Feira de Santana

159 casos de gravidez na adolescência foram registrados em Feira de Santana em 2023; gestantes têm até 16 anos

A gravidez na adolescência pode ser evitada através da educação sexual.

Gravidez na adolescência
Manuel Alejandro/ Leon Pixabay

A primeira semana de fevereiro é dedicada à campanha de Prevenção a Gravidez na Adolescência. Com o propósito de disseminar informações sobre medidas preventivas da gravidez de adolescentes, a data, de 1º a 8 de fevereiro, ainda reforça os fatores e riscos que envolvem a gestação de meninas e jovens entre 10 a 20 anos.

Em Feira de Santana, em 2022, 61 casos de gravidez na adolescência foram registrados em meninas de até 16 anos. Em 2023, esse índice dobrou para 159 casos. O Hospital Inácia Pinto dos Santos, o Hospital da Mulher, recebe diariamente adolescentes que são acompanhadas na gravidez na fase da juventude e realiza medidas socioeducativas para a prevenção desses casos.

Fachada Hospital da Mulher
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

O Acorda Cidade conversou com a médica ginecologista e obstetra, Andréa de Alencar, que destacou os principais fatores para o aumento da gravidez na adolescência em um ano no município. De acordo com a médica, a falta de educação sexual e de orientação são as principais causas para uma gestação inoportuna.

“Os principais fatores, sem dúvida nenhuma, que contribuem para esse aumento de gravidez na adolescência no nosso país é a desinformação, é a falta de educação sexual, é a falta de orientação a respeito dos métodos contraceptivos. Quando a gente fala em educação sexual, não significa estimular a sexualidade precocemente, mas orientar os adolescentes a respeito das consequências que uma relação sexual desprotegida pode trazer para ela, que vai desde doença sexualmente transmissível até gravidez indesejada que vai impactar diretamente com toda a sua vida e todo o seu futuro”, disse.

Dra. Andréa Alencar
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

A gravidez na adolescência, segundo a médica obstetra, é considerada dos 10 aos 20 anos de idade. Além da desinformação, questões emocionais e sociais e a inexistência do uso de anticoncepcionais contribuem para o aumento desta taxa.

“Essa questão da falta de educação sexual, que não é feita aqui no nosso país, nas escolas, por exemplo, nos grupos familiares, não existe uma política direcionada para essa prevenção em relação aos riscos e aos problemas que a gravidez pode trazer para um adolescente. Isso impacta diretamente no aumento dos números de gestantes nessa fase da vida reprodutiva, que a gravidez na adolescência compreende um período de 10 até 20 anos incompleto pela Organização Mundial de Saúde. Mas de 10 até 16 anos, essa taxa é muito alta também e muito mais complicada, porque imagine que uma pessoa entre 10 e 16 anos, ela é totalmente imatura, não só do ponto de vista físico, como psicológico também”.

Riscos

Uma gestação na adolescência pode gerar riscos à saúde não apenas da mãe, como também do recém-nascido. Isso porque, segundo Andréa de Alencar, o corpo de uma adolescente não está apto a engravidar.

Além dos riscos gestacionais, como diabetes e pré-eclâmpsia, a má formação fetal e uma possível pré-maturidade também podem levadas em consideração.

“Basicamente, uma menina, após a puberdade, ela já tem todos os seus caracteres sexuais secundários formados. O último caractere que acontece é justamente a menstruação, que indica que essa menina já tem período fértil. Mas não é porque ela já está com os caracteres sexuais desenvolvidos que ela está apta a engravidar. Na verdade, o ideal seria uma gestação após os 20 anos de idade, porque todos os riscos, não só maternos como fetais, são maiores na adolescência. Os principais problemas relacionados com a gravidez na adolescência são a restrição de crescimento fetal, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, a prematuridade e os internamentos durante a gestação. Então, a gravidez na adolescência, essa gestante é mais suscetível de ter problemas durante a sua gestação. Até porque a grande maioria dessas pacientes adolescentes, elas não têm o pré-natal e isso, consequentemente, vai impactar na qualidade de uma gestação saudável”, destacou.

