Educação

Professores em greve preferem pôr seus filhos em escolas privadas

O assunto virou motivo de farpas virtuais entre o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Marcelo Nilo, e o presidente da Associação dos Trabalhadores em Educação (APLB), Rui Oliveira

 

Acorda Cidade
 
Salas de aula com temperatura de até 38°C, superlotação, alimentação inadequada, falta de professores, banheiros quebrados… Se fosse uma lista de chamada, segundo professores da rede estadual de ensino, esses e outros problemas responderiam “presente” nos colégios públicos da Bahia.
 
Na busca para manter seus filhos longe dessas más companhias que influenciam no aprendizado dos estudantes e desacreditados do sistema de ensino atual, integrantes do comando grevistaque mantêm as escolas da rede estadual paradas 108 diaspreferem colocar suas crias em colégios particulares.
 
“Trabalho 40 horas semanais em escola pública e jamais colocaria meus filhos nela. Quem não faria um sacrifício para dar o melhor ao seu filho?”, argumentou a professora de Matemática Valdice Borges, que participa da organização do movimento.
 
O assunto virou motivo de farpas virtuais entre o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Marcelo Nilo, e o presidente da Associação dos Trabalhadores em Educação (APLB), Rui Oliveira.
 
No twitter,  os docentes provocaram o parlamentar questionando em qual rede de ensino os filhos dele estudam ou estudaram. A alfinetada ocorreu um dia após a desocupação do saguão Deputado Nestor Duarte, sexta-feira passada, onde os professores acampavam desde o dia 11 de abril.
 
Nilo respondeu: “Eu estudei em Escola Publica. O filho do Prof Rui estuda na particular”, cutucou no microblog. Um usuário complementou: “O filho de Rui estuda na escola particular como seus filhos estudaram, @depmarcelonilo. Ou a escola pública é boa e vcs gastam $ por hobby?”.
 
O presidente da APLB não quis comentar o assunto. “A minha vida pessoal diz respeito a mim e a minha família. Não é da conta de vocês. Marcelo Nilo é um desqualificado que quer se promover em cima do movimento dos professores”, bradou Rui, no novo QG da categoria – o Colégio Central.
 
A professora Valdice concordou com a posição de Rui Oliveira e complementou: “Vendi confecções e perfumaria para manter meus três filhos em colégios particulares. Até falta de água, a gente encara. Se não levar minha garrafa, fico com a garganta seca. Imagine como os alunos não sofrem”, refletiu.
 
A coordenadora pedagógica e integrante do movimento grevista, Edenice Santana, afirmou que seus filhos estudaram em escolas públicas por falta de condições financeiras e questionou a qualificação de parte da grade de professores em salas de aula.
 
“As escolas estão cheias de Reda (Regime Especial de Direito Administrativo) e estagiários em formação. Quem quer colocar seus filhos numa escola onde a secretaria de Educação deixa faltar  tudo?”. 
 
Mudança 
 
O professor de Artes e dirigente sindical da APLB, Paulo Filgueiras, ressaltou as mudanças ocorridas na escola pública como justificativa para manter seu filho na rede privada. “A escola pública se respeitava. a elite – como Marcelo Nilofrequentava esses colégios, que eram de alta qualidade. Quem ia para particular era relapso e incompetente. Era papai pagou, filhinho passou”, recordou.
 
Ele ainda matriculou o filho de 17 anos em colégio estadual, mas voltou atrás. “A realidade hoje é outra. Na última hora, minha mulher apelou para que ele não fosse para o ensino público. O pouco dinheiro que ganho é pra pagar a mensalidade”, ressaltou Filgueiras.
 
Ele defendeu a criação de um projeto de lei que determine que os filhos de todos os servidores públicos estudem em colégios sob a coordenação do Poder Executivo. “Se existisse, eu seria o primeiro a colocar meu filho”, assegurou.
 
Uma das principais interlocutoras do movimento grevista, a professora Vanessa Matos, ainda não é mãe, mas espera que possa ver seus filhos em colégios públicos.  “Cada qual escolhe onde seu filho vai estudar. Espero que o meu possa ter acesso a uma educação pública de qualidade. É por essas melhorias que estamos parados mais de três meses”, defendeu.
 
O diretor de organização da APLB, José Dias, lembrou que o filho estuda em colégio estadual. “Estou preocupado com o futuro dele, mas não vou tirá-lo da rede pública, apesar de não haver qualidade nos aspectos estruturais e, em certos casos, pedagógicos”, disse.
 
Fonte: Correio*
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