Não é comum caminhar pelas ruas apenas olhando para o chão. Mas já perceberam a presença de pisos táteis pelas principais avenidas de Feira de Santana? O equipamento que aparentemente parece ser apenas um detalhe do passeio, na verdade é de suma importância para dar ao deficiente visual, uma maior autonomia e segurança.
A reportagem do Acorda Cidade conversou com o estudante de Engenharia de Tecnologia Assistiva e Acessibilidade, pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Luciano Oliveira dos Santos, 44 anos de idade.
Ele contou que perdeu a visão completa aos 26, mas nunca desistiu de viver. Segundo ele, o equipamento que é instalado no chão, tem como principal objetivo, evitar obstáculos e buracos no meio do percurso.
“Se o piso for instalado adequadamente, promove sim uma condição de acesso e circulação com autonomia e segurança. Existe uma norma que estabelece as diretrizes de instalação destes projetos de pisos táteis e que tem como função, conduzir o deficiente visual livrando ele de obstáculos e buracos”, informou.
Hoje sem poder enxergar, Luciano contou que muitas vezes, as pessoas não são inseridas na sociedade com autonomia.
“Acredito que um dos pontos principais para que as pessoas possam ocupar espaços, é mostrando suas capacidades, porque é desta forma que vai desmitificar muitas coisas que ainda permeiam a sociedade. Os maiores responsáveis, são as próprias pessoas que possuem a deficiência e por falta de conhecimento, não buscam o desenvolvimento, se reabilitarem, não buscam como por exemplo, o Centro de Apoio Pedagógico do Deficiente Visual [CAP-DV], pois são eles que nos orientam para desenvolvermos nossas atividades, conhecer os recursos de técnicas assistivas e que favorecem a autonomia e o desenvolvimento das pessoas”, afirmou.
Segundo Luciano, apenas Deus poderá dizer qual será o limite.
“Eu perdi minha visão direita com 10 anos, e depois a esquerda quando eu já tinha 26 por conta de uma toxoplasmose ocular, que é uma inflamação e houve o deslocamento da retina. Eu imagino um futuro melhor, e a partir dos meus estudos, eu busco que muitas coisas possam mudar em minha vida. Onde Deus permitir, eu estarei indo, porque sem ele, não posso dar nenhum passo, é ele que está presente em minha vida e tem feito coisas maravilhosas, tem colocado pessoas maravilhosas em minha vida para continuar seguindo”, declarou.
Ao Acorda Cidade, Fabrício Silva Santos, diretor do (CAP-DV) explicou quais modelos de pisos são fabricados e quais dificuldades são encontradas no dia a dia.
“O piso tátil é uma forma do deficiente se locomover de forma livre, então este material pode ser produzido com borracha ou concreto, como forma de dar uma segurança ao deficiente visual, seja de um ponto A, para um ponto B. Quando a pessoa observar um piso tátil, ela precisa sair dali, por exemplo, eu já observei muitos vendedores em cima deste piso, então quando o deficiente estiver passando, ele vai se bater nesta pessoa, ali é como um sinal verde, é uma passagem livre. Hoje existem dois modelos de piso, um com bolinhas, que é o chamado piso de alerta, inclusive tem muita gente que acha aquele material bonito e coloca na calçada inteira, e isso vai atrapalhar o deficiente. Então este piso de bolinha vai sinalizar ao deficiente que ali tem um risco, que chegou no final de alguma calçada, já o outro piso que tem pedras compridas, é um piso de guia, que vai direcionar este deficiente até um local”, explicou.
De acordo com Fabrício, o município de Feira de Santana ainda possui pouca acessibilidade.
“Pouquíssimos são os locais que possuem esta independência. O número de deficientes visuais aqui de Feira de Santana é maior do que o número de algumas cidades aqui da Bahia, então nós temos um público que estuda, que trabalha, que pode consumir, então se um empresário possibilita esta acessibilidade com pisos táteis no passeio do seu estabelecimento, é uma chance desta pessoa adentrar no local e adquirir produtos. Eu sempre destaco, que antes da deficiência, vem a pessoa com a deficiência, são seres humanos que possuem o direito de andar com liberdade. Feira de Santana é uma cidade plana, somos um país rico em leis, porém falta ação do poder público e das pessoas respeitarem este ambiente, podemos observar aí pelas ruas da cidade, piso tátil com mesa de bar por cima, infelizmente as pessoas não respeitam o ir e vir”, destacou.
Ao Acorda Cidade, Fabrício também explicou que existem cores diferentes nas bengalas, para identificar qual tipo de deficiência, aquela pessoa possui.
“Aqui no CAP-DV, nós temos aulas de orientação e habilidade, temos profissionais qualificados para ensinar as técnicas de OM, que a gente chama de Orientação de Mobilidade. Dessa forma, estas pessoas irão utilizar a bengala de uma forma mais segura, inclusive muitos até chegam aqui já querendo a bengala, mas nós dizemos que a bengala é como uma Carteira de Habilitação, eu não posso dar uma bengala para uma pessoa que ainda não passou por um treinamento, porque pode acontecer algum tipo de acidente e colocar alguém em risco. A bengala possui três cores, a branca que é para a pessoa cega, a branca e a vermelha é para identificar que aquela pessoa é cega e surda, além da bengala verde que é para pessoa com baixa visão”, concluiu.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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