Neste dia Nacional do Trigo, 10 de novembro, o segundo cereal mais produzido no mundo, que é a base para alimentos como farinhas, bolos, massas e bebidas como cervejas, a nutricionista Yzana Rios conversou com o Acorda Cidade sobre a relação do grão com os celíacos, pessoas que possui a doença autoimune causada pela intolerância ao glúten, proteína encontrada no trigo e em outros alimentos.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra brasileira de 2022 atingiu 9,5 milhões, o que garante o Brasil como um dos maiores produtores mundiais. Durante a entrevista, a nutricionista disse que o Dia do Trigo foi criado com o objetivo de parabenizar os produtores do grão e marcar a sua história ao longo da humanidade.
“O Dia Nacional do Trigo tem uma importância muito mais comercial e cultural do que em relação à proteção para os doentes celíacos porque a data foi criada mais para parabenizar a indústria de alimentos em relação à utilização do próprio trigo e do glúten para a produção dos alimentos, que tem realmente um peso na alimentação nacional, com a confecção de pães, biscoitos, de uma maneira geral. Em relação ao celíaco, não tem um impacto positivo porque o celíaco não pode ingerir nada que contém trigo e nem aqueles alimentos que são adicionados de glúten, para conferir características como crocância, como eletricidade e etc”, explicou.
Os desafios enfrentados para aqueles que possuem alergia ao composto do glúten são encontrados no dia a dia, para evitar a ingestão dos alimentos que constantemente está na mesa dos brasileiros, como o pão e o bolo.
A nutricionista dá dicas importantes para esses pacientes viverem de forma equilibrada, saudável e comendo bem.
“O trigo, no germe, possuem alguns micronutrientes como vitamina E, mas a maioria da forma de consumo é através da farinha refinada. Então, ela é basicamente carboidrato. Os carboidratos podem ser ingeridos em outros alimentos com muita tranquilidade, nas raízes como, por exemplo, aipim, batata-doce e nos vegetais de maneira geral, onde a gente também pode encontrar vitaminas e minerais. Então do ponto de vista nutricional, a retirada do trigo, centeio, aveia e cevada não faria grande diferença em termos nutricionais”, pontuou a profissional em entrevista ao Acorda Cidade.
Em contrapartida, a nutricionista colocou algumas condições que podem prejudicar aqueles que já possuem intolerância. Ela explicou de forma clínica os malefícios do alimento na vida dos celíacos.
“Para os doentes celíacos, o trigo desencadeia no intestino uma reação imunológica. E isso faz com que ele tenha não só uma inflamação intestinal como também uma dificuldade de absorção de outros nutrientes, incluindo as vitaminas e minerais. E isso desencadeia uma série de reações não só do ponto de vista da inflamação intestinal como dores, distensão abdominal, às vezes diarreia, às vezes prisões de ventre, como também outras questões como irregularidade na fase adulta do ciclo menstrual, esterilidade, intolerância secundária à lactose, dificuldade digestiva e problemas neurológicos, porque interfere tanto na síntese de hormônios como também de neurotransmissores, uma vez que eles dependem da presença dos nutrientes para isso, problemas dermatológicos, cardiovasculares…Então, é uma situação bem séria. Realmente o celíaco não pode ingerir trigo e nem os alimentos que contêm glúten, como centeio, cevada”, explicou Yzana ao Acorda Cidade.
Além do mais, os celíacos são um grupo que possuem a doença autoimune, diferentemente daqueles que têm alergia ao glúten, contudo, esses sintomas podem afetar os dois pacientes.
Segundo Yzana, os pacientes celíacos são bastantes sensíveis ao trigo e acabam sofrendo com a contaminação cruzada, que é quando devido à falta de higiene dos utensílios usados na alimentação, pode haver a transferência das substâncias de um alimento para o outro. Uma vasilha contaminada com o grão pode passar pela descontaminação de até 24 horas.
“Essa descontaminação é uma lavagem muito criteriosa, com uma bucha e depois ela passa por uma outra lavagem com uma outra bucha, e para ter certeza da descontaminação esse recipiente tem que ficar sem ser usado durante 24 horas. Aí pode ser utilizado para preparar o alimento para um celíaco, por exemplo, um alimento sem glúten, com a segurança que houve realmente a descontaminação”, afirmou.
De acordo com a lei 10.674/03, que completa este ano 20 anos, é obrigatório que os comerciantes de produtos alimentícios informem a presença do glúten como maneira preventiva e de controle da doença pelos pacientes. Para evitar a contaminação, a nutricionista dá algumas dicas sobre como proceder na hora das compras.
“Evite comprar alimentos em granel, porque às vezes aquele alimento que não tem glúten, como por exemplo, a farinha de amêndoa, que é muito utilizada nos preparos, foi colocada às vezes dentro de um recipiente que estava por alguma coisa que tinha trigo, que tinha contaminação cruzada. Evite, por exemplo, produtos artesanais que são sem glúten, porque às vezes a pessoa utiliza uma farinha dessa, a granel. Então tem que ter esses cuidados”, informou.
Além do mais, ela reforça que o produto industrializado que identifica em seu rótulo que não possui o glúten e mesmo assim obter, eles podem ser processados no rigor da lei.
Yzana ainda aponta que não dá para confiar em estabelecimentos que não sejam específicos para celíacos, justamente por conta da contaminação cruzada. A melhor maneira para os celíacos comerem bem fora de casa é procurando lugares exclusivos para esse tipo de público.
“No restaurante, mesmo que você coma os alimentos como tipo arroz, saladas, e que a gente sabe que não tem glúten, a gente não pode garantir que o recipiente que foi utilizado realmente não teve uma preparação prévia que tivesse trigo ali. Isso realmente é bem complicado da gente poder garantir”, acrescentou.
Mas quem possui restrições alimentares não deve se isolar dos ambientes. Quem não gosta de ir a uma festa, aniversários com docinhos, confraternizações? Desse ponto de vista, o diálogo é a melhor maneira de não perder o convite, conforme orienta a nutricionista. Perguntar quais os ingredientes foram utilizados, se passou de utensílio em utensílio e claro, se prevenir para também não ficar com fome.
“Eu sempre oriento levar na bolsa uma coisa pronta, até industrializado mesmo que não tenha glúten, porque no caso de realmente não ter nada que a pessoa pode ingerir, ela tem ali algum alimento que ela pode comer para não ficar realmente com fome, se ela for demorar por mais tempo naquele aniversário, ou até mesmo comer alguma coisa em casa antes para não ir totalmente com fome”, indicou.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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