A jornalista, Rhamayana Barreto (link para Instagram), sempre escondeu sua voz. Nunca cantou em barzinho, em igrejas, nem mesmo entre amigos. Mas um dia, de repente, lavando pratos e pensando na sua avó, ela começou a cantarolar um refrão: “Gal, ô Gal, ô Gal, por que fostes embora? Ô Gal, ô Gal… e o que eu faço agora?”. A melodia lhe pareceu bonita e tocante e ela correu para gravar no celular. “Será que consigo fazer a música inteira?”, pensou. Então, pegou papel e caneta e a música fluiu completa de uma só vez.
O ano era 2014 e, depois da primeira, vieram várias outras canções que ficaram guardadas no seu celular. Ela mostrou para alguns poucos familiares e amigos que se surpreenderam com sua voz e talento para compor. Mesmo assim, Rhamayana não se convenceu de que era boa o suficiente para profissionalizar o dom que acabara de descobrir ter.
Foi apenas após se tornar mãe, em 2019, que esse desejo começou a visitá-la. O medo da morte, que assusta muitas mulheres que têm um bebê totalmente dependente delas, trouxe para Rhamayana a vontade de deixar um legado para o seu filho.
“Era pandemia e, nesse período, a morte intimidou até os mais confiantes; não foi diferente comigo. Eu pensava que se eu morresse ali, todas as minhas músicas morreriam comigo e o meu filho sequer conheceria os meus versos e melodias”, conta a cantora.
Foi, então, que, em 2021, surgiu a oportunidade de inscrever uma canção no Festival de Arte e Música do IF Baiano, onde ela trabalha. Por conta da pandemia, essa edição do festival foi online e ela precisaria apenas gravar um vídeo, não enfrentando seu medo do palco, sua timidez. Ao compartilhar sua canção no Festival e nas redes sociais, aos 31 anos, ela recebeu uma enxurrada de mensagens de pessoas que a conheciam há anos: como assim você canta e eu nunca soube?
Rhamayana venceu o Festival com a canção autoral “Ouvir” e muitas pessoas compartilharam seu vídeo no Instagram e disseram que queriam ouvir a música nas plataformas de streaming. Em 2022, ela lançou, então, a canção que a apresentou ao público e que traduz suas angústias diante do período de isolamento social com o negacionismo, a intolerância e a falta de cuidado com o outro. A música foi exibida no quadro “O que é que a Bahia tem?”, na Rádio A Tarde FM, em março deste ano.
Em 2023, ela lançará seu primeiro álbum. E, já que a maternidade foi o grande divisor de águas na sua vida e carreira, nada mais justo que falar sobre ela em seu primeiro projeto. O álbum leva o nome da música de trabalho, “Mar terna idade”. Canção que brinca com a sonoridade e denotação de palavras que juntas parecem maternidade: “Mar terna idade” e “Mar tenra idade”.
Nos versos “Idade da luz que minha madureza conduz. Idade da luz que tua inocência conduz”, a compositora revela que o encontro entre mãe e filho em diferentes fases da vida é um encontro à tenra idade. “São seres que se encontram em idades distintas, mas muito parecidos em vulnerabilidade, enquanto vivem um momento de intensa transformação”, afirma Rhamayana.
“O que acontece quando a madureza dá a luz à inocência e a inocência faz nascer maturidade, é potência. Muita coisa morre, enquanto nasce, nesse encontro, e muita coisa nasce, enquanto morre”, explica. E desse mergulho na maternidade, a jornalista nasce cantora.
O álbum terá 7 faixas autorais com músicas alegres e outras introspectivas, cheio de brasilidade e das possibilidades rítmicas da MPB, com influências do Samba, do Ijexá, do Frevo, do Pop, entre outras. O álbum traz a intensidade, a profundidade e a ambivalência do mergulho na maternidade. “Profundo e doce. Intenso e terno. Turbulento e delicado: o mergulho e o álbum”, define a artista. Para viabilizar o lançamento, a cantora independente criou uma campanha de financiamento coletivo que em dois dias já bateu 20% da meta.
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram