Tema recorrente é o uso excessivo das redes sociais e a influência que estas exercem no comportamento das pessoas. Atualmente, destacam-se as influências de ordem política e ideológica, onde tais meios de comunicação são usados com maior facilidade para a transmissão, sem checagem, de todos os tipos de informações e para manipulação das massas.
Destaque-se que as informações que circulam nas redes sociais, em regra, não têm como fonte agências credenciadas de notícias, por conseguinte, sendo desprovidas de qualquer compromisso com a verdade, bastando que seus autores se encontrem diante do teclado de um computador, tablet ou smartphone. Dessa forma, escondendo-se no anonimato para destruírem ou estimularem a destruição de instituições ou a honra de qualquer cidadão. Aliás, encontramo-nos diante de uma onda que vem ganhando força no mundo ocidental tendo como meta prioritária destacar e legitimar a credibilidade das redes sociais em detrimento das agências de notícias tradicionais, onda que vem ganhando força por conta da desinformação ocasionada pela falta de cultura das pessoas em geral, as quais se encontram alheias aos fatos históricos da humanidade e do meio político-social em que vivem.
O fenômeno tende a se agravar e o futuro é sombrio. A nossa geração não é promissora e a médio prazo não se vislumbra nenhuma alternativa eficaz. Este alerta pode ser percebido por qualquer pessoa que possua senso mínimo de observação. Cresce a literatura que trata do tema. Não obstante, seus autores pregam no deserto e as portas somente vão ser fechadas quando os moradores se encontrarem saqueados, nada mais restando a não ser reconstruírem os destroços porventura ainda restauráveis.
Para embasar estas preocupações em dados científicos, destaque-se um dos autores mais credenciados que, constantemente, tem se debruçado sobre o tema, inclusive elaborando diversas pesquisas, as quais podem ser acessadas sucintamente mediante a leitura do livro “A Fábrica de Cretinos Digitais”, de autoria do Neurocientista Michel Desmurget, Diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, o qual aponta o dedo para a indústria de videojogos e redes sociais, tendo chegado à assustadora conclusão mo sentido de que, devido à influência daquelas – mídias sociais, pela primeira vez na história da humanidade, o QI da geração presente é mais baixo que da geração passada.
Afirma o autor referenciado que, “olhar para o digital como progresso pedagógico é uma “treta”’. Na sua visão, as redes sociais estão exercendo entre jovens e crianças uma operação de “descerebração” a uma escala inédita, aproveitando “fraquezas” do cérebro para atrair e prender o mais tempo possível os utilizadores.
Dados estatísticos revelam que, em média, crianças de dois anos de idade passam quase três horas por dia diante das telas; crianças de oito anos a média sobe para cinco horas e, a partir da adolescência, a média é de sete horas diárias, o que significa que, ao atingir a maioridade, dezoito anos no Brasil, o tempo perdido corresponde a trinta anos letivos ou dezesseis anos de trabalho em tempo integral! Lembre-se que, enquanto isso, arremata o Conde D’Oxenstirn – estadista sueco:
“A perda do tempo é a mais irreparável, e a que menos preocupa”.
Mas nem só a perda de tempo preocupa. Os primeiros seis anos de vida infantil correspondem ao chamado período sensível, que é aquele onde ocorre a formação dos pilares constitutivos da personalidade humana, otimizado em razão da plasticidade cerebral.
São pilares constitutivos da nossa identidade o cognitivo, emocional, social e
sanitário.
Nesta oportunidade, atenhamo-nos, apenas, ao elemento cognitivo por ser o relativo ao processo mental de percepção, memória e raciocínio, onde a linguagem surge como essencial para o seu eficaz desenvolvimento. Contudo, encontrando-se a linguagem mutilada pelo uso excessivo das mídias digitais, uma vez que aquela é a pedra angular da humanidade, o que teremos serão adultos com Déficit de linguagem. E a falta de linguagem, conhecimento e cultura torna-se uma ameaça real à democracia. Talvez isso justifique o apoio de eleitores e grupos sociais em países ditos democráticos que, sob o manto de agirem em nome da democracia, apoiam candidatos e governantes que defendem e praticam atos atentatórios ao próprio regime democrático, pregando discursos de viés autoritário, quase sempre propondo o rompimento de sistemas Republicanos e a implantação de Estado unitário como forma de governo.
Enfim, estamos assistindo a uma verdadeira devastação cognitiva.
Não se trata de um artigo político e, menos ainda de natureza ideológica. Mas que pretende concitar o leitor a fazer uma reflexão isenta de qualquer paixão. Afinal, o gigante acorda, mas ainda é tempo de adormecê-lo. E este gigante pode ser cognominado de cegueira cultural deliberada, esta se superando em prepotência e arrogância como estilo de sobrevivência no trato das relações interpessoais.
