Saúde

População enfrenta dificuldades no atendimento em unidades públicas de saúde de Feira de Santana

Problemas levaram o Ministério Público a entrar com uma recomendação para que o município adote as medidas cabíveis.

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

O morador do distrito de Humildes, Roque de Oliveira, solicitou a reportagem do Acorda Cidade para ir até a UPA estadual, ao lado do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), para ver a situação da superlotação.

Ele foi à UPA para levar uma tia idosa depois de ter ido com ela para a policlínica do distrito, e não conseguiu o atendimento por falta de recursos para atendê-la.

“Eu vim trazer minha tia, nós moramos em Humildes, mas o atendimento em Humildes é quase nenhum. Faltam recursos na policlínica de Humildes, para atender uma pessoa eles só tem um mínimo de atendimento. Os profissionais que lá se encontram fazem milagres. Os recursos que temos na policlínica de Humildes são muitos poucos”, reclamou.

Para sua preocupação com a saúde da tia ficar ainda maior, a UPA estava lotada.

“Minha tia Apolônia do Espírito Santo, tem um quadro de diabetes, pressão alta, e outras relacionadas a idade, ela tem quase 100 anos. Nesta madrugada ela não estava muito bem, e eu resolvi trazer aqui na UPA ao lado do Hospital Clériston Andrade. Ao chegar aqui me deparei com a UPA lotada, me falaram que podia fazer a triagem mas não tinha perspectiva de atender. E aí eu comecei a reclamar e resolvi ligar para o Acorda Cidade. Quando eu liguei para o Acorda Cidade, levaram ela pra lá mas não tinha lugar nenhum para ela ficar, minha tia vai tomar medicação na cadeira de rodas. Tem gente em todo canto. Entrei numa sala que tinha 12 pessoas sentadas em cadeiras, em macas, de forma bastante desconfortável”, relatou.

O problema enfrentado pela tia de Roque é o mesmo que o de muitos feirenses e moradores da região tem enfrentado ao buscar atendimento médico em Feira de Santana. E a reclamação não parte só da policlínica de Humildes, mas sim de de várias outras unidades de saúde.

O fato é que Feira de Santana enfrenta desafios significativos em seus serviços de atendimento de saúde. A demanda crescente e infraestrutura insuficiente na atenção básica têm impactado negativamente a qualidade e a eficiência dos serviços de saúde para a população.

UPAs e policlínicas lotadas, unidades relatando não poder realizar atendimento por falta de materiais, profissionais constantemente reclamando de pagamentos atrasados. Além disso, existe uma suposta greve dos médicos, não confirmada pela prefeitura, que teria restringido o atendimento. Inclusive, o Sindimed, sindicato que representa a categoria, realizou uma assembleia no último dia 11 para tratar justamente sobre a possibilidade de restrição dos atendimentos por conta dos atrasos no pagamento, mas a greve não foi formalizada.

Tudo isso levou o Ministério Público Estadual a entrar com uma recomendação para que o município adote as medidas cabíveis para garantir que as atividades de saúde em áreas tidas como essenciais, como urgência e emergência.

Conforme afirma o MP, o prefeito e a secretária têm 24 horas para encaminhar ao órgão as informações relativas às providências adotadas para o cumprimento das medidas recomendadas, justificando e comprovando eventual impossibilidade de atendê-la.

“A recomendação levou em consideração ofício expedido para o Centro de Apoio Operacional de Defesa da Saúde (Cesau) dando notícia de restrição nos atendimentos das Unidades integrantes da rede municipal de saúde de Feira de Santana, conforme noticiado em diversos veículos de comunicação. No ofício, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia informou à coordenadora do Cesau, promotora de Justiça Patrícia Kathy Medrado, que a restrição tem impactado diretamente na assistência prestada no Hospital Geral Clériston Andrade, e solicitou o apoio do MP. No ofício, a Sesab ressalta que os médicos vinculados às unidades de saúde municipal deliberaram em assembleia pela deflagração de movimento de restrição de atendimentos a partir de 10 de julho, por tempo indeterminado motivados pelo “descumprimento no pagamento dos honorários médicos”. O ofício acrescenta que, diante do cenário de restrições no atendimento nas unidades da rede municipal de saúde, a população usuária do SUS tem recorrido ao Hospital Geral Clériston Andrade e à Unidade de Pronto Atendimento Feira de Santana, “ocasionando e, consequentemente, impactando na plena assistência aos usuários, que deveriam dispor de todas as portas de entrada dos serviços de saúde do Sistema Único”. Na recomendação do MP ao prefeito e ao secretário de Saúde de Feira, a Promotora de Justiça Amanda Buarque Bernardo salienta que “se necessário, o Ministério Público adotará as medidas judiciais cabíveis para assegurar o fiel cumprimento desta Recomendação”, relata a assessoria de comunicação do órgão.

