Brasil

Empregadas comprometem salário para pagar babás

Entre os direitos negados às domésticas pela legislação brasileira estão a definição de uma jornada de trabalho, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o seguro-desemprego, o benefício por acidente de trabalho, o adicional por trabalho noturno, a hora extra e o salário-família.

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Agência BrasilAlém de terem negados uma série de direitos garantidos pela lei brasileira a todas as outras categorias, empregadas domésticas enfrentam dificuldades para cuidar de seus próprios filhos, principalmente os mais novos, com menos de 2 anos. Algumas domésticas chegam a comprometer parte do salário ao se verem obrigadas a contratar outras empregadas para auxiliá-las.

Em Brasília, o caso de Maria Cícera Pereira, 45 anos, ilustra bem essa dificuldade, vivida por muitas mulheres que deixam suas casas e seus filhos para cuidar da casa e dos filhos de outras famílias.

Moradora de Taguatinga, cidade-satélite de Brasília, Cícera recebe R$ 900 por mês e comprometia um terço de seu salário para pagar uma babá que cuidava de seu filho recém-nascido, Rafael, e de Gabriel, de 8 anos. Sua jornada de trabalho superava dez horas diárias, sem contar o tempo destinado à sua locomoção.

Sem poder pagar mais pelo serviço, em três meses Maria Cícera perdeu a babá, que encontrou um trabalho com melhores condições. Contratou outra profissional, que ficou em sua casa um ano e seis meses. Quando Rafael completou 2 anos, Cícera decidiu colocá-lo em uma creche.

“Eu gostaria até de pagar um salário maior e assinar a carteira dela, mas não foi possível dentro do meu orçamento. Para compensar, eu dava alguns presentes de vez em quando, como uma blusa ou uma sandália”, contou.

Entre os direitos negados às domésticas pela legislação brasileira estão a definição de uma jornada de trabalho, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o seguro-desemprego, o benefício por acidente de trabalho, o adicional por trabalho noturno, a hora extra e o salário-família.

A história de Cícera reflete o cotidiano de mulheres que deixam suas casas e filhos todos os dias para cuidar da casa e dos filhos de outras famílias. Embora em menor proporção, esse contexto contribui também para que a informalidade não ceda.

Menos de um terço dos trabalhadores domésticos no Brasil tem carteira assinada, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011, apresentada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma semana.
 
O número de mulheres que trabalham como empregadas domésticas para garantir seu sustento e de suas famílias diminuiu nos últimos três anos no país. Ainda assim, elas somam 6,2 milhões de profissionais que, na maioria das vezes, precisam conciliar uma rotina intensa de trabalho com os cuidados de seus próprios lares.

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