Abril Azul

Associação presta serviço com multiprofissionais para crianças autistas em Feira de Santana

No mês da Campanha Abril Azul, o Acorda Cidade conversou com os especialistas, mães e pessoas que fazem a organização. 

Amfa - Associação de Mães e Filhos Autistas
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Após passar por reforma, a Associação Mães e Filhos Autistas (Amfa) retornou às atividades e aos serviços destinados às crianças com Transtorno do Espectro Autista. A sede da Amfa fica localizada na Rua Gameleira, no bairro Conceição ll em Feira de Santana. Atuando desde 2020, cerca de 52 crianças são atendidas.

“A gente tem uma equipe multidisciplinar, que é fonoaudióloga, psicopedagoga, pedagoga, neuropsicóloga, terapia comportamental, neuropediatra e psiquiatra, que todos esses atendem dentro da instituição, com um valor mensal de R$ 380 reais, cobrado por mês das mães para ter todos esses atendimentos. Não atendemos só crianças com TEA, mas também atendemos com TDAH e retardo”, informou ao portal Acorda Cidade Kamilly Alves, presidente da Amfa. 

Amfa - Associação de Mães e Filhos Autistas
Kamilly Alves | Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Crianças e adolescentes que convivem com o transtorno necessitam de acompanhamento com uma equipe multidisciplinar semanalmente, entretanto, é dura a realidade quando os responsáveis buscam pelo serviço público ou privado. A Amfa é uma forma de reduzir o alto custo e fornecer os atendimentos médicos necessários.  

“São cinco anos aqui na Conceição mesmo. O serviço público infelizmente não proporciona realmente uma equipe multidisciplinar para essas crianças que precisam de atendimentos semanalmente. E aí é onde as crianças realmente não conseguem ter uma qualidade no tratamento e nem ter realmente a viabilidade de conseguir esses profissionais com esse valor de baixo custo”, pontuou. 

O médico residente em psiquiatria, Allan Corsini, trabalha na unidade e falou sobre os recentes dados divulgados sobre o TEA e que revelam o aumento de pessoas que convivem com o transtorno. A cada 36 crianças que nascem, uma possui o espectro, dados esses que não fogem da realidade de Feira. 

Allan também confirma que o Sistema Único de Saúde não está preparado para atender uma demanda crescente de pessoas que estão sendo diagnosticadas, por isso, o trabalho da associação é bastante valoroso para a população.  

Amfa - Associação de Mães e Filhos Autistas
Allan Corsini | Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“A gente sabe que o município, o Sus, não tem como atender todo mundo. Infelizmente, o município ainda carece de estrutura para abarcar toda a demanda de pacientes com autismo. Aqui na ONG, nós fizemos uma parceria com a Kamilly, que é a idealizadora da Amfa, e estou vindo atender aqui cerca de uma vez no mês. Então, além do atendimento médico, o pessoal disponibiliza diversas modalidades de atendimento multidisciplinar com fonoaudiólogo, psicoterapia, terapia ocupacional, dentre outros”, explicou.

Quando mais cedo se descobre, mas importante se torna o tratamento para trazer ao paciente autista uma qualidade de vida diante suas diferenças. 

“A partir de um ano e meio há dois anos, nós já podemos levantar suspeitas, que posteriormente podem ser confirmadas ou não, mas já na suspeita é interessante ser realizada a intervenção, visto que quanto mais jovem o indivíduo é, melhor vai ser a sua capacidade, a sua neuroplasticidade, que é a capacidade de criar novas sinapses, de aprender, de modificar seu cérebro. Então, isso é fundamental”, destacou. 

Geisiane Santos Almeida tem uma filha com o espectro. Ao Acorda Cidade ela contou como reconheceu os primeiros sinais da criança ainda quando era uma bebê.

“Recém-nascida já notei que ela chorava muito, não dormia, mamava, era agitada para mamar. Aí eu já comecei a notar alguma coisa. Depois dos seis meses ela não atendia quando chamava pelo nome, não sentava na introdução alimentar. Ela já teve um processo que de início começou a comer, depois ela passou a não gostar do que ela estava comendo e até hoje ela não come”, explicou. 

Aos três anos, o bebê teve melhoras significativas quanto ao sensorial, mas, segundo Geisiane, também enfrenta outros aspectos cognitivos que precisam de mais atenção.

“O sensorial dela melhorou um pouco, umas partes, mas o cognitivo continua muito abalado. Ela não aceita não, ela tem muitas estereotipias agora, algumas que ela não tinha antes, hoje ela tem”. 

Estereotipias são comportamentos verbais ou motores repetitivos que muitas pessoas com TEA pode desenvolver ao longo da vida. No caso da filha de Geisiane, a criança balança muito as mãos, se morde e anda na ponta dos pés. Ela apontou outras ações que é comum e que estão sendo tratadas, como a ecolalia, um distúrbio do desenvolvimento da fala e da linguagem e que também é caracterizado pela repetição.  

“Ela repete muito o que a gente fala, ela não aceita o não, quando fala não ela chora muito, quer as coisas na hora, ela não espera, não tem o tempo de esperar, ela não entende, mesmo você explicando, conversando ela ainda continua assim. Ela tem medo de todos os tipos de animais, cachorro, galinha, até uma mosca, borboleta, ela fica agitada, começa a gritar, tapar os ouvidos, corre para onde tiver apoio”, disse Geisiane. 

Amfa - Associação de Mães e Filhos Autistas
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

De acordo com Allan, essas características citadas por Geisiane logo nos primeiros meses de vida da criança foram fundamentais para chegar a um diagnóstico preciso e um melhor tratamento no futuro.  

“A avaliação para diagnosticar o autismo é bastante minuciosa. Entretanto, há alguns sinais nos quais os pais ou familiares podem se ater e desconfiar, levantar suspeitas, como a criança que não interage com outras crianças. Naturalmente, se você coloca uma criança de 2, 3, 4 anos próxima a outras crianças, ela vai interagir, ela vai querer brincar, ela vai querer também compartilhar interesses”, observou. 

Quando o contrário a isso acontece diariamente é um sinal que os pais devem, sim, se preocupar, buscar um pediatra para avaliar se está tudo bem com a criança.  

“No transtorno de espectro autista, nós não percebemos essa interação. O pessoal costuma dizer, a grosso modo, que ele vive no mundo dele, entre aspas. E é, mais ou menos, isso. Outras características são dificuldade para manter o contato visual, olho no olho, atraso na fala, dentre outros. Então, resumindo, uma criança com atraso na fala, não olha nos olhos, não interage com outras crianças, se você brinca com essa criança, se você chama pelo nome, ela não olha ou dificilmente olha. Esses são sinais que podem dar algum alerta aos pais de que tem algo a ser investigado ali”, acrescentou o médico. 

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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