Motoristas que transportam passageiros por aplicativos em Feira de Santana realizaram um protesto pacífico, na manhã desta terça-feira (24), pedindo mais segurança para a classe trabalhadora.
A mobilização ocorreu na Rua Georgina Erisman, na lateral do Terminal Rodoviário, após a morte do colega Marcos Oliveira Sampaio, que desapareceu, na última sexta-feira (20), após aceitar uma corrida para a cidade de Amélia Rodrigues.
O corpo da vítima foi encontrado na noite do último domingo (22), na localidade de São Roque, na zona rural de Amélia Rodrigues, após uma incansável busca feita pelo próprio irmão, Márcio Oliveira Sampaio. E depois a Polícia Militar também esteve no local.
De acordo com os motoristas participantes do protesto, a falta de segurança para quem trabalha por aplicativo é constante.
Segundo o motorista Alex Santos Prazeres, que conhecia Marcos Oliveira Sampaio, caso o colega não aceitasse a corrida, ele poderia ter sido o próximo a aceitar e, portanto, a vítima deste assassinato.
“Eu era colega de Marcos, assim como todos aqui. A gente teve contato com ele, pela última vez, na sexta-feira, por volta das 10h30, quando foi solicitada uma corrida por uma das plataformas, ele de imediato aceitou e saiu em direção aos passageiros. Dessa hora em diante nunca mais retornou. Ele trabalhava com várias plataformas, mas preferia rodar somente por uma. Na segunda-feira tivemos essa notícia desagradável, que o corpo dele foi encontrado em um matagal”, afirmou.
Para ele, é fundamental que haja mais segurança para quem trabalha por aplicativo. “Tanto para mim quanto para outros colegas, a segurança vem em primeiro lugar, tem que ser 24 horas. Ele foi levar o passageiro à luz dia.”
O motorista Ewerton de Oliveira Pereira contou ao Acorda Cidade que há 6 anos transporta passageiros, desde quando começaram os aplicativos na cidade.
“99% das minhas corridas são à noite, de dia praticamente eu não trabalho. Mas o perigo é constante, seja de dia ou à noite. A insegurança é grande. A morte de Marcos Oliveira foi uma tragédia. Como o colega relatou, ele aceitou a corrida porque iria dar para comprar dois quilos de carne. Ele estava sem dinheiro no momento, estava trabalhando, um pai de família, e aconteceu esse fato.”
O motorista também lamentou a falta de informações sobre Luan dos Santos Costa, que também desapareceu no dia 22 de dezembro do ano passado.
“Luan também segue desaparecido. A gente não tem notícias dele, nenhuma atualização, e continua desaparecido. A insegurança é total para a gente. A gente sai para comprar o pão de cada dia e acontecem essas coisas.”
Plataformas falhas
De acordo com o motorista Ewerton de Oliveira Pereira, as plataformas de corridas não oferecem segurança para as pessoas que se cadastram. Na opinião dele, as empresas deveriam implementar um sistema mais eficaz de comprovação da identidade, tanto de quem trabalha quanto dos usuários.
“As plataformas são falhas, a gente sabe disso, e qualquer pessoa pode fazer uma conta. A gente não tem foto, não sabe quem vai embarcar e se é a pessoa verdadeira que está embarcando, e a gente fica a mercê disso tudo. As plataformas deveriam criar um sistema mais seguro, por exemplo, toda vez que você solicitar uma corrida tirar foto para comprovar que é você mesmo, o cartão, que muitas vezes colocam cartões clonados, o sistema verificar se é clonado ou roubado, que já é um indício de que podem fazer mal à gente”, avaliou.
Ele salientou que os próprios motoristas desenvolveram seus mecanismos de filtragens das corridas.
“A gente tenta filtrar bairros, locais de embarque e desembarque de passageiros, só que a gente sabe que isso não é 100% confiável. Muitas vezes vocês pega uma corrida para um bairro distante, que vai morrendo de medo, mas chega sossegado, e pega uma corrida para o centro da cidade e é assaltado. Todo local em Feira é de risco, mas tem uns que são piores. Por exemplo, a gente tem uma média de um assalto por dia, e se você dar uma olhada, 60% desses assaltos são no bairro da Asa Branca, mas o risco é iminente em todos os bairros.”
A presidente do Sindicato dos Condutores Autônomos Cadastrados em Aplicativos no Estado da Bahia (Sincap-Ba), Viviã da Rocha, informou em entrevista ao Acorda Cidade que a cada dia se torna mais difícil trabalhar por conta da violência.
“O clima é de total insegurança. Estamos em luto pela perda do colega e estamos com esperança em relação ao Luan, mas a cada dia se torna mais difícil, e a gente ver o que aconteceu com o Marcos. Eu falo constantemente sobre a segurança, para a gente tomar cuidado, mas nem sempre é possível esse cuidado, porque a gente não sabe quem está carregando. Precisamos que os órgãos de segurança pública busquem a categoria para saber o que precisamos. A violência a gente não vai conseguir acabar, porque é mundialmente, algo global, mas a gente pode conseguir amenizar os danos, porque são pais e mães de famílias que estão morrendo, sendo agredidos, perdendo seus bens, e isso não pode continuar. É uma categoria que luta para trazer seu pão de cada dia”, pontuou Viviã da Rocha.
Segundo ela, o sindicato apresentou projetos e soluções para melhorar a segurança dos motoristas.
“Desde quando eu entrei no Sincap, na época que o colega Rafael foi vítima também, sempre nos colocamos à disposição, procuramos os órgãos, já dissemos sobre possíveis soluções a serem aplicadas, porém sozinhos não temos como fazer isso. Precisamos que os órgãos de segurança pública se unam à gente para que a gente possa aplicar os projetos que a gente tem para a segurança dos motoristas de aplicativo.”
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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