A Defensoria Pública da Bahia em conjunto com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) realizou uma operação em Feira de Santana com o objetivo de verificar as suspeitas de tuberculose entre os venezuelanos indígenas de etnia Warao.
Em entrevista ao Acorda Cidade, o defensor público Maurício Moitinho informou que foi identificado um aumento de 300% no número de crianças com desnutrição em Feira de Santana.
“Essas pessoas estão vivendo situação de extrema vulnerabilidade social, e o que é que a gente tem de situação na verdade? Nos últimos 136 dias a gente teve um acréscimo de 300% no número de crianças com desnutrição grave entre os Warao, e isso é extremamente grave. No dia 14 de dezembro de 2023, eu instaurei um procedimento por conta de uma provocação que me foi feita pelo Movimento Nacional de População em Situação de Rua, que dizia a respeito à situação dos indígenas. Já tivemos a visita da Funai, que verificou diversas omissões por parte do município que não fornecem alimentação adequada, que o pagamento do aluguel social não é feito de forma adequada, e isso foi no mês de setembro do ano passado, instaurei um procedimento e a gente foi fazer a visita. Quando nós chegamos lá, nós tivemos o conhecimento que três crianças da etnia, uma de 3 anos, outra de 4 anos e outra de 7, haviam sido internadas no Hospital da Criança por conta de desnutrição grave, ou seja, sequer acesso a água potável eles têm, e suspeita de pneumonia”, informou.
De acordo com o defensor, uma das crianças morreu vítima de tuberculose, ainda no ano passado.
“No dia 26 de dezembro do ano passado, uma dessas crianças testou positivo para a tuberculose, e essa criança veio a óbito por tuberculose e desnutrição, é o que consta no atestado de óbito e no relatório médico da internação dela. Por conta disso, se iniciou uma operação conjunta entre a Defensoria Pública do Estado e a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), onde nós fomos fazer uma visita de inspeção. A Sesab enviou técnicos especializados em tuberculose e eles identificaram que a alimentação recebida era irregular, que eles não recebiam a alimentação de forma constante, que o município não fornecia o serviço de atenção básica de saúde e que estas pessoas estavam expostas a tuberculose latente, o que é isso? A tuberculose é como uma gripe, ela é viral, então um simples espirro poderia fazer com que a pessoa contraísse esta doença”, explicou.
Ao Acorda Cidade, o defensor Maurício Moitinho relatou que cerca de 70 pessoas residem em um imóvel que possui poucas áreas para circulação de ar.
“Pouco mais de 70 pessoas aglomeradas em um único local que só tem apenas a porta da frente e janela, não tem janela para os fundos, é tudo para que haja a disseminação da tuberculose e já foi identificado pela Sesab que o local que elas estão vivendo é inadequado e que o município precisa colocá-las em um local adequado. Nós tivemos reuniões, inclusive contou com cerca de 40 pessoas, entre pessoas do estado, do município, foram sete pessoas representando a prefeitura, a Sesab enviou a diretoria da Atenção Básica, Diretoria de Vigilância Epidemiológica, Diretoria do Programa Mais Médicos e o diretor do Núcleo de Saúde. Teve também a presença da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, e foi identificado que o município, desde o dia 26 de dezembro, deveria ter feito o teste de tuberculose latente em todas as pessoas, mas até hoje não foi feito”, pontuou.
Com relação aos adultos, o defensor informou que existe o risco de ter mais óbitos por conta da falta de acesso à alimentação.
“Existem riscos de ter novos óbitos por conta da fome, estou me referindo à pessoas morrendo de fome, pessoas morrendo de desnutrição. A gente já teve uma criança que faleceu e neste exato momento, nós temos mais nove crianças com desnutrição grave correndo risco de óbito também. Queremos que o município cumpra a requisição de informações que foi feita e que a Secretaria Municipal de Saúde faça a testagem dessas crianças, a testagem em adultos e a testagem em idosos”, concluiu.
O Acorda Cidade solicitou um retorno da Secretaria Municipal de Saúde sobre a situação.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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