Samu de Feira

Técnico auxiliar do Samu denuncia precarização, perseguição e condições insalubres de trabalho 

No início do mês, o diretor do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais, Wilson Carlos Santana, também relatou as mesmas condições.

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Foto: Paulo José/Acorda Cidade

A precariedade do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que atende Feira de Santana e região, mais uma vez está sendo denunciada. Desta vez pelo técnico auxiliar de Regulação Médica, Rafael Silva. No início deste mês, o diretor do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais, Wilson Carlos Santana Santos, também buscou a reportagem do Acorda Cidade para relatar as irregularidades que estão ocorrendo, principalmente relacionadas às condições de trabalho. 

Em entrevista ao Acorda Cidade, Rafael confirmou que a equipe do Samu de Feira de Santana atende a cidade e outras como Santa Bárbara, Santo Estevão, Amélia Rodrigues, Conceição do Jacuípe, Irará e Coração de Maria. Apesar disso, segundo ele, em torno de 10 ambulâncias estão em funcionamento, situação que piora à noite, quando apenas 3 ou 4 permanecem em circulação. 

Rafael Silva técnico auxiliar de regulação médica do SAMU ft paulo josé acorda cidade1
Rafael Silva Foto: Paulo José/Acorda Cidade

“A gente tinha uma escala de 14 plantões, de 12h, e a coordenação está impondo a gente, a partir de dezembro, trabalhar numa escala de 28 plantões de 6h, alegando que, depois da vinda do pessoal do Reda, que são 30h semanais, já visto que somos 40, como forma de perseguir os funcionários mais antigos, ela está impondo para alguns esses 28 plantões de 6h, e para outros ela está deixando os 13 ou 14 plantões de 12h”, disse Rafael ao Acorda Cidade. 

O funcionário já está no Samu há 17 anos. No início, ele salientou que a escala era de 12h, mas que neste momento, a gestão resolveu alterar como forma de retaliação. 

“A gente vinha trabalhando nessa escala de plantões de 12h, e só agora, a fim de perseguir, ela resolveu mudar. Para você ter ideia, a gente tem cinco anos sem receber fardamento, o pessoal que trabalha em campo, que fica na ambulância, está sem macacão, quando rasga precisa comprar do bolso, para poder ir para a ocorrência uniformizado. Trabalhamos de forma insalubre, falta papel higiênico, faltam itens básicos, falta água mineral. A gente que compra”, denunciou. 

Segundo Rafael, há mais de um ano que o Samu está sem sistema e a equipe está tendo que realizar o cadastro e a fichas das pessoas que entram em contato, pedindo socorro, à mão. 

“Às vezes, o solicitante está do outro lado da linha e não entende a demora na gente conseguir pegar todos os dados. É porque a gente faz a ficha à mão mesmo. Está sem sistema há mais de um ano. Eu fico indignado, porque pode ser uma família minha, pode ser um parente meu, e a demora vai ser a mesma”, desabafou.

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Além disso, Rafael explicou que só resolveu se manifestar nesse momento, porque estava com medo de maiores retaliações, mas que, conseguiu na justiça o direito de estabilidade no contrato feito com primeiros trabalhadores da rede. 

“A prefeitura tem que fazer valer o que está acordado em contrato. São mais ou menos de 80 a 100 pessoas que têm esse contrato antigo. E hoje a gente não tem medo de falar mais. É como eu digo, o Samu não é meu, não é do prefeito, não é de Maísa, o Samu é do povo e está ali para atender o povo. E eu como cidadão, eu não admito a precariedade que está hoje, a gente sendo coagido a ficar calado esse tempo todo”, disse. 

Rafael acrescentou que tem o apoio dos colegas para realizar a reivindicação e que o que ele gostaria é que a precariedade do serviço fosse resolvida o mais breve possível, porque atinge principalmente a população. 

“Não é justo ver uma ambulância faltar um aparelho, ou ter o aparelho, mas não funciona. Não é justo o colega chegar para trabalhar na base do Corpo de Bombeiros, que hoje a gente tem uma base lá no Corpo de Bombeiros, e ter horário para ligar o ar-condicionado, quer dizer, durante o dia, só pode ligar o ar-condicionado de meio-dia até 15h; o colega fica com aquele macacão que não pode tirar. À noite só pode ligar das 22h até 6h. Então assim, eu estou aqui, botando meu ‘braço na seringa’ por todo mundo. Eu sei que eu vou sofrer retaliação, não tenho dúvida, o prefeito pode me demitir amanhã, mas o povo vai cobrar dele. Quem vai cobrar do prefeito é o povo”, pontuou.

Retorno da Coordenação do Samu 

Em resposta às reivindicações, Maísa Macedo, coordenadora do Samu, falou ao Acorda Cidade que o interesse em atender à população sempre estará na frente de interesses individuais. 

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Maísa Macedo Foto: Paulo José/Acorda Cidade

“Dizer que a gestão de Feira de Santana, que a gestão da saúde e a gestão do Samu trabalham na perspectiva de responder às demandas e necessidades da população, que os materiais disponíveis, gerenciados e organizados no serviço, são diuturnamente disponibilizados a partir das demandas e dos nossos indicadores de saúde”, declarou.

Em relação à perseguição relatada por Rafael, além da falta de material, da frota sucateada e a falta de fardamento, a coordenadora respondeu que não existe a retaliação e que, a equipe atua profissionalmente, distribuindo o pessoal conforme a organização da escala. Ela prestou mais esclarecimentos sobre a precarização do serviço. 

“Pela lei, as pessoas que trabalham como telefonista, são seis horas por turno. Então, nós seguimos o que está preconizado na legislação. Referente aos equipamentos e materiais, todos esses equipamentos, todos os insumos, medicamentos, são solicitados e direcionados conforme a licitação. E à medida que esses insumos, materiais de consumo e materiais permanentes chegam, eles são distribuídos e direcionados para o acolhimento e atendimento à população”, declarou.

Maísa ainda ressaltou que o Samu é um serviço de urgência que jamais deve se sobrepor acima da necessidade da população. 

“Precisamos compreender que os cenários mudam, os conceitos evoluem e nós precisamos evoluir, mudar, transformar, sempre na perspectiva de responder às demandas e interesses da população e não o meu interesse individual, o meu interesse pessoal”, disse ao Acorda Cidade.  

A coordenadora ainda pontuou o trabalho realizado pela equipe, relatando que todos estão disponíveis para operacionalizar as ações que estão previstas no SUS, na Política Nacional de Atenção às Urgências e no Samu. Ela também falou sobre a frota do Samu.

“Nós temos cinco ambulâncias novas que recebemos esse ano e as outras cinco têm menos de cinco anos de uso. Agora nós precisamos compreender que carros quebram, precisam de revisão e precisam ir para a oficina. Inclusive essa revisão e essa ida para a oficina é para poder dar à população um conforto, um atendimento melhor”, finalizou. 

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Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade

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