No último dia 28 de outubro, aconteceu uma audiência pública na Casa Assembleia Legislativa da Bahia para discutir diversas reivindicações dos trabalhadores de transporte por aplicativo. Entre as pautas estavam a precarização do serviço digital e a insegurança do motorista.
Em entrevista ao Acorda Cidade, o representante da categoria, Pedro Neto Bastos de Freitas, mais conhecido como Pedro Uber Fest, comentou sobre as mudanças reivindicadas que devem ajudar a aumentar a segurança dos trabalhadores.
“Em primeiro lugar, viagens para terceiros, principalmente de menores, nós não temos uma garantia de quem é a pessoa que está embarcando, se é a pessoa solicitante, ou não e muitos passageiros menores estão embarcando também nas viagens e isso nos traz insegurança, porque um menor precisa de um cuidado mais apurado. Tem a questão também das áreas de risco, onde a própria segurança pública sabe da insegurança e deveria ter limitações dessas zonas igual existe, por exemplo, em São Paulo e Rio de Janeiro, onde você só pode embarcar ou desembarcar até aquela área. Passou dali, o aplicativo não permite mais realizações de chamadas”, explicou.
Outro problema apontado por Pedro são os passageiros que criam contas falsas, sem identificação de CPF e foto, por exemplo. Em Feira, muitos motoristas já foram alvos de criminosos, inclusive, muitos já perderam a vida durante o serviço. Este ano, a categoria protestou após a morte de um colega.
“Isso é muito importante para que nós tenhamos segurança e saber quem está embarcando no nosso veículo”, pontuou.
Segundo Pedro, algumas corridas podem ser canceladas ou nem aceitas a depender do grau de risco avaliado pelo motorista. O horário e o local de embarque são as primeiras avaliações realizadas por eles.
“Dificilmente nós vamos embarcar alguém à noite, no meio da rua, infelizmente porque não nos traz segurança. A gente não sabe onde ela estava e nem muito menos para onde ela vai”, explicou.
De acordo com o motorista, atualmente as plataformas estão pagando em torno de R$ 14,00 a R$ 25 reais em 15 quilômetros percorridos. Muitos deles utilizam a estratégia de pegar os passageiros que estejam próximos aos veículos, não gastando com deslocamento até eles.
“Se você fizer essa viagem à noite, não é aconselhável que você fique parado nessa zona de risco, porque aumenta as possibilidades de um assalto”, destacou.
Pedro participou da audiência pública e relatou ao portal Acorda Cidade, que um dos assuntos debatidos foi o valor da viagem que deve acompanhar a variação do valor do combustível, que segundo ele, não está sendo atualizado. Ele falou sobre outras demandas.
“Foi solicitado também as plataformas Uber e 99 que elas instalassem um escritório para que os usuários, no caso motorista pudessem também ter condições de resolver algum problema, por mais simples que seja, por exemplo, um motorista trocou de celular e aí dá duplicidade na conta. É uma coisa simples, porque às vezes eles pensam que você está fraudando sua conta, mas, você só está trocando de celular. O escritório poderá identificar quem é você e fazer a liberação da sua conta”, observou.
Segundo Pedro, em Feira já ultrapassam mais de 10 mil motoristas. Por isso eles reivindicam que seja criado um escritório também na cidade, ao invés de se deslocarem para Salvador.
Sustento
Segundo o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), o Brasil possui mais de 1.660.000 pessoas trabalhando como motoristas ou entregadores de aplicativos. O estudo realizado pelo Cebrap e a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) ainda revelou que o perfil dos motoristas são majoritariamente homens com idade média entre 39 anos, pretos ou pardos, com ensino médio completo.
Pedro já trabalhou com carro alugado e sabe bem as dificuldades que enfrentou e enfrenta para fazer as contas fecharem ao fim do mês. Ele contou como faz para tirar seu sustento através desta nova profissão não regulamentada.
“Eu já tive a oportunidade ou infelicidade de trabalhar com carro alugado, pagava R$ 595,00 reais por semana. Realmente é muito doloroso, dá para pagar, agora você também não tem vida social. Tem que trabalhar muito, de segunda a segunda, se você quiser tirar um dia de descanso, você tem que pegar dois, três dias da semana e trabalhar 15h, 18h, praticamente, nem dormir para poder pagar o aluguel, colocar o combustível que não é barato e sobrar o mínimo para você se alimentar ou viver, porque hoje em dia nós não estamos tendo condições de poder fazer planejamentos”, relatou.
Muitos começam pelo turno da manhã e só param à noite.
“Eles saem de casa 5h ou 6h, trabalham até 8h, 9h, 10h. Outros já não gostam tanto de trabalhar pela manhã devido ao trânsito, saem de casa 4h, 5h, trabalham até 2h, 3h, 4h da manhã”, contou Bruno.
Após a audiência pública, a categoria tem se organizado para estreitar laços, inclusive com a segurança pública, para discutir e chegar às melhorias que os motoristas cobram.
“Tivemos a oportunidade de conversar com o Coronel Lopes e com servidores do CPR-L (Comando de Policiamento Regional Leste), para que nós pudéssemos estreitar essa relação e pleitear a questão da insegurança do motorista, especificamente porque estamos nos aproximando do final de ano, que a quantidade de assaltos, roubos e furtos aos motoristas infelizmente aumentam nesse período”, ressaltou.
O motorista explicou que já trabalhou em outras cidades, mas em Feira o índice de violência é muito mais alto, o que requer uma atenção maior à segurança do motorista. Além da cooperação dos órgãos públicos, ele pediu compreensão por parte dos usuários da plataforma que também sofrem com a falta de organização dos aplicativos.
“Todos os usuários da plataforma precisam compreender que somos trabalhadores. Nós não temos a intenção de lesar, nem tirar nada de ninguém, mas nós precisamos levar o nosso pão para casa, então por muitas vezes nós não aceitamos algumas viagens, porque realmente o valor não tem condições e pedimos desculpas. Sabemos que o problema não é do usuário, mas sim da plataforma que nos jogam uns contra os outros, colocando valores de corridas baratos, gerando insatisfação para o passageiro e indignação para o motorista que não merece receber esse valor absurdo”, finalizou.
Na última terça (5), o Supremo Tribunal Federal (STF) negou o vínculo trabalhista entre motoristas de aplicativos e as empresas, na prerrogativa que os trabalhadores possuem domínio sobre o trabalho desenvolvido. Entretanto, através dos relatos de outros motoristas podemos confirmar a sobrecarga em um serviço que não há lucro, nem segurança financeira. Atualmente, especialistas estão denominando de ‘escravidão digital’, quando o estado retira suas responsabilidades e deixa o cidadão entregue as plataformas sem nenhuma proteção, principalmente da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas).
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Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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