Feira de Santana

Conheça perigos ocultos do Rio Jacuípe: profundidade varia e exige cuidado dos banhistas

Conforme o ambientalista João Dias, o Rio oferece riscos principalmente para quem não sabe nadar e para quem não está com equipamento de segurança.

Foto: ACM
Foto: ACM

No último domingo, uma fatalidade abalou a comunidade ribeirinha do Rio Jacuípe, no município de São Gonçalo dos Campos. Uma mulher grávida de 4 meses, identificada como Cristiane Santana de Freitas, de 40 anos, e seu filho de 13 anos perderam suas vidas em um acidente ocorrido na Fazenda Xavante, em um trecho perigoso do Rio Jacuípe.

Para entender melhor sobre as características do Rio Jacuípe, detalhes sobre pescadores, embarcações, questões de profundidade e áreas perigosas o Acorda Cidade entrevistou João Dias, ambientalista e vice-presidente da Associação dos Produtores Rurais e Pescadores do distrito de Governador João Durval Carneiro (Ipuaçu), em Feira de Santana. Ele falou sobre as principais características do rio e a profundidade nos diferentes trechos.

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Segundo os nossos cálculos no Lago Pedra do Cavalo, que compõe 12 municípios, 185 quilômetros quadrados, tem aproximadamente 2 mil pescadores. Mas essa parte do lago é composta pelo Rio Jacuípe e pelo Rio Paraguassu. Quando eu falo do Rio Jacuípe é necessário separar algumas coisas. No Rio Jacuípe lótico, que é a parte corrente, que pega o distrito de Jaguara, uma parte de Maria Quitéria e uma parte de Ipuaçu. E temos que falar da parte lêntica que é a calha do rio que foi inundada pelo lago Pedra do Cavalo. Aí nós temos o distrito de Ipuaçu com várias comunidades, Feira de Santana, os Três Riachos, comunidade de Ponte, Santa Luzia, Mergulho, Bom Jardim, Camarão e Amarela, quando termina o distrito de Ipuaçu no Rio Jacuípe no trecho do Lago Pedra do Cavalo”, descreveu.

Essas informações são necessárias, segundo o ambientalista, porque as pessoas precisam entender que existem diferenças na profundidade em cada trecho do Rio Jacuípe.

Foto: Reprodução/Vídeo

“Pessoas me ligaram me perguntando ‘como é que morreu uma família no Rio Jacuípe se ele é raso’. É bom que fique entendido que o Rio Jacuípe é raso na parte lótica, ou seja, na parte que corre em Jaguara. E na parte lêntica, que é a parte parada em Ipuaçu, o Rio tem em média mais de 80 metros de profundidade”, chamou atenção.

Embarcações

Existem dois tipos de pescadores no Rio Jacuípe: Os pescadores esportivos, no qual a maioria deles possui barcos de alumínio com motores de popa, como contou Dias.

“Esses pescadores geralmente têm um barco em boas condições, e na maioria dos casos, usam coletes salva-vidas e alguns tem até licença da Marinha”.

Mas existem também aqueles pescadores artesanais, que fazem parte da Associação dos Produtores Rurais.

“Esses pescadores artesanais e moradores ribeirinhos têm barcos de tábuas geralmente de Pequis, comprada em madereiras de Feira de Santana e levadas para Ipuaçu para serem fabricados. Quando esses barcos estão novos estão em excelente condição para navegar, mas a maioria dessa frota hoje se encontra bastante antiga e desgastada”, destacou.

Os pescadores artesanais do lago Pedra do Cavalo na grande maioria, de acordo com João Dias, sobrevivem da pesca do Camarão.

“Ele é pescado e passa por um processo de secagem, é ensacado, trazido para Feira de Santana e vendido para outros centros comerciais. É vendidos principalmente para o município de Santo Antônio de Jesus”, abordou.

Ele explicou que os barcos são padronizados apenas no modelo, utilizando as mesmas madeiras.

