perdem a capacidade de executar tarefas do dia a dia, então é uma doença que leva a uma incapacidade.

AC – Então a família deve ficar atenta?

Thiago – Quem geralmente percebe são os familiares e existe uma tendência do paciente omitir os sintomas, pois eles acham que é. É importante que os vizinhos também fiquem atentos, porque existe ainda a desorientação no tempo e no espaço. O comportamento altera muito no transcorrer da doença, os pacientes começam a ter delírios, psicoses, alterações de comportamento e isso perturba o dia a dia dos familiares.

AC – Essa doença afeta mais homens ou mulheres?

Thiago – Na verdade não tem uma definição para questão de gênero. Sabemos que as mulheres estão vivendo mais que os homens, porque se cuidam mais. Elas estão vivendo em torno de 5 a 7 anos a mais. Ainda não se sabe se é porque as mulheres estão vivendo mais, ou porque é do gênero, mas existem mais mulheres com Alzheimer.

AC – Qual é o tratamento adotado?

Thiago – Existe o tratamento medicamentoso e o não medicamentoso. Quando falamos em demência e incapacidade acaba envolvendo o multiprofissional. O geriatra tem que trabalhar junto com um fonoaudiólogo, porque as alterações de linguagem acontecem, um fisioterapeuta para as alterações motoras da doença na fase avançada, o terapeuta ocupacional que é de extrema importância para a orientação e o acompanhamento de uma forma geral. É uma doença que afeta as pessoas do convívio porque leva ao estresse e acaba que a pessoa responsável pelo acompanhamento também precisa de cuidado.  O tratamento que está sendo disponibilizado pelo SUS, são três medicamentos que tem um benefício grande na fase inicial, porque quanto mais precoce se trata o problema, melhores serão os resultados. Não existe cura, mas é um tratamento sintomático que da mais funcionalidade ao paciente.

AC – Como é feito o diagnóstico?

Thiago – É basicamente clínico. Assim conseguimos praticamente definir se é Alzheimer ou não. No estágio precoce, como as perdas são sutis, é difícil para o próprio geriatra fazer o diagnóstico. Como é uma doença que requer tempo, a gente aplica testes neuropsicológicos. Nós também pedimos exames de laboratório e de imagem para fazer a exclusão de outras possibilidades que poderiam levar a doença, pois o Alzheimer é a principal causa da demência, mas existem outras.

AC – Fazer palavras cruzadas exercita a mente e pode prevenir a doença?

Thiago – Quando a pessoa faz palavra cruzada ela está fortalecendo o intelecto, a pessoa trabalha a mente, o raciocínio. As pessoas que tem o nível intelectual maior acabam se saindo melhor nos testes. Às vezes o grau da doença é mesmo.
 

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