Feira de Santana

Secretário estadual acompanha fechamento de centro psiquiátrico irregular e reinserção de pacientes aos familiares

A operação teve início esta semana após denúncias anônimas.

Centro psiquiátrico irregular_ Foto Ed Santos Acorda Cidade
Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

O Secretário Estadual de Justiça e Direitos Humanos, Felipe Freitas, esteve na manhã deste sábado (15), em Feira de Santana, para acompanhar a operação de retirada dos pacientes psiquiátricos que estavam morando em um centro de acolhimento irregular localizado no bairro Santa Mônica II.

A operação teve início esta semana após denúncias anônimas. Ontem (14), a Polícia Federal, em parceria com órgãos municipais, a Polícia Militar e a Polícia Civil, constatou a presença de 46 pacientes na unidade principal, e mais 12 pessoas em outra unidade localizada em outra rua. O proprietário foi encaminhado à delegacia para adoção das medidas cabíveis.

Secretário estadual Felipe Freitas_ Foto Ed Santos Acorda Cidade
Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

Em entrevista ao Acorda Cidade, o secretário Felipe Freitas esclareceu que o espaço funcionava de modo clandestino.

“Aqui é um espaço clandestino, e as nossas equipes estão acompanhando desde o começo da semana essa operação de fiscalização deste espaço. Eu vim aqui no sentido de prestar o apoio para proceder ao fechamento do lugar. A gente está com a operação em curso, se trata de uma ação bastante complexa, que envolve múltiplos atores, e o governo do estado está encaminhando as demandas junto com a prefeitura, através da Assistência Social, para reinserção das pessoas que precisam às suas famílias e as demandas de quem precisa ficar internado ou ser atendido pelo sistema de saúde mental da rede municipal, que são os Caps (Centros de Apoio Psicossociais)”, informou.

Felipe Freitas ponderou que compreende as dificuldades das famílias neste momento por terem que receber novamente em seus lares os parentes com problemas de saúde mental, porém é preciso seguir as orientações governamentais.

“Certamente, eu entendo as dificuldades das famílias, mas a orientação é que o sistema municipal de saúde preste o apoio necessário para quem tem demandas de atendimento ambulatorial. As pessoas que não estão sendo internadas são aquelas que não possuem prescrição. Alguns já foram reinseridos às suas famílias. Estamos em meio a esta operação e vamos aguardar o que o sistema de Justiça vai decidir em relação a este espaço. O governo do estado apoia esses pacientes através da Secretaria Estadual de Saúde, com as medidas de média e alta complexidade de saúde mental. Além disso, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos acompanha as instituições de longa permanência, atendimento a pessoas idosas e pessoas com deficiência, para prestar o tipo de atendimento e apoio, para que a prefeitura municipal possa fazer o atendimento de atenção básica”, esclareceu.

Auxiliar de produção Edmilson dos Santos Cerqueira_ Foto Ed Santos Acorda Cidade
Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

Um dos familiares chamados ao espaço, na manhã de hoje, foi Edmilson dos Santos Cerqueira, 35 anos, que trabalha como auxiliar de produção. Ele tem um irmão de 28 anos que estava residindo no centro de acolhimento há cerca de 4 anos.

Em entrevista ao Acorda Cidade, ele relatou que o irmão passou a morar no espaço devido à agressividade e após tentar tirar a vida dos familiares em casa.

“Ele veio parar aqui devido à agressividade, dava ataques e a gente levava para o Hospital Lopes Rodrigues e lá mandavam levar para casa. Às vezes, passava 15 dias e depois ia para casa. E aí teve uma situação em que ele tentou matar meu pai e me matar. Minha mãe nem posso falar sobre o que ela já sofreu. Hoje ela só tem uma perna, é cadeirante, mora sozinha, e já sofreu muito de ele a empurrar na rua. Não aceita que ninguém dê a medicação, é bastante agressivo, e a medicação dele não faz mais efeito, é injeção, e assim mesmo ele tem crises.”

Conforme Edmilson dos Santos, a família não tem condições de permanecer com o parente em casa.

“Não temos condições nenhuma de cuidar. Como é que minha mãe cadeirante e diabética, com pressão alta, todos os problemas que ela tem, vai ficar com uma pessoa assim em casa? É arriscado acontecer uma tragédia, um assassinato, porque do jeito que ele é agressivo pode pegar uma faca, faz tudo. Se você ver na rua, é um cara normal, mas dentro de casa quer matar os familiares”, contou.

