Mês da Mulher

Yara Cunha, ex-presa política e reitora: “A defesa da liberdade ainda é necessária nos dias de hoje”

Feirense nascida na avenida Senhor dos Passos, foi a única presa política desta cidade no período da ditadura, um marco inesquecível.

Foto: Câmara Municipal de Feira de Santana
Foto: Câmara Municipal de Feira de Santana

Yara Maria Cunha Pires, pedagoga, graduada pela Universidade da Bahia em 1965 e professora de Psicologia, é mais um destaque da série “Mulheres que Inspiram”, produzida neste mês de março pela Assessoria de Comunicação da Camara Municipal. Feirense nascida na avenida Senhor dos Passos, foi a única presa política desta cidade no período da ditadura, um marco inesquecível.

Foi, também, a primeira mulher a assumir a Reitoria da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), fato que marcou a sua trajetória profissional na Educação. E não poderia ser diferente. “Eu nunca sofri nenhuma discriminação por ser mulher”, afirma a aposentada, apaixonada por Literatura, em especial a Francesa, lembrando que na época em que foi reitora (final da década de 1980) só havia mais uma instituição de ensino superior dirigida por mulher, a Universidade Federal de Goiás.

Esse foi apenas dos muitos desafios enfrentados por Yara, enquanto esperava a volta da democracia e o momento de “consertar tudo”. Veio a crise econômica com os governos dos presidentes José Sarney e Fernando Collor de Mello. “Foi duro”, resume.
Juntamente com José Coutinho Estrela e Luciano Ribeiro, ambos professores, Yara foi acusada de incitar estudantes a fazer greves e passeatas, indo de encontro à tendência ditatorial.

“Quem não viveu não fazem ideia do significado desse período de endurecimento e autoritarismo”, diz a educadora, que ainda reconhece a necessidade de defender a liberdade, dos ideais e da expressão, permanentemente ameaçados. E quando fala dessas questões, ela imediatamente lembra de nomes como Fernando Gabeira, Ferreira Gullar e Roberto Freire como referências.

A Reitoria representou um período rico para Yara, casada com o arquiteto Raymundo Pires, com quem tem dois filhos (Ernesto e Bruno), ambos médicos, e também quatro netos. Ela destaca a participação no Conselho de Reitores na Comissão de Educação da Câmara Federal.

Aos 81 anos, ainda lembra da primeira turma da Faculdade Estadual de Educação, bem como da primeira aula ministrada pelo professor José Maria Nunes Marques. Na UEFS, cita momentos marcantes como a aprovação dos cursos de História, Geografia, Ciências e Matemática e criação de Pedagogia, como também a estruturação acadêmica da instituição.

“Arrepender não, mas reformular sim”, afirma, a ex-reitora que foi oficialmente recebida em Cuba, ao ser questionada sobre eventuais dúvidas sobre a própria atuação na Educação. Considera eventuais mudanças de posicionamento algo normal e cita um exemplo: sua cor preferida foi vermelha, por muito tempo; hoje prefere tons pastéis. Aí ela abre parênteses para falar dos próprios professores, do Colégio Estadual, da Escola Normal e da Faculdade, fontes de inspiração para a vida inteira. As aulas de Ciências de Alda Marques, o alto nível intelectual e a visão libertária de Auto de Castro e o protagonismo de Alice de Oliveira Costa, que se tornou Patrona da Academia de Educação de Feira de Santana.

“Eu tenho muita fé em Deus e acredito no poder da fé”, diz, com uma tranquilidade contagiante, ao retomar a Literatura como assunto da conversa, citando escritores franceses interessantes como Albert Camus (O homem nu), Marguerite Duras, Edgar Morin e Simone de Beauvoir, sem esquecer o poeta Charles Baudelaire, cujas obras estão estrategicamente organizadas na estante do seu escritório. Na leitura, se reencontra com a história e a cultura de todos os lugares do mundo. E com a própria história, que inspirou – e ainda inspira – várias gerações.

Fonte: Câmara Municipal de Feira de Santana

Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram