Brasil

Entenda por que Fausto Silva entrou na fila do SUS para receber transplante de coração

O apresentador está internado desde o dia 5 de agosto no Hospital Albert Einstein em São Paulo.

Fausto Silva
Foto: Reprodução/Instagram

Uma notícia que pegou todos os brasileiros de surpresa na última semana, foi a informação sobre o apresentador Fausto Silva, que está internado desde o dia 5 de agosto no Hospital Albert Einstein, na Zona Sul de São Paulo, para tratamento de insuficiência cardíaca.

No último domingo (20), a unidade hospitalar divulgou que o quadro de saúde de Faustão se agravou e terá que passar por um transplante cardíaco. Ainda segundo o comunicado, Fausto Silva está passando por diálise e já foi incluído na fila de transplantes. A reportagem do Acorda Cidade conversou com o médico cardiologista Israel Reis, que explicou o motivo do apresentador ter entrado na fila do Sistema Único de Saúde (SUS).

Cardiologista
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Existe uma lei que regula a doação, a captação de transplante de órgãos no país. Essa lei é de 1997 e o SUS é quem administra isso através do Sistema Nacional de Transplante. Então veja, não há comércio de órgãos, independentemente do valor e do dinheiro e das posses que a pessoa tenha, não tem como eu comprar um órgão ou eu buscar no mercado, um órgão para que eu possa usá-lo. Existe um órgão regulador para isso, habitualmente o SUS que comanda, portanto um paciente seja ele de SUS, de convênio ou particular, ele entra numa fila única que é gerida pelo Sistema Nacional de Transplante”, explicou.

Em algumas situações, o paciente é considerado como prioridade, como foi o caso do apresentador Fausto Silva.

“As pessoas aguardam em média entre um ano e um ano e meio. É o tempo de espera habitual, mas isso varia muito. Os critérios dependem do tempo que ele entrou na fila, ou seja, quem está mais tempo na fila teria prioridade, mas existe o critério também de gravidade, isto é, o pacientes mais grave por exemplo, pacientes que estão internados tem um pouco mais de gravidade e tem aqueles pacientes que estão aguardando em casa. Então teoricamente, aqueles pacientes que estão internados tem mais prioridades e aqueles que estão fazendo uso de alguns dispositivos que a gente chama de assistência ventricular, é como se fosse um coração mecânico, pois existem alguns pacientes que precisam de um coração mecânico para que consiga guardar na fila do transplante, ainda assim, a mortalidade da fila de espera é bastante elevada e muito desses pacientes, quase metade desses pacientes, vão acabar falecendo aguardando o transplante”, disse o médico ao Acorda Cidade.

Segundo o cardiologista, o quadro de Faustão é muito grave.

“É uma fase terminal de doença, mas que também é importante a gente chamar a atenção das pessoas, que a maior parte das vezes, isso é bastante prevenível, ou seja, a gente consegue evitar. Lógico que o caso do Fausto ele não vem em detalhes para a mídia, a gente não tem detalhes do que aconteceu com ele, mas quase sempre é muito possível a gente evitar estas fases terminais, a gente até se impressiona como alguém de tantas posses com facilidade de chegar aos médicos, com facilidade de usar as melhores drogas, os melhores recursos, evolui para um estado de doença tão grave como este, o que a gente habitualmente sabe, é que se a gente consegue mais recursos e drogas melhores, dificilmente o paciente evolui para esta fase terminal”, declarou.

Filas para transplantes

De acordo com o especialista, o transplante cardíaco é um tipo de procedimento que não é considerado como comum, comparado a outros órgãos.

“Transplante cardíaco é uma situação extraordinária, ou seja, não é no dia a dia do cardiologista e não é um órgão que volta e meia como o rim, a córnea, a gente vai solicitar. Um transplante cardíaco é algo bastante raro na prática médica do cardiologista, portanto o coração não é o órgão que está lá nas primeiras filas, não é o primeiro órgão necessário para o transplante, perde muito para o rim, perde muito para a córnea, então a fila de transplante no Brasil, são 830 pessoas, imagine no Brasil um país deste tamanho apenas 830 pessoas estão na fila para um transplante cardíaco, enquanto mais que 30 mil pessoas estão na fila por exemplo aguardando um rim, então veja que a diferença é muito grande”, comentou.

Ao Acorda Cidade, o médico informou que cada estado possui uma fila do transplante.

“A fila de espera até então, tem esse critério habitualmente por estado. Isso é para que a pessoa não possa entrar em mais de uma fila no Brasil, imagine que eu posso estar precisando de um órgão, saio daqui para todos os estados tentando entrar em várias filas para ver se eu vou ser chamado, então as filas são por estado. Lógico que existe uma comunicação do Sistema Nacional de Transplante, então havendo um órgão em determinado estado desses que não haja a captação ou não haja compatibilidade naquele estado, pode ser disponibilizado para outras filas de modo que aquele órgão que está sendo captado, ele vai seguir uma sequência de critérios e que pode então seguir para uma fila de outro estado”, informou.

Qual a necessidade do transplante cardíaco?

Segundo o cardiologista Israel Reis, quando o paciente chega nesta fase de presar do transplante, é porque o coração não está mais bombeando o sangue para os outros órgãos.

“O paciente que precisa de transplante, são aqueles pacientes que estão evoluindo com fases terminais, fases finais de uma doença conhecida como insuficiência cardíaca, que é uma condição em que o órgão perde a capacidade de bombear o sangue e distribuí-lo para os outros órgãos. Hoje em dia com o tratamento medicamentoso, com todas as novas drogas que a gente tem, faz com que esses pacientes quase nunca vão precisar de um transplante cardíaco e quase nunca vão evoluir para uma necessidade de transplante, ou seja, quase sempre com tratamento medicamentoso a gente consegue fazer com que este paciente tenha uma excelente qualidade de vida. No passado esses pacientes tinham uma mortalidade mais elevada do que pacientes com câncer, então quando se falava em insuficiência cardíaca há 20 anos, era quase que determinar que este paciente iria falecer nos próximos meses ou nos próximos anos, mas hoje em dia, com esse advento de novas drogas, a gente tem cada vez menos tendo que encaminhar pacientes para a fila do transplante”, enfatizou.

A vida pós-transplante

De acordo com Israel Reis, existe uma série de recomendações após o procedimento do transplante.

“O transplante cardíaco em si, ele é bastante complicado, imagine o que é tirar algo tão complexo de uma pessoa com várias conexões e vários vasos e colocar em uma pessoa diferente, ou seja, um coração em um corpo diferente. Nos primeiros dias pós-transplante, habitualmente, esse paciente fica pelo menos um mês internado. Ele vai utilizar drogas para evitar que o corpo rejeite um órgão estranho dentro dele e o acompanhamento passa a ser muito de perto por uma equipe multiprofissional. Esse paciente vai ser submetido a uma reabilitação, exercícios, uma equipe que vai acompanhar essas drogas de imunossupressão, exames frequentes, ele vai ter que fazer exames para que identifique se o órgão está sendo bem recebido por aquele organismo. A gente tem relatos aí de pacientes que conseguiram até serem atletas com o coração de outra pessoa”, concluiu.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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