A busca incessante pelo corpo perfeito, barriga chapada, músculos definidos, controle excessivo da alimentação, rostos sem rugas ou qualquer outro sinal aparente de envelhecimento têm acarretado diversos problemas emocionais em um número cada vez maior de homens e mulheres. Além disso, crianças e adolescentes, podem ao se olharem no espelho se sentirem insatisfeitos e infelizes com a sua imagem, por estarem, ou ainda, se sentirem acima do peso ideal.
Para o psicólogo feirense Alfredo de Moraes, essencialmente, o grande adoecimento de quando se está acima do peso está ligado ao olhar que a pessoa tem sobre si mesmo. Ou seja, aspectos emocionais que a pessoa tem ao engordar, sobre o corpo e principalmente as comparações.
“Hoje a gente vê a contemplação do corpo perfeito, de barriga tanquinho, corpo musculoso, o uso e a venda exacerbada de medicações para emagrecer, para deixar o corpo atlético. E, às vezes, aquela pessoa não tem essa preocupação, mas tem um amigo ou amiga que diz que ela não se cuida, não vai para academia, não vai andar, tem as opiniões dos outros. E os haters da internet, na hora que você coloca uma foto, o amigo ou inimigo, o conhecido comenta sobre seu corpo, sua celulite, a barriga, que não faz a skincare, e isso é algo global, é o que tem causado o adoecimento psíquico”, avaliou o psicólogo.
Alfredo de Moraes revelou que inúmeros clientes no consultório apresentam relatos dessa inconformidade e insatisfação com seu corpo. “O corpo é seu, então você tem que começar a se visualizar com aquilo que você tem. Se você quer melhorar por conta daquilo que você pensa sobre seu corpo é uma boa ideia, mas pelo pensamento do outro não.”
Olhando para si
A autoestima entra no conjunto do que é essa imagem para você, o seu autoconhecimento, frisou o profissional.
“Como é que você se enxerga enquanto pessoa? Como você se enxerga enquanto corpo? Esse corpo que você tem é aquele que te agrada, ou não te agrada porque não agrada o outro. Essa é a grande perspectiva do adoecimento psíquico sobre a obesidade. Você gosta do seu corpo? Sua visão está coadunando com a sua autoestima? Isso faz uma grande diferença. Se você ficar preocupado com o que o outro acha do seu corpo, se a foto vai ser visualizada, se vai ter curtidas suficientes, aí sim você adoece. O olhar do outro é o grande adoecimento.”
No dia a dia do consultório, a procura pela terapia parece estar equilibrada entre homens e mulheres, que fazem parte de uma geração que se cobra demais pela sua aparência.
“A gente vê os exemplos no BBB, as pessoas que a gente visualiza têm um corpo dito ‘perfeito’, mas você não sabe como está a saúde integral dessa pessoa, se tem alguma doença por trás, mas está lá com um corpo desejado, musculoso, que passou a ser desejado por homens e mulheres. E isso tem causado um grande adoecimento, porque nem todo mundo vai ter o tempo necessário, a garra necessária e a intencionalidade para fazer isso. A questão de tempo hoje tem sido escassa, e se torna assim também no construto da saúde. O que é saúde para você? O olhar do outro impede seu crescimento emocional, seja você gordinho, magrinho, barrigudo ou não, porque não são só as pessoas com excesso de peso que têm sofrido, os magros também, e isso que é algo muito novo”, observou Alfredo de Moraes.
Procedimentos
Na visão dele, aquele que está fora do eixo que se naturalizou também sofre.
“O que se naturalizou foi o pernão, o peito musculoso, barriga de tanquinho, e as mulheres também, as ‘body building’, que trabalham o corpo para que ele seja mostrado e utilizam de subterfúgios como a lipoaspiração HD, os chips da beleza, uma musculação exacerbada, inserem inúmeras substâncias para que possa ter esse corpo dito perfeito, mas emocionalmente não está, porque essa é uma busca incessante. Se você não está feliz com o que você tem, vai viver preocupado se usa biquíni, sunga, se está de roupa ou não. Mas o que você tem a acrescentar em nível de pensamento? Você precisa fazer terapia”, enfatizou.
Aceitação
Conforme o psicólogo, é necessário compreender o seu processo de vida e buscar satisfação com o que se tem.
“Quando você está satisfeito com o que você tem, e entende o seu processo de vida, por exemplo, gosta de tomar uma cervejinha no final de semana, ou gosta de comer muita massa, pizza, são escolhas que você faz, e se você está se sentindo bem, está tudo certo. O problema é ter o tempo todo alguém cerceando seus gostos. Eu vejo a quantidade de pessoas hoje que estão praticando corrida, andando de bicicleta, mas estão fazendo por conta da saúde ou pela opinião alheia?”, questiona.
“Se você está fazendo pela sua saúde biológica e mental, porque o exercício libera endorfinas, dopamina, testosterona, todo o bem-estar para que você se veja, goste do seu corpo, aí está bacana, porque você está fazendo isso de uma forma holística. O problema é a busca do outro, que você nem conhece, mas tem uma figura de corpo perfeito. Você quer esse corpo, mas você tem condições, ele vai te satisfazer?”, refletiu.
Alfredo de Moraes frisou ainda que atualmente adolescentes a partir de 12 anos e também na meia idade, entre os 45 e os 50, estão entre as pessoas que mais buscam atendimento. “A pessoa não entende que existe uma beleza para cada idade. E tem vários métodos para se tratar a obesidade, como o autoconhecimento: saber sua rotina, suas limitações, o que está influenciando para que você não tenha essa autoestima bem regulada.”
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram