Após ficar suspensa nos anos de 2021 e 2022, por conta da pandemia da Covid-19, a Caminhada do Perdão realizada pela Arquidiocese de Feira de Santana retornou neste domingo (5), com o tema: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”, pela terceira vez o evento trouxe o tema da fome para o foco das reflexões.
A concentração aconteceu na Igreja dos Capuchinhos e, após a realização de uma missa, a 9ª Caminhada do Perdão foi iniciada com destino à paróquia Senhor do Bonfim, no Alto do Cruzeiro.
O Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Feira de Santana, Dom Itamar Vian, aproveitou a Caminhada para fazer um pronunciamento a Feira de Santana, cidade que lhe adotou como filho.
Dom Itamar demonstrou profundo lamento diante da declaração feita pelo vereador Sandro Fantinel contra a região Nordeste, no dia 28 de fevereiro.
“Eu tenho inclusive o título de cidadão feirense, baiano. E nesta semana, como gaúcho, eu me senti profundamente ofendido e também atacado. Porque um gaúcho agrediu de uma forma bem grosseira a todos nós baianos e nordestinos, mas não só isso, foi profundamente lamentável tomar conhecimento de que no Rio Grande do Sul há pessoas que ainda pegam outros seres humanos para escravizá-los ou realizar trabalhos semelhantes à escravidão. Sendo como for, é um profundo desrespeito a pessoa humana, que além dos seus direitos sociais e políticos, deve ser respeitada como imagem e semelhança de Deus”, disse.
Em entrevista ao Acorda Cidade, o Arcebispo de Feira de Santana, Dom Zanoni explicou que o tempo de quaresma é um tempo forte de oração, penitência e fraternidade, além de ser também um tempo de peregrinação até a Páscoa.
“A igreja de Feira de Santana realiza no segundo domingo da quaresma uma caminhada penitencial, dentro da temática da campanha da fraternidade, que neste ano é “Dai-lhes vós mesmos de comer!”.
O arcebispo também apontou que uma sociedade de paz e justiça pode ser gerada com o propósito de um mundo novo.
“A violência é fruto externo, não faz parte da gênese humana, nem a divisão e a injustiça, mas o amor. Então eu creio que nós podemos gerar uma sociedade de paz e justiça para a construção de um mundo novo. Aqui vemos um sacrifício grande das pessoas, expressando a solidariedade e a preocupação sobretudo com os pobres”, apontou.
Dom Zanoni ressaltou a importância de crescermos no conhecimento de Jesus, buscarmos a reconciliação e a mudança na mentalidade.
“É importante uma conversão necessária, não é só uma conversão social, mas espiritual. É preciso mudar de vida, a nossa mentalidade e participar da construção de um país onde todo o preconceito, todo o racismo estrutural seja superado. Eu achei belíssimo nessa Caminhada, um gaúcho que mora conosco, Dom Itamar, pedir perdão pela mentalidade racista, preconceituosa, escravagista, manifestada por aquele parlamentar em sua terra. É preciso reconciliação e mudança de vida”, orientou.
Renovação da fé
Neste segundo domingo da quaresma, católicos de diferentes paróquias, movidos pela fé, renovaram seus pedidos, entoaram cânticos e clamaram pela paz e pelo fim da violência.
A engenheira eletricista, Thayonara Boaventura, que faz parte do Treinamento de Liderança Cristã (TLC), relatou ao Acorda Cidade que a retomada da Caminhada do Perdão é importante para que as pessoas possam viver em comunidade.
“Nós somos cristãos e devemos trabalhar junto a comunidade. O nosso treinamento de lideranças cristãs nos treina para que a gente possa treinar nas nossas comunidades e também na nossa Arquidioce. Voltar às atividades faz com que possamos trazer mais jovens e mais pessoas para o meio de Cristo”, pontuou.
O perdão é um ato de amor, ressaltou Taionara. “Perdoar é a gente fazer assim como Jesus Cristo fez, é um ato de amor ao próximo. Perdoar independente da mágoa, mas de coração aberto em dar o perdão, até porque quando a gente perdoa o outro é uma libertação não só para o outro, mas para nós também de nos deixar livre daquela dor que nos foi causada e tudo mais”.
Luciene Eliziário, moradora de Conceição do Jacuípe, contou ao Acorda Cidade que todo ano está presente na Caminhada.
“Eu só não participei em um ano. Perdoar para mim significa perdoar o próximo, ter o coração limpo, é um ato de amor”.
O trabalhador rural, Lauro Martins Gomes, disse ao Acorda Cidade que acompanhará a Caminhada até o Alto do Cruzeiro.
“A pandemia veio nos trazer mais coragem, força, ânimo, e foi uma coisa triste ao mesmo tempo, mas nos ensinou a ter coragem para seguirmos. Eu vou até o final, até o Alto do Cruzeiro, só saio quando terminar tudo. Eu assisti a missa, às 7h, com Dom Zanoni Castro e agora estou seguindo na Caminhada, com chuva ou com sol”, assegurou.
A católica, Ana Cristina compartilhou em entrevista ao Acorda Cidade que participar da Caminhada do Perdão é como ‘um reviver’, é um momento de reconciliação e de perdão.
“Já participei de outras Caminhadas, e hoje com grande saudade do nosso Frei Mario Sérgio, tendo a memória dele hoje presente aqui, é essencial fazer essa lembrança de alguém que estava sempre presente e que foi um dos que estavam à frente desta Caminhada para acontecer”, relembrou.
Ana Cristina expôs que a Caminhada ensina muito a aprender com a fé do outro.
“O que mais me chama atenção é a união do próximo, a reflexão do outro. Ver o outro em penitência me ajuda a também viver com ele esse momento, essa Caminhada. Há bons exemplos”, frisou.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
Matéria atualizada às 15:30.
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