Feira de Santana

Moradores das Baraúnas retomam tradição de “enterrar o ano” após cortejo fúnebre pelas ruas do bairro

Os organizadores escolheram a ‘covid-19’ para ser o personagem que eles irão enviar para a “terra dos pés juntos”.

enterro do ano velho
Foto: Paulo José/Acorda Cidade

Adeus ano velho. Feliz Ano Novo! Neste sábado (31), quando os ponteiros do relógio marcarem a meia-noite em ponto, os moradores do bairro Baraúna, em Feira de Santana, vão sair em cortejo carregando um caixão para, literalmente, enterrar 2022.

O “Enterro do Ano Velho” é uma tradição que já completou 50 anos entre os moradores das Baraúnas. Por conta da pandemia, a festa deixou de ser realizada durante dois anos, sendo retomada agora.

Nesta edição, o cortejo fúnebre vai sair da Baraúna de cima, em direção à Avenida de Canal, à meia-noite em ponto. Os organizadores escolheram a ‘covid-19’ para ser o personagem que eles irão enviar para a “terra dos pés juntos”, debaixo das sete léguas.

É com muita alegria que Givaldo Pereira Abreu, conhecido como Gil da Força Jovem, uma torcida organizada do Fluminense de Feira de Santana, organiza este evento no bairro com uma comissão de moradores.

Em entrevista ao Acorda Cidade, ele relembrou como a festa teve início no bairro e como ela foi se modificando ao longo do tempo, mas sempre mantendo a descontração e o sentimento de união entre as pessoas da comunidade.

“Eu tenho 57 anos e já existia o “Enterro do Ano”, que quem fazia era a famosa Dona Preta. Nós pegávamos uma lona e matos no Campo da Aviação, quando não existiam casas ali, no George Américo, só tinha mato, e a gente ia pegar para botar nas telhas, para quando a meia-noite passar, jogar dentro da lona. É uma tradição, e a gente não pode deixar esquecida. Eu estou organizando desde janeiro até hoje. Tenho 15 pessoas da comunidade que dão esse suporte”, contou Gil da Força Jovem.

Ele relatou que para o evento acontecer é necessário investimento financeiro, para comprar o gelo, a água, as bebidas que serão distribuídas aos participantes e o carro de som. Já o caixão é uma cortesia, e ao final do percurso é queimado, para que, simbolicamente, não sobre nada do ano que passou.

“Já levei o ofício para a polícia, todos os órgãos competentes, já está tudo organizado. Vamos sair à meia-noite em ponto até a Avenida de Canal. Aqui na Baraúna tem pessoas que só vão para as praias, as festas, depois do Enterro do Ano Velho. Esse ano vamos enterrar a covid-19, que está matando muita gente, e perdemos muitos conhecidos, parentes.”

Gil da Força Jovem destacou que mais de 500 pessoas chegam a participar da festa, que é embalada com o som dos tambores da Força Jovem e uma comissão de frente.

“O que não pode faltar no “Enterro do Ano Velho” é o champagne e os amigos, para dar aquele abraço, o aperto de mão. E quem puder ir de branco é bom, mas quem não puder, vai com o que tiver”, frisou.

Pesquisa

O “Enterro do Ano” chamou a atenção este ano de um grupo de pesquisadores do Coletivo Tudo Junto Produções, que documentou todas as informações disponíveis sobre o evento, desde quando começou.

A pesquisadora Flávia Silva, que faz parte do Coletivo, ressaltou que o objetivo do trabalho é manter na memória da comunidade esta tradição cultural.

“Por que não colocar no papel? As histórias só se perpetuam a partir do momento que a gente consegue registrar. Então conseguimos documentar a partir das falas das pessoas que fizeram a festa, conseguimos que Dona Preta, que foi a primeira pessoa que trouxe a festa, a idealizadora, participasse da pesquisa e ela trouxe várias coisas, como por exemplo, a festa começou com a lona branca, as folhas, mas tinha a tradição de as pessoas reunirem na parte da Baraúna de cima, como todos conhecem, e traziam os comes e bebes, acontecia assim. Depois, com o tempo, Dona Preta teve que viajar e outra pessoa ficou na organização, e pensou: ‘por que não colocar um caixão? E a gente vai estar enterrando literalmente o ano’. Foi a partir deste momento que mudou da lona e das folhas para um caixão e um personagem. Este ano o personagem será a covid, mas já teve várias personalidades, times de futebol, políticos, tudo que se imaginar”, revelou a pesquisadora.

Os moradores do distrito Bonfim de Feira também costumavam realizar o “Enterro do Ano Velho”.

Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade.

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