Quando as crianças ficam doentes, todo cuidado é pouco. Qualquer sintoma pode ser o indicativo de algo maior, já que elas são pequenas e muitas vezes não conseguem expressar o que estão sentindo. A febre é uma dessas respostas que o corpo pode dar para alertar que está combatendo uma infecção ou alguma irregularidade. No entanto, como discernir entre uma febre passageira e aquela que pode ser um sinal de urgente para algo mais grave?
Nos últimos dias o triste caso do pequeno Brayan Bastos Barreto, de um ano e três meses, repercutiu em todo o estado. Os pais da criança acusam o Hospital Estadual da Criança (HEC) de negar atendimento baseado no critério de que o menino não estava com uma febre acima de 39º.
Buscando entender melhor sobre o que uma febre infantil pode indicar, o Acorda Cidade conversou o pediatra e infectologista pediátrico, Igo Oliveira de Araújo, sobre essa enfermidade que atinge bastante as crianças.
“A febre é um sinal que nosso corpo está dando de que existe algo de errado com ele e que na maioria das vezes, está ligado às doenças infecciosas; e quando estamos diante de crianças menores de cinco anos, isso é viral”.
Para o médico, independente da febre, dos intervalos e de seus graus, quando a criança reage a esse sintoma é de grande valia, pois ela está indicando algum problema em seu corpo. Enquanto pediatra, ele apontou sinais que podem agravar uma febre infantil.
“Uma febre que vem a cada duas ou a cada quatro horas pode ser muito mais importante do que uma febre de 40º ou 39º. É claro que, uma febre de 40º, a pessoa fica muito mais preocupada, mas a maior preocupação que deve se ter é aos sinais que essa criança está dando. A criança que está abatida, que em momento nenhum reage, aquele que não está se hidratando, se alimentando”, pontuou.
É imprescindível perceber que um adulto com febre pode até dormir, descansar e ficar sem se alimentar, mas no caso das crianças, isso pode ser um agravante em potencial.
Segundo o pediatra, mundialmente, 5% das crianças que têm febre podem ter a crise convulsiva febril e isso é um risco, principalmente quando este corpo pode não está preparado para passar por isso.
“Uma criança que está cansada, que tem manchas pelo corpo que parecem de cigarros, parecendo umas bolinhas que a gente chama de meningococemia, uma criança que está dormindo muito e nunca reage, ou seja, são sinais que a gente coloca com a febre que vão determinar riscos ou não”, explicou.
Em casa, os pais devem ser os primeiros avaliadores de seus filhos. Para entender que a febre pode ser algo mais grave, avaliar mudanças no comportamento dos pequenos é o primeiro passo para buscar ajuda. Veja alguns exemplos.
“Uma criança com febre, garganta inflamada e tosse, eu só vou me preocupar se estiver cansando (anormalmente). Se ela tiver vômito, diarreia e febre, eu me preocupo caso ela esteja desidratando, com a boca seca, diminuindo a quantidade de xixi. Então, a gente vai circular um pouquinho e perceber que ela não é nada para gente se preocupar. A febre é uma aliada. Eu preciso documentar o que está tendo além da febre”, afirmou.
Segundo o médico, divergências entre profissionais podem ocorrer. Ele trouxe algumas concepções para entender a importância de avaliar os graus da febre.
“Uma temperatura de 35.5 a 37º em bebês, ainda mais aqueles que amamentam, é aceitável. Quando você pega uma criança maior, ela vai circular entre 36º e 37º. Então, durante o dia que tem muito sol, eu não preciso gastar tanta energia para meu corpo aumentar essa temperatura. Mas durante a noite, que a temperatura baixa, eu preciso já gastar mais energia. E outra coisa que é muito comum, bebês, a cabeça dele, é uma área muito grande. Então, tem uma dimensão maior do que o corpo e é uma área que é muito vascularizada. Nós pediatras ouvimos dos pais que a febre só está na cabeça. A cabecinha está quente, mas quando bota o termômetro não dá”, explicou.
De acordo com o pediatra, uma febre baixa é classificada quando os graus podem marcar 39,5º para baixo. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) considera uma hipotermia, quando a temperatura está abaixo de 35º. O normal é 36º e 37º, acima de 37.3º já é considerado por alguns especialistas como febre. Por isso, para realizar uma medicação, é importante se atender aos sinais de dor, de desconforto, quietude, algo de anormal.
“39,5º, 40º já é considerada febre alta e acima de 41º, eu já tenho que pensar em uma hipertermia e aí sim, eu tenho que avaliar essa criança para afastar outras causas não infecciosas”.
Diante de uma febre menor de 40º, o médico indica que os pais mediquem as crianças, mas sempre atentas à resposta e aos sintomas. Medicar é em caso apenas da temperatura elevada.
“Os pais têm que entender que medicação sem um fundamento, sem uma necessidade, é uma droga.Toda droga, se você ler na bula, vai encontrar vários efeitos adversos. Eu sempre oriento que aquela criança que está com febre e abatida deve ser medicada. Temperaturas altas também devem ser medicadas com o antitérmico que a família está mais acostumada a usar ou que o pediatra orienta. Eu costumo orientar sempre a dipirona ou paracetamol. Evite ao máximo usar anti-inflamatório”, indicou.
Além disso, o médico explicou que o resfriamento, o banho geladinho na criança, não é recomendado pela SBP.
“Não precisa tomar banho gelado, pode ser o banho morninho mesmo, não tem problema nenhum. A gente vai estar sempre avaliando essa criança como um todo, precisando medicar, a gente vai estar medicando e nas primeiras 48h essa febre desse jeito. Após 48h e 72h, essa febre tem que começar a aumentar o intervalo. Aquela febre que estava a cada seis passou para oito em oito e isso vai me dando tranquilidade”, explicou.
Ele ainda pontuou que há vírus que pode fazer 60 dias no corpo, mas geralmente em até cinco dias de sintomas pode estar incluído como uma infecção viral.
Para finalizar, o médico explicou que em alguns casos, as crianças não vão necessitar de exames. Os diagnósticos de muitas doenças infantis podem ser realizados através da avaliação física apenas do médico.
É fundamental considerar os sintomas, a evolução das doenças e a frequência dos mesmos para poder realizar um diagnóstico preciso. A febre por si só não é o único indicativo de algo grave, mas sim um sintoma que deve ser avaliado em conjunto com outros sinais. Contudo, é bom lembrar que cada caso é único e requer uma abordagem individualizada.
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Com informações da jornalista Iasmim Santos do Acorda Cidade
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