Segundo a médica, o risco de morte não é devido à idade, e sim devido às consequências que uma gravidez na adolescência pode ter. Além disso, o parto normal é o mais indicado.

“A via de parto em relação à gestante adolescente, vale ressaltar que é sempre o parto vaginal, não indica cesárea porque uma paciente é adolescente, preferencialmente uma menina que engravida, ela vai ser orientada e vai ser estimulada a um parto normal”, reforçou.

Impacto social

O impacto de uma gravidez na vida de uma adolescente não está ligado somente ao psicológico e físico, mas também, ao contexto social em que ela está inserida. Conforme a médica obstetra, muitas mães não contam com a presença do pai, além de terem menos oportunidades de trabalho e de estudo, já que abandonam estes ambientes para cuidar do filho.

“A gravidez precoce vai perpetuar a pobreza nas famílias, porque essa adolescente ela tem muita chance de ter que abandonar a escola, e, consequentemente, ela não vai ter uma formação melhor para ter um emprego melhor, uma colocação no mercado de trabalho. Sem contar que a literatura mostra que as crianças de mães adolescentes, elas têm mais risco de morte. Elas têm menos vínculo afetivo, muitas vezes, elas têm muito mais risco de desnutrição, de exposição, também à violência. Então, assim, é um ciclo de problemas que vai se perpetuando com essa gravidez não planejada, principalmente na fase da adolescência. Então assim, a gravidez na adolescência, ela impacta diretamente na qualidade de vida e no desenvolvimento da vida dessas adolescentes”.

Prevenção

No mercado atual, existem diversos métodos contraceptivos para prevenir uma gravidez indesejada na fase da adolescência. Cada um possui a sua eficácia e podem ser utilizados à longo prazo, reduzindo assim, os índices de mães jovens.

“Pela própria Sociedade Brasileira de Pediatria, os métodos contraceptivos que devem ser ofertados com maior segurança para adolescente são chamados métodos contraceptivos reversíveis de longa duração, que são o diu de cobre, o diu de hormônio e o implante de levonorgestrel. Esses métodos são métodos de longa duração, são reversíveis e não depende da vontade do paciente da lembrança da tomada para ele estar agindo. Então por isso que é tão eficaz nessa fase da vida reprodutiva. Diferente da pílula, diferente da camisinha, da injeção mensal ou trimestral, que vai depender da lembrança e da aderência da paciente ao método. Os métodos de longa duração, uma vez que eles são inseridos na paciente, eles vão estar agindo continuamente”, frisou Andréa Alencar ao Acorda Cidade.

A gravidez na adolescência também pode ser evitada através da educação sexual. A médica ginecologista finalizou ainda destacando a importância da escola e da família no diálogo e no rompimento de ‘tabus’ que podem influenciar na prevenção de uma gravidez prematura.

“Partindo desse princípio, o primeiro ponto é a educação sexual, que poderia ser ofertada nas escolas em relação aos métodos de longa duração, em relação aos riscos que uma paciente corre quando inicia uma vida sexual precocemente. Educação sexual não é estímulo à sexualidade, mas sim a orientação e a responsabilidade que as pessoas têm de ter com o seu corpo. Digamos assim, o ponto chave é justamente a escola e a família. Os pais, eles devem quebrar esse tabu, deixar de lado a vergonha, o medo de conversar com suas filhas sobre a questão da sexualidade, sobre métodos contraceptivos, sobre a orientação sobre a vida. O pai ou a escola não fazem isso, então, ela aprende de forma equivocada com colegas que também não têm experiências. Através, hoje, da internet, a gente vê aí, tem muita questão de pornografia na internet, que isso até estimula de forma errada a sexualidade. Então, quando a gente não assume esse papel enquanto pai e escola, o mundo de forma equivocada vai fazer”, finalizou.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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