Pegar um copo, andar, comer, lembrar que comeu, tomar banho sem auxílio de outras pessoas são dádivas da vida que muitas vezes podem passar despercebidas ao longo do cotidiano. Essas simples ações podem ser lentamente interrompidas pela doença de Parkinson, que afeta neurologicamente os movimentos do corpo. Estima-se que, no Brasil, 200 mil pessoas convivem com o transtorno, tendência que tende a aumentar ainda mais com o envelhecimento da população.
Neste dia Mundial do Parkinson, 11 de abril, o portal Acorda Cidade traz detalhes relevantes para trazer a conscientização sobre a doença, que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é a segunda neurodegenerativa mais frequente no mundo, atrás apenas do Alzheimer.
O médico neurologista, Jamilo Brito, explicou que o Parkinson é uma doença degenerativa, crônica e progressiva do sistema nervoso central. Ele revelou uma característica da doença que poucos sabem. Ela começa no intestino através da acumulação de uma proteína que afeta outras partes do corpo. Por isso, é importante se atentar aos sinais.
“O transtorno de movimento é a expressão mais clássica da doença, mas a doença começa inicialmente no intestino através da acumulação da ‘proteína tau’ e ela vai se acumulando nos nervos olfatórios até chegar na região de substância negra, que é uma substância que a gente tem no tronco cerebral que faz a coordenação dos movimentos. Existem sintomas premonitórios da doença de Parkinson, por exemplo, intestino preso, perda de olfato, transtorno comportamental do sono REM, que é aquele paciente que tem um sono agitado, com risco de cair da cama e que fala muito durante o sono”, destacou o médico em entrevista ao Acorda Cidade.
Segundo os especialistas da área, não existe prevenção para o Parkinson. Quando há a morte das células nervosas responsáveis pela produção de dopamina, um neurotransmissor regulador dos movimentos do corpo, isso pode ou não estar associado a causas genéticas. Como os estudos ainda não revelam a precaução, manter um estilo de vida saudável e a mente sempre ocupada é imprescindível para todas as pessoas, idosas ou não.
“Na doença de Parkinson, o que mais impacta também na qualidade de vida é o que a gente chama de disautonomia, que é uma hipotensão que acontece com a mudança da posição. Os pacientes que são hipertensos, diabéticos, que têm lesão de nervo vegetativa, que têm problemas no coração, com certeza a disautonomia no futuro vai ser muito mais grave, trazendo muito mais impacto na vida desse paciente. Então, tratar esse paciente de forma precoce e controlar as comorbidades e os problemas de vida trazem muito mais qualidade para o indivíduo futuramente”.
Dentre diversas doenças neurológicas, o doutor Jamilo Brito atua também atendendo pacientes com Parkinson no Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), em Feira de Santana, e alguns hospitais da rede particular.
“O Parkinson é uma doença neurodegenerativa que causa um distúrbio de movimento. Então, o paciente queixa-se principalmente de um tremor em repouso, que habitualmente não incomoda muito o paciente, mas o que define realmente a doença é a rigidez que o paciente tem e a lentificação dos movimentos. É uma doença que traz bastante impacto com o evoluir da doença porque o paciente fica incapacitado de andar e de executar suas atividades do dia-a-dia”, pontuou.
Segundo o doutor, o diagnóstico do Parkinson é realizado através do médico neurologista. O tratamento ideal da doença é realizado com apoio de uma equipe multidisciplinar.
“É necessário também o suporte da fisioterapia e da fonoaudiologia. Lembrando que a doença de Parkinson, até a data de hoje, é uma doença incurável. A gente tem um tratamento medicamentoso que melhora muito os sintomas neurológicos, porém, a gente não tem um tratamento de cura da doença”, disse.
Jamilo Brito aponta que estudos da medicina têm comprovado o quanto a atividade física é um eficaz recurso que pode retardar a progressão da doença. Reconhecer a doença logo nos primeiros sinais e começar a cuidar é fundamental para conquistar uma qualidade de vida. Pacientes que têm um diagnóstico tardio, que já necessitam iniciar as medicações, têm um prognóstico pior e ficam incapacitados mais rápido.
As memórias construídas ao longo do tempo são fragmentos da vida que ninguém quer esquecer, boas ou ruins, as memórias revelam a trajetória das pessoas neste mundo. É importante perceber que, além dos movimentos, essa doença afeta outros pontos do dia-a-dia caros para o paciente, como o poder da mente, a sanidade e compreensão.
Os tratamentos medicamentosos que agem na veia de produção de levodopa repõem o neurotransmissor e isso melhora principalmente a lentidão e a rigidez dos pacientes. Segundo o médico, o tremor pode melhorar ou não como consequência do uso da medicação, mas, habitualmente, o paciente não reclama desse sintoma.
Além disso, é importante reforçar o acompanhamento médico com o geriatra, principalmente para os idosos, que são os mais acometidos pela doença. Conforme a OMS, de 10 a 15% dos pacientes com Parkinson têm menos de 50 anos. Neste sentido, descobrir a enfermidade e iniciar o tratamento é fundamental para desmistificar que um paciente com a doença vive esclerosado.
Em média, leva de 10 a 15 anos para o paciente chegar a ficar de cadeira de rodas e perder a capacidade de deglutir os alimentos, caracterizado com disfagia.
“O paciente com Parkinson, realmente, o quadro demencial dele vem com o mais tardar da doença. Então, um paciente vai desenvolver quadros demenciais com 10, 15 anos de doença. O paciente é plenamente funcional e ele está muito ciente do que está acontecendo com ele.”, frisou.
Quando o paciente estiver incapacitado de forma mais precoce, esse é um sinal de alarme que é preciso investigar se a outras doenças que também são associadas ao parxonismo, por exemplo, a paralisia supranuclear, que o afetado fica de cadeira de rodas em cinco anos, ou uma demência de lewy, em que o paciente tem a perda progressiva da função mental, com alucinações.
“Geralmente, a doença de Parkinson é mais indolente, mais leve. E obviamente existem outras variantes da doença de Parkinson genético que podem acometer indivíduos mais jovens e podem deixar incapacitados com menos tempo de doença. Mas isso é uma exceção”, acrescentou Jamilo Brito.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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