Os titulares de interesses políticos, que geralmente se confundem com os interesses econômicos, deliberadamente, também se utilizam dos Mercenários do neuromarketing, pessoas sem escrúpulos, sustentadas pela utilização dos aparelhos digitais e, não hesitam, em nome do próprio lucro, ainda alimentar os três maiores assassinos do planeta, quais sejam, tabagismo, alcoolismo e obesidade, usando como instrumento de captação o ‘Tempo de cérebro disponível’ das pessoas. Em outras palavras, a mente vazia que, segundo a sabedoria popular, “É a oficina do diabo”.
Destaque-se que, a única diferença entre a publicidade alimentar, do álcool e do tabaco é que a primeira não se encontra limitada a nenhuma restrição legal. Os anunciantes têm carta branca.
Chris Anderson, ex-editor da revista Wired, diz que numa escala do açúcar à cocaína, as telas estão mais perto da cocaína. À luz do que sabe em termos de efeito cerebral, pode falar-se mesmo de algo comparável a drogas em termos de alienação.
Por conta do quadro político e econômico que se apresenta, a situação torna-se irreversível. Eis que se prolifera mundialmente o “sistema de educação virtual”, em substituição ao presencial, sob a farsa promessa de que os dois sistemas de ensino se equivalem em matéria de aproveitamento e aprendizado, o que também não é verdade.
Pesquisas confirmam o engodo. Ocorre que professores qualificados custa caro e, no sistema de ensino telepresencial, além de mais barato, a contratação de profissionais fica reduzida a cerca de vinte por cento do quadro tradicional de educadores. Isso ocorre com a conivência da própria população e da conveniência dos governantes, consabido que a primeira tende a se conformar com a vaga garantida no sistema de ensino e o certificado no final do curso.
Apontamos dados pesquisados acerca do tema, segundo o autor da obra citada:
Programa MOOC – Massive Open Online Courses (Cursos abertos sobre um dado tema, ministrados pela internet)
Vejamos o Resultado:
Em um curso de microeconomia ministrado pela universidade americana da Pensilvânia de 35.819 inscritos somente 886 candidatos (2,5%) chegaram ao exame final, dos quais, apenas 740 (2,1%) foram aprovados.
Obs.: A taxa de abandono gira em torno de 90-95% – Com picos de 99% para professores mais exigentes.
Conclui o autor que: Infelizmente, está longe de se tratar de um caso isolado.
Decerto, não se trata mesmo de caso isolado.
Este próprio veículo de comunicação – ACORDA CIDADE, edição de 04 de abril de 2022, veiculou matéria do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e do Ministério da Educação (MEC), informando que, entre 2011 e 2021, o número de estudantes em cursos superiores de graduação, na modalidade de educação a distância (EaD), aumentou 474%. No mesmo período, a quantidade de estudantes que ingressaram em cursos presenciais diminuiu 23,4%.
E mais:
Segundo o Inep, que coordena o levantamento dos dados, de 2020 a 2021, o aumento de estudantes nos cursos superiores foi ocasionado, exclusivamente, pela oferta de EaD na rede privada. Nesse período, a modalidade teve um acréscimo de 23,3% (24,2% em instituições privadas), enquanto o ingresso em graduações presenciais caiu 16,5%. Na rede privada, 70,5% dos estudantes, em 2021, ingressaram por meio de cursos remotos.
“O comparativo confirma a tendência de crescimento do ensino a distância ao longo do tempo. Em 2019, pela primeira vez na história, o número de ingressantes em EaD ultrapassou o de estudantes que iniciaram a graduação presencial, no caso das instituições privadas”, explicou o Inep.
Naquela mesma reportagem é preocupante a informação de que, dentre os cursos de licenciatura, prevalece o curso de Pedagogia com quase a metade dos alunos matriculados (47,8%) ou quase 800 mil alunos.
Estes são os educadores que irão se encarregar da formação das gerações futuras. Afinal, o digital é, antes de tudo, um meio de reduzir as despesas educativas. Repita-se: Professor custa caro.
É preciso camuflar o empobrecimento intelectual, eclipsar a realidade.
O ‘Admirável Mundo Novo’ não se tornou realidade mediante técnicas científicas de laboratório, como previsto no Clássico, mas vem, silenciosamente, se realizando por método mais econômico, que é a disseminação manipulada de ideias através das mídias sociais e dos ataques à credibilidade dos meios tradicionais de comunicação. Evidentemente, o tipo de educação recebida, mesmo nas universidades, contribui decisivamente para o quadro atual de desinformação e suas consequências.
Nunisvaldo dos Santos
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