Saúde dos olhos

Dia do Ceratocone: oftalmologista aponta os perigos da doença

O pai do jovem Thiago, que tem ceratocone, contou os desafios para conseguir arcar com o tratamento do filho.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

O Dia Mundial do Ceratocone, é celebrado nesta quinta-feira (10), a data comemorativa foi criada em 2016 pela National Keratoconus Foundation (NKCF) com o objetivo principal de conscientizar e informar sobre o ceratocone, doença que atinge 1 a cada 2.000 pessoas, conforme dados do Ministério da Saúde.

O médico oftalmologista, Dr. Pedro Gantois, explicou ao Acorda Cidade que o ceratocone é uma doença na córnea.

“É uma membrana transparente que quando a pessoa nasce com esta doença, a membrana vai deformando. Isso provoca uma perda da visão de forma progressiva, e se não for tratado pode levar até a um transplante de córnea,” descreveu.

Os principais sinais da doença, segundo o Dr. Pedro, é o aumento do grau e a coceira.

“Quando a pessoa tem o ceratocone ela vai percebendo que a visão vai piorando rápido demais, e que a mudança no grau dos óculos vai ocorrendo muito mais rápido do que naturalmente observamos. Há um aumento do astigmatismo, da miopia. O paciente geralmente tem muita coceira nos olhos e isso tudo faz com que o profissional, oftalmologista que esteja atendendo esse paciente, desconfie desta doença, e peça os exames necessários. Ao identificar que se tem a doença, será analisado o estágio que se encontra a doença para que seja indicado o tratamento adequado,” explicou.

O público que o ceratocone normalmente se manifesta são em crianças, pré-adolescente e adultos jovens.

“Quanto mais cedo o ceratocone se manifestar, mais agressivo ele tende a ser. E o mais rápido tem que ser o tratamento,” disse o médico.

Estágios

Segundo o oftalmologista, o ceratocone possui quatro estágios.

“O estágio inicial que a gente chama de estágio um, no qual a gente observa se está havendo a evolução. O estágio dois que a depender da idade tem que ser feito um tratamento a base de laser e crosslinking. O estágio três pode necessitar de um implante de anéis intracorneanos e o tratamento de crosslinking para que juntos tenham uma atuação em cima dessa doença, evitando que ela vá para o estágio quatro. E o estágio quatro é o transplante,” explicou.

Ainda de acordo com o especialista, o ceratacone nasce com a pessoa, não é uma doença que se contrai.

“O paciente já tem geneticamente o quadro que vai desenvolver. E quanto mais agressiva essa doença é, mais cedo ela se manifesta. Tem pacientes que a doença só se manifesta a partir dos 25 anos. Ultimamente, após a pandemia, na qual as pessoas foram obrigadas a ficarem dentro de casa, as aulas foram on-line através de computador, celular, tablets, e isso fez com que essas crianças e jovens ficassem muitas horas seguidas nesses dispositivos e muitas não puderam ir a rua para tomar sol, brincar no sol, que é bom para a córnea tomar sol, e isso aumentou um pouco mais o número de pacientes que coçavam mais os olhos, fazendo com que a doença virasse a chave para evoluir mais rápido. Porque quanto mais você fica no celular, no tablet, e quanto mais você coça os olhos, mais rápido a doença evolui e se manifesta,” detalhou.

Transplante

O oftalmologista, Dr. Pedro Gantois recomenda aos pacientes que façam de tudo para evitar o estágio quatro, do transplante.

“O transplante é como se fosse a última flecha do arco. O transplante é sujeito a rejeição, a complicações de uma cirurgia grande e invasiva, como uma infecção. Então é bom evitar chegar ao estágio quatro. Se puder evitar, melhor para o paciente, mas se tiver que fazer o tratamento cirúrgico é esperar que tudo dê certo. Hoje em dia as técnicas de transplante têm se aprimorado bastante, temos excelência em resultados, mas às vezes os transplantes não duram para o resto da vida, em alguns anos eles precisam ser trocados,” evidenciou.