“O barco é feito com madeiras adquiridas aqui em Feira e quase sempre eles não pintam os barcos, eles deixam o fundo do barco quadrado e a frente do barco pontiaguda. O modelo é que é seguido. Eles usam, na maioria, motor de rabeta, porque os barcos feitos lá não suportam motores de popas, porque são mais forte e mais potentes. Então esses são os barcos que os pescadores usam”, disse.

Foto: Acorda Cidade

Passeios x coletes salva-vidas

A grande maioria dos pescadores artesanais vivem de camarão, quase nunca há passeios, indicou João Dias.

“Às vezes existem alguns eventos que alguns pescadores costumam sair, e tem algumas situações que é bom a gente ficar atento. Pescador quando está no barco com outros pescadores quase nunca usa colete. O pescador tem uma relação com o Rio desde criança, eu aprendi a nadar com quatro anos e meio, lá no Mergulho, em Santa Luzia. O normal é as pessoas que pescam aprenderem a nadar muito cedo, bem criança. Então ele cresce sem medo do rio, com uma relação com o rio, e se o barco afundar geralmente eles nadam. Vale alertar que o essencial é que todos estejam com colete, mas também as pessoas não podem acreditar apenas no colete, colete tem peso. Se você tem 100 quilos, você tem que usar um colete para 100 quilos ou mais, se você tiver 100 quilos e estiver com um colete para 70 quilos você morre. O fabricante aconselha você testar o colete, primeiro precisa testar se o colete está bom ou não, para depois se sentir seguro quando estiver usando”, salientou.

Áreas de risco

A partir do trecho da ponte do Rio Jacuípe, até chegar na barragem Pedra do Cavalo, ou subindo o Paraguassu até Porto Castro Alves, o trecho do lago todo é uma área de risco. Conforme João Dias, o Lago Pedra do Cavalo no trecho do Paraguassu e do Jacuípe é considerados um dos lagos mais profundos do Brasil.

“Nós temos uma média de 100 metros em alguns lugares, no Mergulho, localidade em que nasci, lá foi medido por mim mesmo e deu 80 metros. Então quem chega lá nunca imagina que o rio tem 80 metros de profundidade. E lá no trecho onde houve esse incidente deve haver de 30 a 60 metros de profundidade. Então o rio oferece riscos principalmente para quem não sabe nadar e para quem não está com equipamento de segurança”, ressaltou.

O rio possui vários lugares para banho e com a água despoluída, no entanto João Dias relatou que as pessoas precisam respeitar os limites de profundidade.

“Se você tem pouca prática com natação e se você não sabe nadar é bom manter-se longe”, concluiu.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.

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Edmilson

Parabéns João Dias, mais precisamos de uma Policia Ambiental para essa bacia do Jacuípe

Dcunha

Parabéns João Dias! Informações de altíssimo valor. Precisas, claras , vc foi sensacional em todo teu falar.
As pessoas precisam respeitarem a natureza.
Também, acho que leis precisam serem criada leis sérias, e colocar em prática, as que já existem. Também, as autoridades, governos, criarem projetos para ajudarem esses pescadores, os quais, na sua maioria, são pessoas simples, a terem acesso, a condições melhores de trabalho, como coletes, equipamentos de segurança, e até nas embarcações.

PEDRO HENRIQUE

Boa análise de João, realmente conhece as particularidades do rio o seus danos.
Agora nada impede que os município por onde o rio passe faça sinalização sobre a obrigatoriedade do uso de coletes, limites de transporte e áreas permitida para banho. Tanto O município de Feira de Santana e o de São Gonçalo estão de costas para o rio, portanto nada será feito, o poder publico não tá preocupado.

AILTON

Entre o município de São Gonçalo e a barragem de Pedra do Cavalo, existem trechos podem passar de 250 a 300 metros de profundidade. Imaginem a barragem de Bananeiras que tinha mais de 40 metros de altura, Atualmente será necessário mergulhar a mais de 30 metros de profundidade para visualizá-la.