UPA estadual e Hospital Clériston Andrade lotados

A secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana afirma que o Hospital Geral Clériston Andrade e a UPA Estadual estão com sobrecarga de atendimento por conta da falta de assistência municipal.

“Fizemos uma reunião emergencial neste domingo para remanejar pacientes de Feira de Santana para unidades estaduais em Alagoinhas, Itaberaba, Camaçari e Santo Antônio de Jesus. Para além dos serviços ofertados no Clériston Andrade e Hospital da Criança, o Governo do Estado já investia R$ 60,6 milhões por ano com leitos e serviços nas áreas de cardiologia, ortopedia, traumatologia, oftalmologia, além da realização de cirurgias eletivas, transplantes, exames diversos, dentre outros procedimentos voltados para os pacientes do município e região. Agora, emergencialmente, fizemos um contrato de 30 novos leitos para atender pacientes com perfil clínico”, afirma a secretária.

A titular da pasta estadual da Saúde ainda ressalta que enviará novas ambulâncias para o Clériston Andrade a fim de agilizar as transferências de pacientes.

Prefeitura nega greve dos médicos e reclama da fila da regulação

Em nota enviada ao Acorda Cidade, a prefeitura nega a existência de uma greve dos médicos e destaca que não houve qualquer declaração oficial comunicando o movimento. Na oportunidade a prefeitura criticou o sistema de regulação no estado e que o Hospital Estadual da Criança (HEC) não está atendendo gestantes que não estejam reguladas. Vale ressaltar que o HEC realiza atendimento de alta complexidade e segundo a assessoria, o hospital está realizando o atendimento denominado porta aberta, ou seja, sem necessidade de regulação, nos setores materno-infantil e pediátrico.

Confira na íntegra:

A respeito das recentes notificações da Secretaria Estadual de Saúde sobre uma suposta greve dos profissionais de saúde atuantes em nosso município, a Prefeitura de Feira de Santana vem a público esclarecer os fatos e reafirmar o seu compromisso com a transparência e o bem-estar da população.

De maneira irresponsável, a Secretaria Estadual de Saúde emitiu comunicados afirmando a existência de uma greve dos profissionais de saúde em Feira de Santana, sem que houvesse qualquer declaração oficial por parte dos próprios profissionais. O que de fato ocorreu nesse episódio foi a informação de um sindicato que deu início a um movimento de restrição de atendimento, o qual não ocorreu conforme foi inicialmente divulgado. Ressaltamos que essa manobra da Secretaria Estadual de Saúde tem como objetivo desviar o foco dos problemas reais enfrentados pela população de Feira de Santana, problemas estes que são de responsabilidade direta do Governo do Estado.

É importante destacar a situação crítica da regulação em nosso município. Apenas neste ano, até o mês de junho, já ocorreram 124 mortes decorrentes da precariedade do sistema. É essencial que a Secretaria Estadual de Saúde compreenda o impacto da longa e angustiante fila da regulação nas unidades municipais de saúde. Além disso, é alarmante saber que o Hospital Estadual da Criança, um estabelecimento de referência, encontra-se fechado para parturientes que não estejam reguladas. Tal situação coloca em risco a vida das parturientes e dos bebês. É importante ressaltar que essa demanda sobrecarrega o hospital Municipal da Mulher, que assume um papel crucial em lidar com essa crescente demanda.

Os dados referentes ao hospital Municipal da Mulher, de janeiro a junho: foram atendidas na emergência 25.819 gestantes, com 5.988 internamentos, 4.191 partos realizados, 490 curetagens realizadas, 1.413 gestantes internadas para tratamento clínico, 129 laqueaduras e 169 cirurgias ginecológicas realizadas.

Informamos, ainda, que até este domingo, 38 pessoas aguardam na chamada “fila da morte”. Essas pessoas estão sendo atendidas nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e policlínicas do município, que só de 05/06 a 03/07 realizaram 208.793 atendimentos.

A Prefeitura de Feira de Santana reitera o seu compromisso em garantir uma saúde de qualidade para a população e não medirá esforços para superar os desafios enfrentados. Estamos empenhados em promover melhorias significativas no sistema de saúde.

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