De acordo com o especialista, a doença não tem cura, mas tem controle.

“Geralmente no sexo masculino até os 40 anos a doença pode evoluir, depois disso ela tende a estacionar. No sexo feminino, devido as alterações hormonais típicas, eu já vi pacientes com 42, 45 anos a doença evoluir e depois estacionar. O importante é descobrir e tratar o mais cedo possível da forma adequada, e principalmente não coçar os olhos, nunca. ninguém deve coçar os olhos, com ou sem ceratocone,” frisou.

Hoje temos aparelhos mais evoluídos que ajudam a identificar a doença cada vez mais cedo. Porém, o tratamento não é barato, conforme informou ao Acorda Cidade o oftalmologista.

“Alguns convênios cobrem esse tipo o tratamento. O SUS também cobre, porém a fila é muito grande e às vezes não dá tempo de você esperar. O ceratocone é progressivo, então imagine você ficar na fila à espera de um tratamento com o laser crosslinking ou de um tratamento de implantes de anéis intracorneanos. De repente quando chegar a sua vez já evoluiu demais e não dá tempo, aí você terá que ir para outra fila que é a fila do transplante. Então o grande problema do SUS é a fila. Existem lugares no Brasil que essa fila anda mais rápido, como em São Paulo, Belo Horizonte, No Hospital das Clínicas em Salvador, eles fazem verdadeiros milagres. Mas infelizmente, pelo SUS é mais demorado”, disse.

O uso de dispositivos eletrônicos por pessoas que possuem a doença pode acelerar o desenvolvimento do ceratocone.

“O uso desenfreado do eletrônico pode fazer com que a doença apareça mais rápido em quem já tem predisposição à doença. O uso dos diapositivos fazem com que a doença apareça e evolua mais rápido,” relatou o médico.

Prevenção

Conforme orientou o oftalmologista Pedro Gantois, é importante fazer avaliações com frequência com o especialista.

“Se houver necessidade, a cada 6 meses, pelo menos ou uma vez por ano. Quem já tem a doença diagnosticada é importante realizar consultas de três a quatro meses e, principalmente, não abusar dos eletrônicos e não coçar os olhos,” ressaltou.

O estudante Thiago Garcia, 15 anos, possui ceratocone, e há dois anos começou a perceber que não estava conseguindo enxergar bem.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Eu tento não pensar sobre isso, porque eu posso ter pensamentos negativos, por isso, não gosto de pensar. É difícil para o meu pai e para a minha mãe conseguir o dinheiro. Também não é fácil ver uma mãe e um pai chorando, ninguém gosta. Eu enxergo turvo, embaçado. De longe é bem difícil. Com o olho direito eu não enxergo nada. Já cheguei a coçar muito os olhos, antes pensaram que era miopia, e hoje sabemos que é essa doença que eu tenho,” relatou.

O pai de Thiago, José Roberto de Jesus, 46 anos, pedreiro, disse ao Acorda Cidade que não possui recursos para arcar com o tratamento do seu filho e que está contando com a ajuda de amigos.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Meu filho não tem condições de esperar pelo SUS. O médico disse que se não cuidarmos, meu filho pode ir até para o transplante. Graças a Deus eu fiz uma campanha com meus amigos, consegui uma parte, mas o médico disse que é outro valor, e a gente vai chegar aos amigos de novo, fazer outra campanha e tentar conseguir esse dinheiro. O médico acabou de dizer que os dois anéis para colocar nos olhos do meu filho vai custar R$ 12.400. A gente não tem recursos, eu trabalho todo dia, graças a Deus, eu não paro, Jesus me dá essa força… Meus amigos me ajudaram e o valor do primeiro anel eu já consegui, e agora tem o segundo anel, para o outro olho e o médico disse que não pode passar de dois meses. E colocando esses anéis meu filho vai ter que tomar sol por 40 minutos durante seis meses, e vamos ter que comprar um remédio que só quatro farmácias aqui de Feira fazem,” comentou o pai abalado.

As informações são do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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