A professora feirense Marcele Esteves Reis Ferreira, de 39 anos tem uma extensa trajetória no campo da educação em Feira de Santana. Formada em Educação Física e Direito, ela já passou por algumas instituições da cidade e o desejo de trabalhar com inclusão existe desde que estagiou na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Lá ela fez o estágio no setor de educação física, posteriormente foi contratada e durante essa experiência pôde conhecer diversas pessoas que conviviam com algum tipo de deficiência e diagnósticos, inclusive o autismo.
O que ela não sabia é que ao longo da sua carreira como docente, passaria por diversos outros trabalhos e que sua história com a Apae, com todas as vivências passadas se encontrariam com mais intensidade quando se tornou mãe e descobriu que o seu filho Ian, que vai completar quatro anos, tem autismo. Segundo ela, ao descobrir o diagnóstico do filho, a sua maternidade foi ressignificada.
“Meu filho Ian tem o Transtorno do Espectro Autista (TEA), autismo, foi diagnosticado há quase dois anos e antes mesmo do diagnóstico que a minha maternidade precisou ser ressignificada. Eu acredito que Deus foi muito bondoso, sempre é muito generoso e durante minha passagem na Apae e tive contato com pessoas de diversas idades, com diversos diagnósticos, inclusive autismo. Esse olhar mais próximo das pessoas com deficiência de certa forma me preparou para o que estava por vir. Esse olhar anterior, essa formação mais ampliada, me fez enxergar antes de outras pessoas que meu filho apresentava alguns atrasos e que eu precisava correr atrás disso. Ele até os dois anos vinha desenvolvendo dentro dos marcos regulares e com dois anos ele parou de falar. Associado a isso, ele começou a apresentar a perda de outras habilidades como abraçar, bater palmas, soltar beijo. Ele tem autismo regressivo”, relatou.
Com o diagnóstico do filho, a professora e então mãe de autista, buscou então se munir do máximo de informações possíveis e buscar todas as alternativas que pudessem ajudar no desenvolvimento do filho. Um caminho difícil, onde teve que abrir mão de várias coisas, inclusive precisou reduzir a carga horária de trabalho na Unifan, instituição onde ensina, para que pudesse estar cada vez mais próxima de cada habilidade conquistada por Ian.
Marcelle destaca que nesta trajetória tem a oportunidade de contar com a ajuda do esposo, da família dele e da sua, além do apoio dos amigos, dos chefes e colegas de trabalho. Uma rede de pessoas segundo ela que, além de ser muito importante, é uma rede também muito sensível e que respeita tanto as suas demandas como a de seu filho. Um privilégio que por vezes é para poucas mulheres e na opinião dela, há ainda há uma grande exclusão e preconceito relacionado a maternidade atípica e as pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. Para a professora, entender o diagnóstico do filho como um aliado fez muita diferença para se fortalecer durante a sua caminhada.
“Ninguém imagina ter um filho com deficiência, por mais que eu tenha trabalhado na Aape e convivido com muitas pessoas. Quando comecei a suspeitar do autismo, tentei me preparar psicologicamente para o que estava por vir. O diagnóstico é muito difícil, não só pelas demandas que teremos que lidar, mas por conta do preconceito da sociedade. São pessoas que são excluídas, não são compreendidas, respeitadas dentro da sua condição e isso é muito mais doloroso do que as próprias demandas que acometem as pessoas com autismo. Eu tive que fazer uma escolha, ou encarar como um vilão, ou como um aliado. Escolhi o diagnóstico como um aliado e esse vem acompanhado pela agilidade pelo dinamismo e pela leveza. Eu sempre tento levar essa situação toda de uma forma leve e com muito aprendizado. O diagnóstico me deu formas para continuar lutando, buscar melhorias para ele, me capacitando cada vez mais”, afirmou.
Maternidade e um antigo sonho profissional
A maternidade atípica na vida de Marcelle trouxe além dos desafios e novos aprendizados, um antigo sonho que ela tinha de volta. O desejo de montar um centro de desenvolvimento para crianças atípicas e típicas, que ajudasse a desenvolver suas habilidades e oferecesse diversos tipos de atendimentos de terapias.
Em 2022 a professora fundou junto com um amigo psicomotricista, Diego William, o Centro de Desenvolvimento Jeito de Ser. Um espaço privado que oferece uma série de atividades para crianças e jovens.
“Para conseguir até verbas para desenvolver completamente o nosso sonho de um atendimento também gratuito, precisamos ter o recurso. É uma instituição privada, atende no particular, como também através de reembolsos com os planos de saúde”, explicou.
Neste Dia das Mães, Marcelle relembra vários momentos da sua história ao lado de Ian e também passa a mensagem para outras mães que tem filhos com algum tipo de deficiência. Ela diz o quanto é importante a união das mães para que os seus filhos sejam melhores assistidos na sociedade.
“Tenho orgulho de colocar um filho no mundo. Independente da condição, ser mãe é um ato de coragem. A gente vive em um mundo de relações difíceis, complexas e um mundo muito caro. Digo para as mães que não se culpem e mesmo quando a gente erra é tentando acertar. Não tenham vergonha de errar, de mostrar para a sociedade que seu filho tem uma deficiência. A sociedade tem que entender, respeitar e incluir. Muitos casos de preconceito e discriminação acontecem por falta de informação e se a gente começar a se unir a causa ganha forma, acaba sendo visibilizada e nossos filhos melhores amparados”, encerrou.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.
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