Este domingo (2) é o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição que, segundo os dados mais recentes divulgados pelo Centro de controle de prevenção de doenças (CDC) dos Estados Unidos, afeta entre 1 e 2% da população mundial.
No Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas convivem com o distúrbio, que se caracteriza por alterações no neurodesenvolvimento de crianças e adultos, os quais podem interferir na capacidade de comunicação, interação social e no comportamento.
A Neuropsicóloga Marivânia Mota, cuja área do conhecimento busca entender o comportamento a partir de disfunções ou lesões do cérebro, destacou em entrevista ao Acorda Cidade, que o autismo não pode ser considerado uma doença, mas sim um transtorno que se apresenta de forma diferenciada em cada indivíduo.
“O TEA é um transtorno e não pode ser considerado como doença. Quando a gente ouve falar em autismo, pensamos nas características clássicas, que são pessoas não verbais, agressivas e que não têm capacidade de aprendizado. Mas, hoje a gente sabe, e por isso que mudou de nome em 2013 para espectro, que o autismo tem uma possibilidade de apresentações, então cada autista é diferente e isso faz com que o tratamento para cada um seja diferenciado.”
Segundo a especialista, os principais critérios para o diagnóstico do TEA, segundo o livro de estatísticas internacional que classifica os transtornos, são: dificuldades na interação social, estereotipias, que são os movimentos repetitivos tanto físicos quais vocais (pessoas emitem sons repetitivos na garganta), e a fixação ou gosto restrito por um assunto ou objeto (hiperfoco).
Quantos aos graus do autismo podem ser de nível 1,2 e 3.
“Esses graus dependem da funcionalidade da pessoa. O grau 1 corresponde a uma pessoa que tem características bem leves, às vezes, até imperceptíveis e que não precisam de muito apoio. O grau 2 também tem o aprendizado, o convívio social com dificuldade, mas já apresenta uma necessidade de maior apoio, e o nível 3 são aqueles que precisam de muito apoio, de alguém ao lado, para estar conduzindo as necessidades da pessoa”, explicou.
Marivânia Mota destacou que muitas pessoas consideram que o autista ‘vive no mundo dele’, mas esse pensamento abre um precedente para a exclusão.
“Quando a gente diz que o autista vive no mundo dele já abre um precedente para exclusão. E por muitos anos foi assim, o autista foi deixado, excluído da sociedade por esse pensamento de que o autista vive no mundo dele. Não, a sociedade não tem dado a oportunidade de inseri-lo. Mas hoje precisamos aprender sobre o autismo. Nós que não entendemos o mundo dele, mas temos que socializar. E por isso que em 2007 a ONU estabeleceu esse dia, 2 de abril, para a conscientização, trazer conhecimento para a sociedade e informação”, destacou ao Acorda Cidade a neuropsicóloga, alertando que ainda existem pais e mães que, por medo do sofrimento, afastam os filhos do convívio social.
Diagnóstico
O diagnóstico, segundo Marivânia Mota, é feito quando aparecem as características, mas normalmente se espera para fazê-lo a partir dos 3 anos.
“Entretanto, a partir de 6 meses já podem haver características, como a criança que não olha diretamente a mãe, não responde ao nome quando é chamada, que são características iniciais. Tem outros casos em que a criança tem um desenvolvimento típico até os 2 anos e meio e depois começam a regredir, começam a parar de falar.”
Ela ressaltou que na fase adulta também é possível fazer o diagnóstico.
“Como no nível 1 os traços são leves, às vezes, passam despercebidos, e a criança é tida como uma pessoa tímida, retraída. Ouço muito falar quando chega um adulto para o diagnóstico: ‘Todo mundo me acha estranho e eu mesmo estou me achando estranho. É como se eu não fizesse parte dessa sociedade’. E são esses casos que são diagnosticados na vida adulta.”
Tratamento
O acompanhamento para o autismo varia de acordo com a apresentação do transtorno, conforme elucidou a especialista em neuropsicologia.
“A gente faz a avaliação de onde estão os atrasos, e as intervenções serão diretamente de acordo com as necessidades de cada um. Então tem uns que precisam de medicação para a atenção, agitação, agressividade, tem outros que não precisam de medicamentos, mas necessitam das intervenções terapêuticas. Então, se existe uma hipo ou hipersensibilidade sensorial entra o terapeuta ocupacional, em alteração de fono e fala, entra o fonoaudiólogo, se alteração motora, entra o psicomotricista, se tem alteração comportamental e emocional, entra o psicólogo. E se tem alteração nos aspectos cognitivos de atenção, memória, entra o neuropsicólogo na reabilitação. É um tratamento com vários profissionais, que a gente chama de multidisciplinar ou interdisciplinar, porém de acordo com a necessidade”, explicou.
Autismo X TDAH
Conforme a neuropsicóloga, existem muitas dúvidas atualmente sobre as diferenças entre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
“Existem três tipos de TDAH: o hiperativo, que é aquele muito agitado, a criança impulsiva; o desatento, que é uma criança quieta e não presta atenção nas coisas, e existe o tipo combinado, que é a desatenção com a hiperatividade. A diferença entre o TDAH e o autismo é que no primeiro a dificuldade está associada à desatenção, um problema específico na atenção, que pode afetar o comportamento, tem dificuldade de aprender, e o autismo são as características que já citei. Mas pode acontecer também do autista ter o TDAH”, esclareceu.
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