Convidado para palestrar na Jornada Pedagógica em Serra Preta nesta quarta-feira (7), o escritor e professor Gabriel Perissé, apresentará, o papel da educação na formação de professores e alunos (veja mais aqui).
Mestre em Literatura Brasileira, Teologia e Doutor em Filosofia da Educação, Gabriel Perissé já escreveu mais 25 livros voltados para a carreira acadêmica. Em suas palestras e cursos, trata especialmente da formação docente, didática, pedagogia, filosofia da educação, leitura criativa, a arte de escrever e formação cristã.
Em um bate-papo descontraído ao Acorda Cidade, Gabriel Perissé destacou os principais desafios da educação atual no país, além do caminho para a valorização dos professores. Inicialmente, o escritor falou da importância do acompanhamento de profissionais da educação na jornada pedagógica.
“A ideia da jornada em si já é bonita. A jornada pedagógica faz pensar em uma formação diária, cotidiana, intensa e contínua. Podemos e devemos fazer investimentos estruturais, na tecnologia, nos livros didáticos, porém nada disso, essa superestrutura toda não funciona se não houver professores formados, valorizados, entusiasmados, seguros, uma autoridade de quem vem de dentro, com conhecimento, que acredita na ciência, na didática, então, todos os esforços de uma jornada pedagógica tem a ver com a valorização real intrínseca do professor, caso contrário, podemos cair em uma demagogia educacional, falar coisas bonitas sobre a educação, mas não chegar ao alvo que é a relação dos professores aos seus alunos”, contou.
Expectativa
Nas palestras que realiza em todo o país, o professor e escritor ressalta a importância da troca de conhecimento entre os profissionais de realidades distintas. Gabriel Perissé falou sobre sua participação no evento em Serra Preta.
“Felizmente, faço muitos eventos educacionais que são oportunidade para que também os professores de cada local tenham acesso, de outras realidades, de outras cidades, estados, de outras formações, porque isso dará um caráter nacional à educação local. Se você está em Serra Preta e tem acesso a informação de educadores que vêm do Sul, do Centro-Oeste e que trazem suas pesquisas, suas visões de mundo, você está enriquecendo a formação dos professores de Serra Preta e dando a eles a importância no seu local. O local tem que conversar com o universal e vice-versa. É assim que conseguimos contribuir em uma unidade na educação”.
Valorização do profissional
Além da formação profissional, cuidar do psicológico e de todo o contexto físico do docente é crucial para que ele ofereça uma educação de qualidade aos seus alunos. Assim, segundo Gabriel Perissé, o professor contribuirá também para a formação de um cidadão.
“Seguindo a linha de raciocínio da formação docente, um tema importantíssimo é o cuidado com os professores e do autocuidado dos professores, eles se cuidarem, cuidarem da saúde mental, física, profissional, saúde relacional. Precisamos cuidar dos professores, porque aí podemos cuidar dos alunos. A situação dos alunos muitas vezes é problemática em razão da vida do professor que é problemática, das suas expectativas de mercado profissional de trabalho que não são as melhores, então essa fragilidade do jovem e da criança que chega na escola precisando de ajuda, de compreensão e de apoio, só vai ocorrer essa ajuda, se os professores estiverem seguros, apoiados. É um ciclo, precisamos cuidar dos professores para que eles cuidem da escola e quem é da área de educação sabe que de tédio jamais morrerá”, disse.
Embora esteja evoluindo, para o escritor, a valorização de professores no Brasil ainda precisa avançar. Porém, é dever dos poderes públicos aplicarem medidas para que ocorra esta mudança. Segundo o ele, a educação é a palavra-chave para mudar o retrato da sociedade.
“Infelizmente, a valorização dos professores, embora tenha melhorado em alguns aspectos nos últimos anos ou décadas, mesmo assim está muito aquém. O problema maior da escola em si, é que ela é o retrato da sociedade. Tudo o que acontece na sociedade, vai desembocar na escola. A violência familiar, desemprego, falta de saneamento básico, fome, todos os problemas sociais estão caindo e recaindo sobre as costas dos professores. Portanto, não é só a Secretaria de Educação que tem que cuidar da educação, toda a gestão municipal, estadual, federal, todos os ministérios têm que cuidar da educação. Se não cuidarmos todos da educação, não teremos nada a fazer, teremos que administrar a criminalidade, presídios, teremos que administrar subempregos, problemas de ordem mental. Então, se nós entendermos a educação como a palavra chave, se trouxermos os discursos para a realidade, assim, teremos um país. Um país que se preocupa com os cidadãos, com a juventude”, frisou.
Ensino em Tempo Integral
Questionado sobre a modalidade de ensino em tempo integral para a formação de estudantes, Gabriel Perissé reforçou a relevância desta prática em promover, não só a parte pedagógica, mas na mudança da realidade em que o aluno está incluso.
“Escola em tempo integral é fundamental para a evolução da educação no país. Grandes educadores já defendiam essa ideia. Precisamos trazer as crianças para dentro da escola. É claro que isso significa também que devemos preparar melhor os professores, criar mais oportunidade dentro da escola, porque aí tem que ter aula, atividades esportivas, profissionais, de recreação, lazer, de convívio. É preciso estruturar a escola para que ela dê conta disso para salvar os jovens de um outro ambiente, de criminalidade, de violência e trazer a criança e o jovem para dentro da escola. A escola está no centro da sociedade, não é só uma etapa da vida, é isso e muito mais, é a preparação de um povo para a vida adulta. Toda vez que um adulto percebe que tem mais escolaridade, mais discernimento, é importante para a criança porque também receberá essa ideia de que a escola e o estudo são fundamentais para estudar a vida inteira, temos que estudar a vida, nos preparar para a vida inteira porque a própria sociedade evolui, fica mais complexa e os desafios aumentam”.
Por fim, o escritor ainda destacou que a aprendizagem pode contribuir com a formação de cidadãos. Contudo, deve ser levado em consideração o que é relevante para o aprendizado.
“Todo ser humano gosta de aprender. Essa é uma frase que está no começo do tratado de metafísica de Aristóteles. Todo mundo gosta de aprender, mas é preciso saber o que. Podemos aprender coisas inúteis. Fala-se hoje de uma complexidade irrelevante. Para que eu quero saber coisas irrelevantes, se ocupam um espaço mental, ocupa a memória, se me deixam ansioso? Se eu aproveitar essa energia para a ciência, para a pesquisa, terá um país com inteligência de ponta”, concluiu.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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