O segundo câncer mais frequente entre homens e mulheres brasileiras, o tumor do intestino, do cólon e reto, também conhecido como câncer colorretal, ganha uma atenção especial neste mês. A campanha Março Azul promovida pela Federação Brasileira de Gastroenterologia, a Sociedade Brasileira de Endoscopia e Endoscopia Digestiva (Sobed) e a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) marca a prevenção e a conscientização sobre a doença.
O Acorda Cidade conversou com o médico gastroendoscopista, líder no serviço de motilidade e endoscopia digestiva da Gastros Bahia, Antônio Fábio Teixeira, que esclareceu alguns mitos e verdades sobre o câncer. Na perspectiva de prevenção, ele começou falando sobre a alimentação, fator importante nesse combate.
“A primeira coisa que a gente tem que lembrar é a alimentação. Combater os alimentos embutidos, as carnes ultra processadas, evitar o excesso de carne vermelha. O recomendável é o consumo de 500g por semana. Combater o tabagismo é importante, isso a gente tem que começar cedo com as crianças. Combate à obesidade, ela é um fator ligado diretamente ao câncer de intestino. Evitar o sedentarismo”.
Os hábitos do dia-a-dia são fundamentais para evitar a doença, que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), tem avançado nas populações mais jovens. Conforme as estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), por ano são diagnosticados mais de 40.000 novos casos, com a prevalência aumentando cada vez mais, podendo chegar a 45.000 até 2025.
No ano passado, a doença ficou nos holofotes após a cantora Preta Gil, de 49 anos, ser diagnosticada mesmo sendo considerada uma pessoa jovem para registrar a doença. Segundo o médico, as pesquisas revelam a importância do diagnóstico precoce, devido à alta taxa de cura, se descoberto na fase inicial.
“O paciente pode ser diagnosticado por um pólipo, ele ainda pode ser benigno, chamado de adenoma e estar curado se for feito com a alta qualidade. Se tiver um câncer inicial dentro desse adenoma, a gente vai para um patologista e ele vai definir ou não se há algum risco de passagem dessas células pelo intestino. Caso tenha isso, a gente já conduz o paciente para o oncologista fazer uma avaliação de risco e propondo o início de um tratamento, que pode ser com quimioterapia, ou em alguns casos com complementação de cirurgia”, explicou.
Segundo Antônio Fábio, o diagnóstico precoce pode evitar que em casos de tumores malignos, o paciente fique com a bolsa de colostomia, utilizada para a retirada das fezes. Além da qualidade de vida, ele pode conseguir a cura através da ligação que pode ser feita entre o órgão durante a cirurgia.
Sintomas
Sangramento nas fezes é um dos principais alertas para se preocupar com o câncer do intestino. Para isso, o exame de colonoscopia deve ser realizado para diagnosticar e também prevenir maiores complicações. Sem que haja nenhum sinal da doença, é importante que as pessoas realizem a avaliação a partir dos 40 anos.
“Na maioria das vezes, esse sangue pode ser por uma hemorroida, uma fissura na parede retal, algum trauma na passagem fecal, mas o sangue é sempre um alerta. Em casos da presença de sangue, procure um gastroendoscopista ou um proctologista para que ele faça um exame na borda retal para avaliar se tem algum vaso, alguma inflamação, caso não tenha, a gente passa a ter uma necessidade de fazer a colonoscopia para investigar se tem algum vaso, algum divertículo dentro do intestino ou um pólipo com risco de ser uma lesão mais séria”, revelou.
Veja alguns mitos e verdades explicadas pelo médico Antônio Fábio Teixeira:
A colonoscopia é um exame arriscado e doloroso?
Mito – O paciente é sedado por um anestesista, com todos os protocolos de segurança, monitorado durante todo o procedimento, para não sentir desconforto, permitindo toda a avaliação endoscópica do intestino grosso. O procedimento é seguro, dura de 15 a 30 minutos e é realizado por um profissional especializado.
É recomendável que nesse dia, o paciente evite dirigir, trabalhar ou realizar alguma atividade que exija atenção após o exame e a presença de um acompanhante é indispensável.
O temor sobre a colonoscopia não pode ser superior à consciência sobre seu benefício. Apesar de ser considerado invasivo e exigir um preparo desagradável: além do jejum líquido, pois é preciso realizar uma limpeza do intestino, para uma completa avaliação de toda a superfície interna, chamada de mucosa, para detecção de possíveis alterações superficiais. Para tal, o exame é preciso que os pacientes tomem laxantes horas antes do exame.
Durante o preparo é normal haver cólicas ou desconforto abdominal. Podendo apresentar fezes líquidas em grande quantidade (diarreia). Seguindo corretamente as instruções acima, o cólon estará adequadamente preparado para o exame, permitindo uma boa visualização do intestino grosso.
Mesmo sem apresentar sintomas, preciso realizar exames de diagnóstico?
Verdade – O câncer colorretal costuma ser uma doença silenciosa e assintomática no estágio inicial.
Sinais como alterações nas fezes, tanto na consistência quanto no ritmo, a presença de sangue ou muco, dor e distensão abdominal, anemia e perda de peso não explicada, podem surgir quando a doença já está em um estágio mais avançado.
As mais recentes recomendações da medicina direcionam a realização do exame de colonoscopia a partir dos 40 aos 45 anos, ou 10 anos antes da faixa etária, em caso de histórico de câncer na família. Por exemplo, se alguém tiver um caso, em algum familiar de primeiro grau, aos 50 anos, deve-se iniciar o rastreamento aos 40 anos.
Alimentação é o único fator de risco para o desenvolvimento de câncer colorretal?
Mito – Realmente há alimentos que podem aumentar o risco de desenvolvimento do câncer e outros que ajudam a prevenir. No entanto, essa não é a única causa da incidência do câncer de intestino e do reto: há um conjunto de fatores, como o avançar da idade, sedentarismo, obesidade, tabagismo e excesso de bebidas alcoólicas, que pode contribuir para o surgimento de um tumor maligno.
A retirada de pequenas lesões, chamadas de pólipos, previne o câncer?
Verdade – A colonoscopia é um exame endoscópico que permite a visualização do intestino grosso e eventualmente a parte final do intestino delgado (íleo terminal), por meio de tubo flexível (colonoscópio) introduzido através do ânus.
Durante o exame, entre 15 a 25% dos pacientes são encontradas essas pequenas formações, algumas parecidas com verrugas, outras como um “brócolis”, essas lesões ainda benignas são responsáveis por cerca de 90% da origem do câncer. Quando removidas precocemente, combate-se a evolução do mesmo.
A retirada dos pólipos é realizada pela própria colonoscopia, através de técnicas seguras, prevenindo a evolução e a transformação maligna dessas lesões.
Este procedimento torna também possível identificar o câncer intestinal na fase inicial, possibilitando a sua cura com uma cirurgia ou um procedimento minimamente invasivo. Também pode ser usado para remover amostras de lesões suspeitas enviadas para análise (biópsias), direcionando o melhor tratamento.
Ouça a entrevista na íntegra:
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