Simulado em Congresso Internacional de Desastres em Massa treina forças de segurança em casos de rompimento de barragens e inundações

Mergulhadores do Corpo de Bombeiros | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Salvar o maior número de vidas, proteger o patrimônio, prevenir situações caóticas e garantir cada vez mais a integração entre as diversas forças de segurança em situações de desastres em massa são alguns dos objetivos do Congresso Internacional de Desastres em Massa (Cidem), que neste ano teve como tema ‘Desastres com inundações, barragens e produtos perigosos (QBRN – Químicos, Biológicos, Radioativos Nucleares)”.

A IV edição do congresso, que iniciou no dia 23 de agosto, teve seu encerramento neste sábado (26), com o simulado do rompimento de uma barragem e inundação. O simulado ocorreu na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) onde foi montada uma grande estrutura para simular o rompimento da barragem e evacuação da área da maneira mais real possível.

Simulado do IV Cidem | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Uma explosão controlada deu início ao ponto alto do treinamento, quando as forças entram em ação para fazer os resgates de vítimas e prevenir novos acidentes decorrentes da catástrofe.

O Cidem é um projeto de extensão da Uefs que vem promovendo vários treinamentos simulados para oportunizar as forças a interagirem de forma conjunta. Devido a sua organização, técnica e proporção, o evento tem ganhado cada vez mais o prestígio de outros países, a exemplo do Japão, que tem em sua cultura social a prática de simulados para a população.

O professor Jeidson Marques, idealizador e coordenador do Projeto Cidem juntamente com o coronel PM Júlio, enfatizou que reunir todas as forças de forma simultânea em uma situação de desastre é muito complexo, e se faz necessário treinar a integração para que as forças atuem de forma ordenada e rápida.

IV Cidem — Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Todos eles sabem muito bem o que fazer, mas em uma situação de desastre é caótico e pode haver demora de resposta. O projeto Cidem tem conseguido até hoje, 10 anos já, promover grandes treinamentos que se tornaram referência para o mundo”, afirmou o coordenador ao Acorda Cidade.

O Cidem já realizou treinamentos para caso de queda de avião, segurança em grandes eventos como Olimpíadas, e desastres envolvendo produtos perigosos (QBRN-Químicos, Biológicos, Radioativos, Nucleares). Desta vez , conforme já mencionando, o tema tratou sobre barragem e inundações.

“Barragem e Inundações é um tema que não tínhamos trabalhado ainda e a gente precisava abordar também. Não se trata só de temas para feira de Santana e região, a gente fala de Brasil e mundo. Estão reunidos aqui representantes de todos os estados do Brasil. É um tema que ocorreu recentemente, barragens romperam, e na Bahia temos barragens com graus de risco”, disse.

O objetivo maior, segundo Jeidson, é integrar as instituições. “A gente sabe que isso é muito difícil, é muito complexo, então, a gente conseguiu fazer isso com muito sucesso e impacto mundial já. É reunir tantas instituições, tantas fardas diferentes, tantos coronéis e definir protocolos para trabalharem de forma conjunta para uma resposta efetiva”, afirmou.

Ele disse que nenhuma instituição ficou de fora. “Samu, SMT, Defesa Civil, Guarda Municipal, Polícia Civil, Polícia Militar, Departamento de Polícia Técnica, Graer, Corpo de Bombeiros, Inema, Sesab, Secretaria de Segurança Pública, Exército, Marinha, Aeronáutica, Ibama, profissionais de saúde enfim, todas as instituições que agem em situações de desastres estão aqui neste evento”, concluiu.

Hecton Goes | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Hecton de Brito Goes, membro-organizador do Cidem, destacou a evacuação em creches com crianças e a vazamento de líquido químico radioativo e corrosivo, relacionado ao vazamento de cloro de um caminhão que tombou em um acidente.

“Como foi um ambiente tomado pelo desastre, vai ocorrer a evacuação destas crianças em conjunto com a operação policial, utilizando o Corpo de Bombeiros, o Samu e o Exército. Arquitetamos uma barragem artificial. Foram utilizados tratores e retroescavadeiras e simularam como se fosse realmente um rompimento de barragem, foi muito bem arquitetado para que pudesse realmente simular a realidade e a atuação das forças de segurança e o resgate de vítimas. E enquanto isso ocorre, outras situações como o vazamento do líquido radioativo-corrosivo, um sequestro a ônibus, então, um cenário bastante propício para treinamentos, aprendizados e práticas que possam ajudar a sociedade a se prevenir de um caos que esperamos que não aconteça”, explicou Hecton, que é estudante da Uefs, aluno do professor Jeidson Marques.

Entre os grandes nomes especializados em atuação de catástrofes que participaram do treinamento neste sábado em Feira de Santana estava o delegado Maurício Freire, diretor do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD), em São Paulo. Com 46 anos na Polícia Civil de São Paulo, ele foi delegado-geral e trabalhou em desastres noticiados internacionalmente como o acidente aéreo da banda Mamonas Assassinas, as duas quedas de avião da TAM, o deslizamento de terras em Guarujá, e o de São Sebastião que foi a grande última catástrofe no Brasil, que teve 65 mortes.

Ao Acorda Cidade ele destacou que o simulado é de grande relevância porque em casos reais é nítido a diferença que faz nos resgates quando há entrosamento entre as equipes.

“Cada instituição que está aqui, cada agência que é importante estar em um local de desastre tem seu treinamento, tem a sua expertise, mas é preciso ter a unidade pensamento, de fala, de atuação, porque senão pode acabar não dando tão certo. É fundamental que a gente consiga de alguma maneira treinarmos juntos. Estes protocolos que temos de acidentes em massa são sempre atualizados, sempre após a um evento desse ou evento real a gente sempre aprende muito e fazemos correções e atualizações”, disse.

O delegado também falou pouco sobre a atuação do Instituto de Identificação que dirige.

“O IRGD não faz só RG, ele é muito atuante. Temos várias equipes na necropapiloscopia, da identificação, tem o setor de identificação móvel, que vai aos hospitais pegar as pessoas que ninguém sabe quem são, e conseguem identificar e localizar os parentes, tem um lado social muito importante durante as catástrofes”, comentou.

A Reitora da Uefs, Amali de Angelis Mussi, declarou que o evento honra a universidade devido a sua grande importância.

“É importante pela questão da segurança e por treinar as pessoas desde a creche, o ensino fundamental, traz a comunidade e faz treinamentos. Ver a população unida em prol de um tema de segurança pública é muito potente. Este evento muito nos honra e a Uefs está envolvida desta a organização, o projeto foi pensado junto, cedeu tudo que poderia ceder como espaços, e estruturas, e apoia o evento há muitos anos”, declarou.