Em menos de 30 dias do mês de setembro, a Polícia Civil de Feira de Santana registrou cinco homicídios contra adolescentes.
O Acorda Cidade fez uma cronologia dos crimes (veja mais aqui). O último homicídio registrado, foi contra a adolescente Laiane Coelho Barbosa, de 15 anos, dentro de uma barbearia no bairro Asa Branca.
Em entrevista ao Acorda Cidade, a titular da Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI), Daniele Matias, destacou que adolescentes cada vez mais novos, estão se envolvendo com o crime.
“A gente percebe que realmente é uma situação bastante complicada. A gente vê adolescentes jovens, inclusive adolescentes de 14 e 15 anos sendo vítimas de homicídios aqui em Feira de Santana, um número que realmente é alarmante quando você pega um curto período de tempo, menos de um mês, então realmente é muito complicado. A gente percebe aqui na delegacia, que há um envolvimento de adolescentes, infelizmente, muito cedo com drogas. Não sei dizer se é o caso dessas vítimas, mas é algo que a gente observa aqui na delegacia no dia a dia”, disse.
A delegada comentou também que muitos adolescentes estão tendo em contato com o submundo do crime cada vez mais cedo. E esse aumento é preocupante.
“Antes o adolescente tinha contato com a droga com 16, 17 anos, e hoje a gente percebe inclusive crianças, chegam aqui na delegacia com 11, 12, 13 anos, são pessoas que estão em desenvolvimento, mas já em contato tão cedo com entorpecentes, então infelizmente isso acaba carregando várias situações negativas, tanto para o desenvolvimento, como também para a vida como todo deste ser humano”, afirmou.
Para a delegada, a falta de uma estrutura familiar, também pode evidenciar este contato dos jovens com os crimes.
“De forma geral, a gente percebe que os adolescentes são atraídos infelizmente pela própria falta de estrutura familiar, o que eu costumo dizer, é que falta a família, então muitas vezes esses adolescentes não tem uma família estruturada, às vezes só tem a figura materna, se tiver muitas vezes pode ser criado por vó, por tias, pois infelizmente essas mulheres para poder inclusive dar o sustento daquela família, saem cedo de casa e voltam mais tarde. Essas crianças ficam muitas vezes ali em um condomínio ou em uma rua, e elas não vão sendo orientadas, elas vão sobrevivendo. São bairros que tem uma presença forte de situações de drogas, situações de facções criminosas como estamos vendo aí, estes adolescentes acabam cooptados para este mundo e tem a falsa impressão que tem um certo tipo de poder, ter um certo tipo de dinheiro, mas é um dinheiro que não traz nenhum tipo de benefício. Quando chegam adolescentes aqui na delegacia que estão envolvidos com drogas, tráfico de drogas, observamos adolescentes mal vestidos, adolescentes que não sabem muitas vezes nem escrever o próprio nome”, afirmou.
Motivação
Ao Acorda Cidade, a delegada Daniele Matias informou que muitos dos homicídios acontecem por conta de dívidas.
“Existem várias situações aqui na delegacia, inclusive a gente já percebeu situações de adolescentes que estão envolvidos fortemente com tráfico de drogas, então o adolescente por exemplo que é apreendido ou com drogas ou com armas, pertence a uma facção criminosa. Muitas vezes essa droga, essa arma, ela vai ser cobrada. A depender da situação, esse adolescente vai ser aprendido na delegacia, vai ser encaminhado a Case e muitas vezes com argumentos de proteção do próprio adolescente, porque a gente sabe que este adolescente retorna para sociedade, mas ele corre risco de vida, justamente por esta dívida que ele precisa pagar e se a depender da quantidade de drogas, do tipo de arma, é um risco muito grande que ele corre. Tem muitas dessas situações que eles são cooptados, eles estão vendendo drogas para a facção e vem a perder este material, eles precisam pagar e muitas vezes infelizmente paga com a vida”, concluiu.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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