O comentarista político e médico César Oliveira, que participou da cobertura ao vivo do Acorda Cidade, durante o segundo turno das eleições, pela Rádio Sociedade News FM, avaliou a vitória do candidato Luís Inácio Lula da Silva, neste domingo (30). O ex-presidente obteve mais de 60 milhões de votos válidos (50,90%), enquanto o atual presidente Jair Bolsonaro teve pouco mais de 58 milhões (49,10%).
Em entrevista ao Acorda Cidade, César Oliveira relembrou que a eleição foi marcada pela polarização e em clima muito conflituoso.
“O que nós temos que esperar agora do presidente Lula, vitorioso com uma margem de mais de 2 milhões de votos, que não é uma margem muito grande, mostrando que ainda há um país dividido, com uma diferença muito pequena entre um lado e outro, e portanto ainda em conflito eleitoral, em que as partes estão equilibradas, e que portanto vamos ter um congresso mais conservador, então vamos precisar que o presidente Lula tenha sabedoria, a maturidade e a experiência de não fazer um governo em que fique magoado pelas coisas que já lhe aconteceram, mas use a sua experiência de vida para construir um governo, em que nós possamos, se não resolver totalmente, mas pacificar ou permitir uma convivência melhor das partes que hoje estão tão divididas”, avaliou.
Segundo o comentarista político, o Brasil precisa de união em torno de um projeto para resgatar suas condições administrativas, que não são boas, para resgatar a imensa dívida social e dar ao brasileiro uma vida melhor.
“Precisamos que o Congresso esteja preparado para isso, que o presidente trabalhe por isso e consiga sair dessa disputa eleitoral com um resultado realmente positivo. Quando a gente olha, a gente vê que embora Bolsonaro tenha contra si a mídia tradicional, uma parte significativa do Judiciário, artistas, apesar de tudo isso, ele manteve uma eleição com 50% dos votos e isso significa que há uma parte do Brasil que estava disposta a se manter ligada a esse movimento mais conservador”, informou.
Para César Oliveira, o que faltou a Jair Bolsonaro, que na opinião dele acabou se tornando o maior cabo eleitoral de Lula, foi a empatia na pandemia.
“Ele ofereceu ao adversário o discurso que ele precisava para desconstruir a sua imagem. No momento em que ele foi tão bizarro na resposta à pandemia, ele criou esse estigma de que era um genocida. Isso afetou muitas pessoas, que viram na doença, a morte, algo muito doloroso. Então Bolsonaro ofereceu ao adversário o discurso que ele precisava, pois faltou empatia, um controle maior do que falava, das ações dos seus filhos, de modo geral sempre desastrosas, e esses fatores associados fizeram com que Bolsonaro fosse desgastado e significativa parte dos brasileiros votasse de novo no PT, que também sofre um forte sentimento de rejeição, não porque desejavam o PT de volta, mas porque precisavam ou tinham a vontade de se ver livre de Bolsonaro. Então ele serviu como grande cabo eleitoral para a ressurreição do Lula”, afirmou.
Em relação à disputa eleitoral para o governo do estado, a vitória de Jerônimo Rodrigues (PT) deixou evidente o trabalho de grupo e o fato de que Lula está no imaginário e memória afetiva dos baianos.
“Quando a gente coloca alguém no nosso imaginário, tem muita dificuldade de se libertar desse sentimento. Então Lula está no imaginário do baiano. Mas a mensagem que fica é que quase 20% dos votos que ACM teve foram votos casados com Lula, mostrando que boa parte do eleitorado aprova Lula, mas tinha um certo desencanto com o exercício do PT na Bahia. Eu acho que isso é uma lição para o partido, que fica para orientar e direcionar as ações do partido na Bahia. E o apoio que o ACM Neto conseguiu sozinho, mostra que a Bahia espera mais do governo do estado, da ação do partido do governo na Bahia”, opinou.
O advogado Thiago Fonseca, que também participou da cobertura ao vivo das eleições pelo Acorda Cidade, explicou que o resultado da disputa para presidente e governador do estado da Bahia corroborou os percentuais divulgados nas pesquisas.
“Fazendo uma análise das eleições, se concretizou o que as pesquisas vinham mais ou menos definindo. No cenário nacional o presidente Lula mantinha uma leve vantagem até a quinta ou sexta-feira, com exceção do sábado, que os institutos Datafolha e IPEC colocaram os dois candidatos tecnicamente empatados, e isso já configurava ali que quem ganhasse iria ganhar com uma margem muito apertada, diferente das pesquisas na Bahia, que o jornal A Tarde divulgava que o candidato Jerônimo Rodrigues com um percentual de 3 a 4% de vantagem em relação a ACM Neto. Esse percentual também se concretizou, tanto que mais ou menos com 96% das urnas apuradas, matematicamente, como o Acorda Cidade e a Rádio Sociedade antecipou, o candidato Jerônimo Rodrigues já estava eleito pelo TRE, mesmo faltando 4% das urnas para serem apuradas”, disse.
Ele destacou ainda que o resultado das urnas deixou como legado e que os dados precisam ser melhor analisados pelas campanhas.
“Ficam os legados e os recados que as urnas dão principalmente aos políticos que participaram desta eleição, que há alguns dados que precisam ser analisados pelas campanhas, pelas coordenações, é que em que pese o candidato Jerônimo Rodrigues ter sido eleito, o candidato ACM Neto ganhou nos cinco maiores colégios eleitorais da Bahia, que foram Salvador com 64% e Jerônimo Rodrigues 35%, em Feira de Santana, que é o segundo maior colégio eleitoral, foram 58 a 41, Vitória da Conquista, 59 a 40, em Camaçari 57 a 52 e Juazeiro 52 a 57”, concluiu.
Com informações da jornalista Maylla Nunes do Acorda Cidade.
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