No dia 15 de Outubro é comemorada a luta daqueles trabalhadores primordiais que contribuem diariamente com o funcionamento do país, os professores. Ainda no período imperial, em 1827, Pedro l decretou a criação do Ensino Elementar no Brasil, levando para todas as vilas e cidades as primeiras escolas. Na época arcaica, as meninas ainda eram excluídas do direito de estudar, mas graças a luta de muitos professores, a educação se transformou e se transforma com o passar dos anos e das necessidades da sociedade.
Um dos maiores educadores do Brasil, Paulo Freire, dizia que a educação não transforma o mundo, ela transforma pessoas e essas pessoas que são agentes transformadores do mundo.
A professora de Língua Portuguesa e Inglesa, Ana Valéria Silva Pinheiro, leciona no Colégio Luís Viana Filho, no bairro Cidade Nova, em Feira de Santana. Atuando na rede pública há mais de 23 anos, ela conta que buscou inspiração em sua mãe, que seguiu a profissão durante toda a sua vida. O início foi difícil, Ana fala que trabalhava o dia inteiro na antiga Cesta do Povo e estudava na madrugada.
“Eu fiz letras e quando comecei a tentar alguns concursos e não consegui fui trabalhar na Cesta do Povo, trabalhava o dia todo, de madrugada estudava e fui fazer o concurso para Salvador, consegui passar e até hoje estou na profissão”, contou ao Acorda Cidade
Para Ana, nos dias de hoje dois fatores estão dificultando a atuação dos professores e para contribuir efetivamente, inclusive fora da sala de aula, ela tem colocado muito amor, atenção e dedicação no seu trabalho.
“A internet na sala de aula, muitas vezes facilita nosso trabalho, mas os alunos se dispersam, se tiver a rede disponível, eles podem ficar olhando outras coisas, então para gente controlar fica um pouco complicado e depois da pandemia estão aflorando muito o número de meninos com transtornos. Eu não sei lidar com a questão do transtorno, eu não tenho essa especialidade, mas tenho o carinho e a atenção”, relatou.
Além disso, o Novo Ensino Médio também trouxe problemáticas que afetam a carga horária dos professores e o aprendizado das crianças nas principais disciplinas. Pensando no futuro dos alunos, Ana explica que a redução das aulas principais vai prejudicar os estudantes mais a frente na hora concorrer em concursos e processos seletivos.
“Chegou tirando aulas das disciplinas comuns, reduziu muito a carga horária, então estamos sobrecarregados de turno. Por exemplo, uma turma de Inglês que só tem uma aula, então uma aula é muito pouco, começa a atividade e para conseguir que o menino aprenda, só uma semana depois para retomar o aprendizado é complicado. Fora outras disciplinas, física, biologia que você os colegas na mesma situação, precisam de carga horária para trabalhar e não tem”, explicou.
Antigamente era um sacrifício para buscar informações, você trocava livros, corria na biblioteca, mas atualmente a internet é uma grande aliada dos alunos, entretanto tanto conteúdo não está atraindo o interesse dos estudantes.
“Diminuiu o interesse, ficou mais fácil, mas eu vejo que muitos não estudam o que precisam, já que tem tanta disponibilidade. Fica essa carência deles mesmo, porque tem fácil, a internet lhe ajuda, mas eles não estão buscando como deveriam”, ressaltou.
Ana Valéria atua com os estudantes das universidades que já dão aulas e fala que eles sempre tem algo novo a acrescentar, assim como existem coisas que a experiência também pode ensinar para a juventude.
“O acolhimento, lidar com pessoas, com atenção e cuidado, porque existem muitas situações, tem transtorno, tem meninos que passam por situações delicadas onde eles vivem, então essa parte de lidar com o outro, de ver o lado humano é o mais importante. Você vai buscar de acordo com a sua realidade, o que você pode fazer para que ele aprenda. têm situações simples que você pode fazer e o aluno vai entender, não precisam de recursos extraordinários, mas você precisa de traquejo que a experiência lhe faz ter isso”, disse.
Matheus Dias, de 26 anos, é um desses novos professores que já ajudam a transformar a realidade brasileira. Ele está se formando em Física e já dá aulas de matemática. Apoiado pela família e influenciado por um tio que trabalhou na área, ele conta o motivo que levou a escolha da profissão, que desde os 10 anos já sabia que queria exercer.
“O professor trabalha diariamente com a ciência e tem a possibilidade de trazer campos, visto que ela mexe com o campo imaginário dos jovens, porque ela está presente nos filmes, nas séries em todo e qualquer fenômeno no dia a dia”, falou.
Lecionando desde o fim de 2020 no Programa Universidade para Todos, do Colégio Polivalente em São Gonçalo dos Campos, Matheus explica que faz parte desse importante projeto que visa democratizar o cursinho pré-vestibular e tornar o ensino superior uma realidade mais acessível, principalmente para jovens de baixa renda.
“A sala de aula é uma luta diária, porque você precisa lidar com as especificidades de cada aluno, já que nem todos aprendem da mesma forma, nem vivem a mesma realidade; e agravado ainda pela baixa remuneração e pela falta de estrutura de algumas escolas, porque nem todas estão preparadas para receber todas as pessoas”, disse o professor ao Acorda Cidade.
Ele ainda ressalta que a desigualdade social é um agravante, pois é preciso ter uma dinâmica para que não haja a evasão escolar e o diálogo é fundamental nesse processo.
Para Matheus, resiliência e luta são os maiores legados deixados pelos professores. Sem a luta dos veteranos, a educação jamais seria avançada. Apesar disso, ele aponta que é preciso estar aberto às velhas e novas formas de educar.
“Fala-se muito hoje nos cursos de licenciatura a importância se levar em conta os pré-saberes que os alunos têm quando chegam em sala de aula, deixar que o aluno seja protagonista no ensinar, algo que a maioria dos professores antigos não fazem, porque são consideráveis caixas de saberes absolutos e inquestionáveis, além de sair da tradicionalidade extrema, ao saber ensinar, saber inovar e lembrar do conceito de educação de base de Paulo Freire, a educação vem de todos e é preciso lutar diariamente por ela”, declarou.
Além disso, a professora Ana enfatizou durante entrevista ao Acorda Cidade, a importância de defender a presença do professor em sala de aula.
“Diante de toda essa dificuldade, a gente precisa se manter firme para orientar, educar, ensinar. Mesmo na pandemia você via a carência que as pessoas ficaram de ter um professor para mediar, porque por mais que a gente pegue um livro, mas quando tem alguém uma pessoa para lhe dar umas dicas para compreender determinado assunto, você se sente muito mais preparado e seguro. A função do professor é primordial, eu defendo minha profissão, porque o professor é o profissional que forma todas as profissões”, afirmou.
Aos colegas de profissão, Ana deseja otimismo e muita garra para enfrentar essa tarefa diária que é ensinar.
“Eu dedico a todos os meus colega que continuem na profissão com muito otimismo, garra, porque a nossa tarefa é árdua, mas é gratificante quando você vê um aluno aprender algo que você ensinou e depois você vê ele aprovado no vestibular, conquistando uma profissão e você sabe que influenciou naquilo é muito gratificante. Ser professor é ótimo, tudo que eu conquistei na vida foi com minha profissão e eu agradeço a Deus pela profissão que eu exerço e que vocês possam sempre fazer com muito prazer e alegria, porque ser professor é muito bom”, concluiu.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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