Em entrevista ao Acorda Cidade, durante o programa de hoje (31), o coordenador de neurocirurgia Márcio Brandão, do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), em Feira de Santana, explicou sobre o caso do motorista de aplicativo Paulo Roberto Silva Brito, que está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da unidade, após sofrer um aneurisma desde domingo, dia 23 de julho. Ele necessita de uma regulação urgente para realizar o procedimento de embolização.
“Ele é portador de uma das doenças mais graves que existe, a estatística americana diz que quando um aneurisma rompe, ⅓ das pessoas morrem na hora, morrem dormindo, morrem andando na rua, dos que vão para o hospital ⅓ vai morrer, ⅓ vai ficar multisequelado e somente ⅓ vai voltar a vida de antes”, diz o médico.
De acordo com o médico, Paulo Roberto teve uma hemorragia muito grave e nas classificações tanto de gravidade clínica, quanto nos exames, está em escala máxima. “É um paciente que tem um risco de vida muito grande e até enquanto a gente está conversando ele pode ter um desfecho desfavorável”, explicou.
O médico informou que o HGCA não tem como realizar o procedimento de embolização e por isso, o paciente precisa da regulação.
“Para o tipo de aneurisma que ele tem, nós estamos ainda montando no Clériston a hemodinâmica, estamos nos acertos finais, dentro de 60 dias devemos estar começando a fazer, pois são aneurismas muitos especiais, cujo o tratamento não pode ser feito por clipagem, ela gera um risco muito maior do que embolização. E em Salvador, o único hospital que está referenciando para este tipo de procedimento é o Roberto Santos, se fosse a clipagem, tínhamos feito aqui Esse procedimento que ele vai fazer no Roberto Santos e está agendado para o dia 2”,informou.
O coordenador salientou que o risco do transporte aéreo se equipara ao terrestre, pois o aumento da pressão de um voo também expõe a riscos, e o tempo entre um e outro é mínimo, inclusive por avião, pode haver um perigo maior.
“Ele está na UTI recebendo um tratamento, que seria o mesmo que se ele estivesse no Aliança ou no Roberto Santos, estaria aguardando o momento da embolização e mesmo, nesses hospitais eles têm alguns pacientes em estado grave aguardando e eu espero que dentro mais uns seis meses a gente possa embolizar também”, disse.
O neurocirurgião relatou sobre o procedimento que o paciente precisa fazer no hospital Roberto Santos.
“O aneurisma é tipo uma bolha que se forma na parede, a mangueira que forma uma bolha na sua parede e essa bolha rebenta e depois volta a fechar e fica aquela bolinha mais frágil facilitando novos rebentamentos. Então é como se fosse o cateterismo cardíaco, sobe vai na coronária, bota uma mola e abre a artéria. Neste caso, ele vai subir pela artéria, cateterizado ou pela axila ou pela região inguinal (virilha) e vai colocar uma mola que tem coagulantes na sua formação dentro do saquinho do aneurisma. Isso faz com que a mola crie e uma coagulação e feche a entrada de sangue impedindo que ele volte a romper”, destacou durante a entrevista.
Segundo Márcio Brandão, o Hospital Roberto Santos está sempre lidando com pacientes graves e possui uma lista grande de pacientes que correm risco de vida, mas que devem aguardar a estabilização para realizar alguns procedimentos.
“Qualquer pessoa pode ter um aneurisma. É uma situação grave que precisa de um tratamento o mais breve possível após fazer uma estabilização do paciente”, explicou.
Antes de finalizar a entrevista, a Secretária de Saúde do Estado, Roberta Santana, entrou em contato com o Acorda Cidade para informar que o equipamento de hemodinâmica será fornecido ao HGCA e que o Hospital Roberto Santos já está sendo preparado para receber o paciente antes do dia 2.
O aneurisma
O doutor explica que o aneurisma é uma condição geneticamente determinada, e que se desenvolve ao longo da vida. Ele conta que o aneurisma não é só no cérebro, a pessoa pode ter em qualquer artéria, seja no braço, na perna, na horta e na maioria dos casos só se percebe quando ele se rompe.
“A parede de uma artéria embora a olho nu parece um tubo, a parede desse tubo é constituída de três camadas e algumas pessoas têm a camada do meio cheia de rachaduras, ela não é uma camada contínua e com o passar dos anos o sangue batendo constantemente, ele começa a ceder e a formar uma bolha em uma dessa rachaduras”, explicou.
Diagnóstico
Atualmente, através da medicina avançada é possível detectar o aneurisma. O médico explica que antigamente esperava-se romper para realizar a cirurgia, mas que hoje, realizar cirurgias de aneurismas que não se romperam, tem um risco baixo.
“Hoje em dia o risco da cirurgia diminuiu muito, há 30 anos atrás o risco era de 30%, hoje é de 2%. Pelas novas técnicas e tecnologias nós descobrimos um aneurisma não roto (sem romper), às vezes acontece dele estar perto de um nervinho e quando ele se abala um pouco, ele encosta em um nervo, ele paralisa, então você encontra um aneurisma que não rompeu. Ou às vezes ele é tão grande que dá para ver em uma tomografia”, pontuou.
“Na horta, muitas vezes é fatal, porque a pessoa não sabe que tem, quando rompe já é tarde. Às vezes ele consegue descobrir porque dá na insuficiência renal, na cardíaca e vai fazer o exame para saber o que é e descobre o aneurisma comprimindo a artéria”, disse o coordenador Márcio.
Ele ainda explica que o aneurisma é mais comum a partir dos 60 anos. “Com o passar dos anos ele vai crescendo, em crianças ele é raríssimo, mas é comum a partir do 40, 50 anos e o pico de incidência é nos 60 anos, porque o sangue vai batendo até romper”, comentou.
AVC não é Aneurisma
Ele explica que o AVC hemorrágico é mais perigoso porque na ação o sangue se espalha pelo cérebro e causa uma falha no sistema.
“O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um episódio súbito no cérebro. Temos dois tipos, o isquêmico que é quando entope a artéria e o cérebro não recebe sangue, chamam de trombose, embolia; e o hemorrágico que é quando rebenta o vaso. Ele pode rebentar por conta da pressão alta ou por conta de um aneurisma. Mas existem outros vasos anormais, más formações que também rompem”. Ele reforça que o isquêmico é o entupimento da artéria e o hemorrágico é o rompimento da artéria.
Segundo o médico que atua há 50 anos em hospitais, dormência, paralisia no braço ou na perna, voz embolada ou não conseguir falar, dor de cabeça ou desmaio são os sintomas mais frequentes de que tem alguma coisa acontecendo no cérebro que não é natural e provavelmente é um AVC que precisa de socorro imediato.
“A lesão do cérebro é muito grave, quanto mais cedo o paciente chegar ao hospital e forem tomadas as medidas, maior será a chance dele. No Clériston já conseguimos desobstruir uma artéria em 22 minutos entre a chegada do paciente ao hospital e os primeiros socorros, isso que vai dar a chance dele se recuperar do AVC”, concluiu.
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