Sem saída, a família manteve o paciente internado na casa de acolhimento, que recebia um salário mínimo pela estadia e alimentação.

“Aqui a gente pagava um salário mínimo, a gente vinha visitar ele final de semana, mas não entrava no quarto por questão de segurança. Ficávamos aqui na frente e trazíamos algumas coisas para ele, como lanches diferentes, que ele gostava e às vezes ele pedia alguma coisa e a gente trazia, também roupas que precisava, medicação, exames, que tudo isso é por fora. A gente pagava o salário só por questão de alimentação normal e a estadia, que ele tem o BPC (Benefício de Prestação Continuada). Ele fazia o acompanhamento no Caps, mas quando tinha as crises, a gente chamava a Samu, que vinha com o apoio da Guarda Municipal, levava ele e às vezes ficava internado e às vezes mandava para casa. Não temos condições nenhuma de levar para casa, até porque recebemos a informação semana passada que ele agrediu um rapaz, e a gente não sabe o que esperar de uma pessoa dessa, não tem como dormir com uma pessoa dessa dentro de casa.”

Leia também: Polícia realiza operação após denúncias contra centro psiquiátrico particular em Feira de Santana

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.

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Marco

Olha aí o estado fazendo das suas….sem palavras

Sem noção

Agora aparece agentes, tudo que tem direito porque não manteve a colônia com todas as prerrogativas para atender um paciente desse . E fazer que nem o cara que matou a sobrinha com facadas porque é doente e mantinham ele em casa me poupe viu. A questão é um lugar adequado com equipamento quem tem que fazer isso é o governo com nossos impostos. Dou maior apoio a família que deixou seus parentes lá. Tem muito deles agressivo só sabe é quem convive.

José Reis

Só agora, mais de 4 anos depois, viram quê estava errado? Isso mostra a ineficiência e incapacidade do poder público, e as centenas ou milhares de ocupantes de cargos públicos que não tem noção, muitas vezes, porquê ou para quê estão ali. Isto acontece em todo o Brasil.

Lais

O estado deveria colocar essas pessoas num local para ficarem, se a família colocou na clínica é justamente pq eles não tem condições de ficarem por serem muitos agressivos, atentar a vida deles e do próximo, nessas clínicas eles encontraram a solução que nenhum município ou estado fazem, caps não resolve, Lopes Rodrigues não resolve, então a quem vão recorrer? Imagina que muitos não tomam a medicação, pensem nas famílias o quanto sofrem com doentes mentais agredindo, ou tirando a vida do proximo, igual aconteceu recentemente no distrito de Maria Quitéria, é revoltante!!! Olha o depoimento desse rapaz, o quanto a família sofre.
O estado deve criar clinicas com profissionais capacitados e internar essas pessoas, ou então ficaram a solta sendo vítimas das ruas ou em suas casas sem ter assistência que acompanhem.

Greta

A questão não é colocar em uma clínica ou centro de acolhimento, o problema é a maneira como funciona o local. Como diz na matéria, o local funcionava de maneira irregular, sem alvará, sem uma equipe capacitada, expondo os pacientes a um ambiente sujo, sem uma alimentação adequada a condição deles, sem atividades de terapia ocupacional ou expressão artística, algo que agrava drasticamente o quadro da deficiência. Existem outras clínicas que essas famílias podem buscar. Entendo que a intenção das famílias, na sua maioria, é que sejam cuidados, mas essas famílias precisam ser direcionadas sobre a política de saúde mental. Agora que o Estado precisa assumir a sua responsabilidade e agir para prover a dignidade a esses pacientes e acompanhamento a essas famílias.

Márcio Henrique

Já que o local era irregular o poder público, município e estado, cumpra sua obrigação e acolha da forma correta.

Elis

Clínica em Feira que cobram 800,00 na diária, será que uma pessoa que recebe o bpc teria como custear?

Descaso

Tem horas que o poder Pública só atrapalha, por que abandona os pacientes na fila de regulação para morrer a míngua e agora impede que pessoas capacitadas tomem conta dos doentes mentais, sendo que a família não quer cuidar. Esses internos vão acabar na rua jogados por culpa do Estado .