Entre 1º de janeiro e 15 de março de 2023, 40 policiais militares do RJ foram expulsos da corporação. Dados obtidos com exclusividade pelo g1 mostram que esses agentes foram excluídos por crimes como envolvimento com a milícia, extorsão, porte ilegal de armas, homicídios, roubo e receptação.
No estado, há hoje cerca de 40 mil PMs. Entre 2018 e 2022, 592 foram desligados. Isso equivale a um batalhão inteiro: o Bope, por exemplo, tem 400 homens.
Mais da metade das expulsões ocorreu somente em 2018, último ano do governo de Francisco Dornelles (Progressistas), quando 312 PMs foram demitidos.
Quando o ex-juiz federal Wilson Witzel (então no PSC) assumiu o Palácio Guanabara, as expulsões caíram significativamente: 49 em 2019, 32 em 2020 e 47 em 2021.
O secretário da Polícia Militar de Witzel era o coronel Rogério Figueredo de Lacerda. Ele foi exonerado em agosto de 2021, quando o atual governador, Claudio Castro (PL), assumiu definitivamente o comando do estado do RJ.
Desde então, com o atual secretário, o coronel Luiz Henrique Marinho Pires, houve aumento no número de PMs excluídos. Em 2022, 152 oficiais ou praças foram expulsos.
Seguranças de Orlando Curicica entre expulsos
Entre os excluídos este ano, até o dia 15 de março, estão o subtenente Marcelo Magno dos Santos Torres, de 48 anos, e o cabo Márcio Vinícios Siqueira Borges, de 35.
As demissões foram publicadas no Boletim Interno da PM no dia 3 de março. Eles são acusados de atuar como seguranças do ex-PM e miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica.
Ambos foram flagrados na casa do paramilitar, em Vargem Pequena, na Zona Oeste, em 27 de outubro de 2017, durante uma operação da Polícia Civil para prender o miliciano. Os dois PMs estavam no quintal da residência quando os policiais civis chegaram.
Na época, contra Orlando havia quatro mandados de prisão em aberto. Os PMs foram levados, junto com o paramilitar, para a delegacia.
Torres tinha 25 anos de carreira, e Borges, 12 anos de corporação. Eles negaram conhecer Orlando Curicica. A dupla disse que Orlando foi apresentado a eles como Celso, que seria ourives. Ambos afirmaram que só descobriram a verdadeira identidade dele no dia da prisão.
Na conclusão do Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), a Polícia Militar disse não ser razoável acreditar na “hipotética ingenuidade” dos militares, uma vez que as provas obtidas demonstraram que os dois participavam ativamente da rotina familiar do miliciano, executando várias funções, como levar e buscar os filhos na escola e acompanhamento de passeios de Orlando e sua família.
Ainda segundo o PAD, “é fantasioso” acreditar que dois policiais experientes — um que serviu no 18º BPM (Jacarepaguá), que é da área onde Orlando atuava, e outro no Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e em outras unidades operacionais — não teriam levantado informações a respeito da família para a qual faziam segurança.
“Foge ao senso comum que não fosse sabido por estes as atividades escusas conduzidas pelo referido miliciano”, destacou a conclusão do procedimento disciplinar.
Saiba os motivos das expulsões
Entre janeiro de 2018 e março de 2023, 632 policiais militares foram exonerados.
Segundo o relatório da PM, concussão — quando um agente público cobra e recebe propina — levou ao desligamento de 62 PMs.
No mesmo período, 48 foram demitidos por assassinato. Outros 42 foram expulsos por envolvimento com a milícia.
O que dizem os citados
Nota da Polícia Militar: “A Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, infelizmente, estes não são números que gostaríamos de estar comentando. Entretanto, esses dados reforçam que o comando da Corporação não compactua com os desvios apontados e demonstra total compromisso com a Sociedade Fluminense. Nesse contexto, a Corregedoria Geral de Polícia Militar trabalha para identificar eventuais envolvidos, aplicando as punições previstas quando constatados os fatos. Vale ressaltar que a a área correcional da Corporação está ao dispor do cidadão para denúncias através do telefone (21) 2725-9098 ou ainda pelo site https://www.cintpm.rj.gov.br/. O anonimato é garantido”.
Ao g1, o ex-governador Wilson Witzel disse: “No meu governo, vários foram os indicadores positivos, inclusive no combate à corrupção, com a implantação do sistema SEI, prisão dos assassinos da vereadora Marielle, criação da Patrulha Maria da Penha, etc. Especificamente sobre a PM, fui o primeiro governador a impedir qualquer interferência política na corporação, todos os comandantes foram escolhidos pelo alto comando da PM. Muitas expulsões envolvem casos de perseguição política, o que desmotiva a tropa e destrói a cadeia de comando piorando os indicadores criminais. A mancha criminal passa a ser ignorada e prevalecem os interesses políticos no uso da corporação. Lamentável”.
Fonte: G1
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