Tecnologia

Crianças surpreendem adultos e os ensinam a lidar com a tecnologia

Em vídeo, bebê manuseia tablet; garoto de 4 ganhou um de presente. Para especialista, pais devem mediar relação dos filhos com os aparelhos.

Acorda Cidade

As bolas de futebol, bonecas, carrinhos e bicicletas não têm tanta hegemonia na preferência das crianças. E muitos pais se renderam a essa tendência. É o caso do cineasta baiano Igor Souto, que atendeu o pedido do filho único, o pequeno Francisco, e deu a ele um iPad como presente de aniversário de 4 anos, no mês passado.
 
"Tudo começou porque a dele tem um iPad e ele brincava com iPhone, iPad, celular, computador, tudo. E ele pediu um pra ele. Resolvi comprar porque virou uma forma da gente brincar, mais um atrativo para que a gente esteja junto. E ele acabou me ensinando coisas do iPad que eu não sabia, e fez isso com muita naturalidade", conta.
 
O pai, no entanto, ressalta que não se esquece de manter o equilíbrio entre o envolvimento com a tecnologia e as outras atividades que divertem e distraem o garoto.
 
"O limite vem sempre quando eu vejo que ele já está repetindo os jogos, apenas zapendo, quando ele não está com atenção focada mais, aí eu corto. Digo 'chega de iPad, vamos brincar com os brinquedos'. Não queria dar uma coisa para ele se isolar. Isso iria quebrar o processo de socialização dele. Então, imponho limites. O iPad, na verdade, é uma ferramenta para a gente interagir. Ele me chama, me mostra, compartilha, me chama para jogar com ele", relata.
 
Segundo Igor, apesar da intimidade com a tecnologia, o filho também gosta de desenhar, ler quadrinhos e ouvir história. Por meio do iPad, Igor aproveita para ajudar no desenvolvimento pedagógico do garoto. "Baixo aplicativos educativos para ele aprender números e letras", diz.
 
O pequeno Igor Filho, de um ano e sete meses, também faz parte dessa realidade em que Francisco vive. Segundo a mãe dele, Nâmbia Moreira, de 27 anos, Igor liga e destrava o iPad do pai, escolhe o que quer nas pastas dos aplicativos, inicia os jogos e brinca à vontade. Tudo isso sem a ajuda de qualquer pessoa, relata a mãe.
 
 “Ele tinha um ano e dois meses quando passou a mexer. Ele começou só de observar a gente usar. É bem espontâneo. Ele só fica nervoso quando a bateria do tablet acaba. Aí ele diz: ‘cabou’ e pede pra a gente recarregar”, relata a mãe, que conta também que a brincadeira no celular não é suficiente para o bebê. “Quando eu chego em casa vejo que ele pegou meu notebook e colocou no colo. Ainda é bem aleatório, mas ele já tem interesse em mexer no computador", completa.
 
De acordo com Nâmbia, a naturalidade com que Igor lida com as ferramentas do celular deixou até os amigos da família surpresos. “Nós tomamos um susto quando vimos, não acreditamos. A gente fica bobo. Esse final de semana veio uma amiga da empresa para cá e quando ela viu ele destravando ela disse: ’Meu Deus, como é que ele pode fazer isso?’”, brinca.
 
Tarcio Majdalane, pai do pequeno Theo, de seis anos, também se surpreende com a forma com que o filho usa os aparelhos eletrônicos. “Desde os dois anos, Theo usa a tecnologia. Ele mexe no iPhone, iPad, computador. Agora tem Facebook. Fico impressionado com a forma que ele usa o touchscreen. A gente que é mais velho está acostumado a teclado, mas como ele já nasceu e existia esse tipo de tela, eles já pega e manipula como adulto”.
 
Cuidados
 
A psicopedagoga Denise Lago de Miranda aprova o uso de tecnologias pelos jovens, mas orienta aos pais que não deixem de acompanhar os filhos. “Se o pai tiver do lado é positivo. Se a família fizer a mediação, os jovens conseguem ter uma leitura crítica, se não, eles serão meros consumidores. A questão boa em tudo isso é saber lidar com diferentes linguagens de informação”, afirma.
 
De acordo com Denise, não há uma idade ideal para que as crianças comecem a usar aparelhos eletrônicos. “Não tem idade. Acho que tem que entrar nesse mundo mesmo. Vi uma imagem de um bebê querendo aumentar a imagem fazendo um zoom. É fantástico. Mas isso não pode ser abusivo. Crianças com 1, 2 , 3 ,4 ,5 anos têm que ter alguém vigiando. Pré-adolescente e adolescente tem que ter alguém fazendo a mediação. O pai tem que dar uma passada e deixar bem claro mesmo que está ali vigiando”, explica.
 
A psicopedagoga relata que os pais devem ter atenção quando o manuseio da tecnologia passa a se tornar uma dependência nos jovens. “Tive pacientes que nem comiam. Crianças que não estudavam, não veem interesse em nada, ficavam viciadas nos aparelhos, não tinham prazer em sair com a família, em estudar. Quando chegam nesse ponto, tem que ter muita conversa. Nesses casos, eles precisam de ajuda de profissional”.
 
Segundo Denise, o uso da tecnologia não pode interferir na relação com os estudos, nas formas de relacionamento ou nas brincadeiras. “Eles têm que dividir o que é lazer e o que é pesquisa, estudo. Se o horário mexendo na internet, no computador é pesquisa, não conta, porque estão estudando. Se é lazer, uma hora por dia, ou negociada, meia hora agora e meia hora de noite, tudo bem”.
 
É o que faz a mãe do pequeno Igor. “Ele não fica preso ao iPad. A gente quer que ele desenvolva outras habilidades. Ele gosta de jogar bola, mas o tablet é o brinquedo preferido. Se deixar vai o dia todo”, afirma Nâmbia.
 
A relação entre a criança e a tecnologia também pode ser positiva para os pais, afirma Denise. “A nossa geração está aprendendo com as crianças. Eles estão ensinando a gente. Os pais devem entrar nesse mundo deles. Mas para entrar no mundo deles é preciso entende-los e os pais que estão informatizados não têm dificuldade”.
 
Fonte: G1
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