O esporte costuma traçar histórias de superação e transformação de vida, principalmente em bairros periféricos das grandes cidades. Na Bahia, o Boxe já revelou diversos atletas que alcançaram sucesso dentro e fora do país, sendo uma das modalidades que ajudam a trazer a juventude para perto da prática esportiva, afastando-os da criminalidade e despertando o sonho de construir carreiras de sucesso. Esse é o caso do boxeador amador Isaque Mosquinha, de 16 anos, que sonha com uma vaga na Seleção Baiana de Boxe.
Para chegar onde almeja, Isaque treina no Centro de Treinamento de Boxe e Artes Marciais, equipamento do Governo do Estado que fica no Largo de Roma, em Salvador, e oferece toda a infraestrutura necessária para a preparação de atletas e praticantes, incentivando a formação de novos talentos. “Ali estão mais de 1.600 pessoas aprendendo várias modalidades de artes marciais, garantindo treinamento, saúde, qualidade de vida e defesa pessoal”, explicou o diretor-geral da Superintendência dos Desportos da Bahia (Sudesb), órgão responsável pela gestão do equipamento.
Inspirado em pugilistas baianos de sucesso, como os campeões olímpicos Robson e Hebert Conceição, Isaque Mosquinha já tem objetivos traçados na carreira. “O foco é conseguir chegar nas Olimpíadas e trazer uma medalha para o Brasil”, planeja o boxeador amador, cujos planos começaram no projeto social ‘Sonhar é Viver’, comandado por Ito Viana, que incentiva a prática do boxe entre crianças, adolescentes e jovens, no Alto do Cabrito, no Subúrbio Ferroviário.
A ação oferece aulas gratuitas para 80 alunos, dias de terça e quinta, às 18h, e aos sábados, às 9h, nas praças Bela Vista e Dique do Cabrito. “Eu fui seis vezes campeão baiano e também fui campeão norte/nordeste na categoria amadora. É essa a expectativa que tenho na vida desses jovens, além de evitar que eles sejam abraçados pelo mundo da criminalidade”, conta o treinador Ito.
Os projetos sociais na capital baiana desempenham um papel fundamental na formação de jovens no boxe. Promovidas por professores que moram no próprio bairro, essas iniciativas atraem a atenção de meninos e meninas que vêem no esporte uma oportunidade de se desenvolverem como atletas e sonharem com uma vida melhor.
Mais iniciativas
Outro baiano que acredita na potência da ação social é o professor de boxe Jailson Santos. Junto com Luciano Dodoga, ele ajuda a revelar novos talentos através do ‘Feras do Boxe’, projeto realizado com pessoas de todas as idades, no bairro de Pernambués. “É um projeto que surgiu há muitos anos, em cima de uma laje. Vale ressaltar que Pernambués é o bairro que mais cedeu atletas de boxe para Salvador. Hoje, damos continuidade a esse trabalho e utilizamos o boxe não só como uma atividade de competição esportiva, mas como uma ferramenta de socialização e ressocialização, cuidando também da saúde física e mental”, destacou Jailson.
A dona de casa Ivone Queiroz, de 75 anos, já frequenta as aulas há mais de um ano. Além de se manter ativa, ela conseguiu perder 17 kg e controlou a pressão arterial. Eu sou pequenininha assim, mas tinha 85 quilos e tenho hipertensão. A minha pressão só ficava em 18, chegou até 20. Aí, eu vim aqui para o projeto e fiquei. Comecei a perder peso e quando eu fiz os exames, a médica perguntou o que eu estava fazendo. Eu disse: estou lutando boxe. Graças a Deus, estou bem. Minha pressão está ficando 12/8, e eu quero chegar a 65 quilos. Faz diferença e eu gostaria que todo mundo viesse, porque é bom demais”, relatou.
Campeão brasileiro de boxe, Jailson iniciou no esporte em 1988, passou pelas principais academias e pelos mais respeitados treinadores da modalidade no estado. Foi o principal sparring (auxiliar) de Acelino Freitas, o Popó, na caminhada do atleta até o título mundial, e também treinou o irmão dele, o pugilista Luís Cláudio Freitas. Após encerrar a carreira profissional, Jailson passou a treinar alguns ícones do MMA, como os baianos Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro, além de Vitor Belfort e Edson Drago.Com essa trajetória exitosa, o agora professor divide experiências e conhecimentos com seus alunos. “Temos uma aceitação muito boa da comunidade. Só tenho a agradecer por tudo o que essa modalidade tem feito na minha vida e por me permitir cooperar na vida de outras pessoas”, ressalta.
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