A tradição de decorar a casa neste período natalino com diversas versões do nascimento de Jesus Cristo, ganha uma nova forma a cada ano. Em Feira de Santana, a farmacêutica aposentada Auristela Almeida Melo, de 67 anos, monta presépios em sua residência há 11 anos. Por trás da decoração, ela conta que há um significado de amor e da lembrança que Cristo representa na vida das pessoas e que independente de raça, religião, poder social, todos comemoram o seu nascimento.
Auristela não economiza esforços quando a época do Natal está chegando e já se organiza para planejar e executar a decoração do Natal. Ao Acorda Cidade, ela contou o que a motiva a montar presépios.
“Tudo começou pela minha mãe, que ela gostava de casa cheia. Eu comecei com um pequeno presépio em cima de uma banqueta e disso foi para o chão e ele foi aumentando de tamanho”, contou.
Segundo o cristianismo, no século Xlll, São Francisco de Assis criou o primeiro presépio da história e foi influenciando os cristãos em todo o mundo. Conforme a Igreja Católica, ele deve ser montado no primeiro advento – tempo de preparação para o Natal – e desmontado em 6 de janeiro, com a celebração dos Três Reis Magos.
“Foi no ano de 1223, que ele queria mostrar aos camponeses, como foi o nascimento de Cristo. Então, na cidade entre Roma e Assis, tinha um senhor que era muito amigo dele, João, de grande nobreza, mas tinha uma nobreza muito grande de espírito, aí ele fez o contato com essa pessoa e resolveu construir o primeiro presépio do mundo, para mostrar aos camponeses, às pessoas, o nascimento de Jesus Cristo. E assim o presépio foi se fundindo em toda a Europa. Aqui no Brasil, a primeira cidade foi Olinda, em Pernambuco, no século XVII, através de um religioso, Gaspar de Santo Agostinho”, explicou Auristela ao Acorda Cidade.
Auristela contou que a propagação da fé e a admiração pelo santo foi outro incentivo que recebeu para continuar com o presépio.
A aposentada perdeu sua mãe, de 100 anos de idade, em agosto deste ano. O costume era realizar a ornamentação do Natal na companhia e nas brincadeiras dela. Agora, a filha dá continuidade a essa tradição com as recordações que darão força para que a família continue se reunindo e se aconchegando nos finais de ano.
“Eu ficava sentada fazendo e quando eu estava montando esse presépio, eu lembrava dela, o que ela fazia. ‘Você ficar sentada, eu não estou vendo você fazer nada’, dizia. Porque eu ficava assim, a gente bota de um jeito, depois muda de outro jeito e ela fica fazendo pressão: quero ver quando é que vai terminar”, contou.
Com muita delicadeza e riqueza de detalhes, o presépio de Auristela foi montado em uma semana. Geralmente ela monta sozinha, mas este ano contou com a ajuda de uma prima. Ela fala sobre os elementos que estão compondo sua decoração.
A montagem começou com antecedência para celebrar o Natal com a família, os amigos, e os simpatizantes, que também comparecem para prestigiar a obra de arte.
“Primeiro tem amor e representa o nascimento de Jesus Cristo. Porque eu acho que o foco do Natal deve ser Jesus, a humildade, o amor, tudo o que ele pregou. Que a gente possa levar isso na vida da gente em relação às pessoas. Porque o mundo está muito violento. Se a gente vivesse em paz, seguindo os ensinamentos dele, a paz existe e existiria. O meu presépio tem vários países. Temos presépios da Espanha, Holanda, da Áustria, Hungria, Peru, México e Portugal. Temos também de Olinda, as representações das imagens. Temos também que não podemos esquecer a nossa terra, o Nordeste, que é de Olinda, dos netos de mestres vitalino”, descreveu.
Algumas representações de presépios, que estão dentro da obra feita por Auristela, foram adquiridas por ela e outras foram doadas pelas pessoas que já sabiam da sua tradição e gostariam de contribuir. Algumas peças foram trazidas de Mucugê, na Chapada Diamantina.
A aposentada brinca que monta o presépio todo, mas não consegue decorar uma árvore de Natal. Para ela, a parte mais desafiadora é pôr o papel de base, no fundo, mas o restante ela tira de letra com a ajuda da iluminação divina de Deus.
“Eu falo assim: meu Deus, ó Espírito Santo, me ilumine para eu fazer isso do jeito que as pessoas enxergam e não que eu tenha vaidade, mas que as pessoas vejam com carinho e sintam a presença realmente do dono da festa”, afirmou.
Motivos não faltam para que Auristela continue montando tradicionalmente o presépio. A presença dos sobrinhos, das crianças, vizinhos e simpatizantes que vão até a casa prestigiar a obra de arte é um deles; o carinho que sua mãe tinha pelo significado da festa e as lembranças da casa cheia são memórias preservadas através da continuidade da atividade, além disso, a importante tarefa que é propagar a vida de Jesus e os ensinamentos que ele já deixava com a sua chegada.
“Enquanto tiver vida e saúde, eu vou continuar mantendo para dar continuidade, mostrar às pessoas a importância do nascimento de Jesus Cristo. Mais de 11 anos. Muitas pessoas vêm aqui visitar. Geralmente é para desmontar em 6 de janeiro, que é o dia, mas esse ano mesmo, eu desmontei em maio, porque a minha mãe tinha completado 100 anos e com os netos, os bisnetos queriam ver, aí ela pediu: deixe que é para eles, quando chegam eles encontraram o presépio”, relatou.
Tudo é feito com muito zelo, desde a montagem até a desmontagem, para que todo ano possa ser realizado. Neste Natal, o presépio de Auristela convida a todos para refletir sobre a beleza das pequenas coisas da vida. Ela finaliza deixando boas felicitações.
“Desejo às pessoas um Natal de paz, que elas reflitam sobre a oração de São Francisco de Assis, que é uma oração muito bonita, que fala da paz, do amor entre os seres humanos, e que sigam também os ensinamentos de Cristo”.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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